Ladrão, bandido”.
O empresário Marcelo Odebrecht, herdeiro do grupo que leva seu sobrenome, deixou a carceragem da Superintendência da Polícia Federal de Curitiba nesta terça-feira (19) para cumprir dois anos e meio de prisão domiciliar em regime fechado, benefício previsto no acordo de delação premiada que assinou com o Ministério Público Federal.
Pouco antes das 10h, ele seguiu em uma viatura da PF direto para a Justiça Federal, onde teve audiência com a juíza federal substituta Carolina Lebbos, responsável por observar a execução da pena do empreiteiro. Ela deu informações sobre as regras da prisão domiciliar, ele assinou documentos e colocou tornozeleira eletrônica.
Marcelo pagará R$ 149 mensais à Justiça Federal de uma taxa de manutenção do equipamento de monitoramento e se comprometeu a manter o aparelho com a bateria carregada 24 horas.
Após sair do prédio da Justiça, às 12h40, Marcelo passou a contar com um esquema preparado pela Odebrecht para despistar a imprensa. O carro com o empreiteiro seguiu para o Aeroporto de Ba- cacheri, na capital paranaense, onde um avião fretado o esperava. Havia, porém, a possibilidade de decolar do Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais. Além disso, foram compradas passagens aéreas no nome de Marcelo Odebrecht em voos comerciais.
Em São Paulo, o mistério continuou. Era esperado que o avião com Marcelo pousasse no Aeroporto de Congonhas ou de Guarulhos, mas o empreiteiro desembarcou em um aeroporto em Jundiaí, distante 66 km do bairro onde ele mora, em São Paulo. Marcelo seguiu de carro em direção à sua casa, já que não ha- via local para pouso de um helicóptero no condomínio onde mora e o heliponto do prédio da Odebrecht, no bairro vizinho do Butantã, está desativado.
Pelo menos dois carros da Odebrecht com vidros escurecidos entraram e saíram do condomínio para testar o comportamento dos fotógrafos e repórteres. O primeiro, um Kia Carenz preto com vidros escurecidos, parou na portaria e foi alvo das câmeras. Ninguém estava no banco de trás. O carro saiu minutos depois.
Mais tarde, outro carro, dessa vez um Dodge Journey dourado, também com pelí- cula escura nos vidros, fez o mesmo. Um Toyota Corolla circulou várias vezes na frente do condomínio para observar o comportamento dos jornalistas. Às 15h56, enfim, Marcelo Odebrecht entrou no condomínio onde mora. Estava no banco de trás do Kia Carenz preto. OPÇÃO EXISTENCIAL Ainda em Curitiba, o advogado de Marcelo, Nabor Bulhões, disse que o empresário relatava a vontade de voltar a conviver com a família e que agora continuará colaborando com as investigações, como prevê seu acordo de delação premiada.
Ele poderá manter contato com 15 pessoas. Os nomes devem ser apresentados por Odebrecht à Justiça e submetidos ao Ministério Público. Segundo o advogado, a relação de pessoas é sigilosa. “Marcelo, a partir do momento em que resolveu, como opção existencial, colaborar, ele se preocupou basicamente com duas coisas: com a progressão de regime, para voltar ao convívio familiar, e em tornar efetiva a sua colaboração”, disse Bulhões.
Apenas uma pessoa foi até o prédio da Justiça Federal para protestar. Uma bibliotecária de 53 anos que gritava: “Sem vergonha, vagabundo, PRISÃO DOMICILIAR Nos dois anos e meio em que passará em prisão domiciliar no regime fechado, Marcelo Odebrecht terá direito a duas saídas —uma para ir à formatura do ensino superior de uma filha, em 2018.
Após o cumprimento da pena domiciliar, Marcelo passará para o regime semiaberto diferenciado, com recolhimento domiciliar noturno e nos fins de semana e feriados. Em dezembro de 2022, o empresário ficará outros dois anos e meio em regime aberto. O executivo foi preso pela Lava Jato em 19 de junho de 2015.