Folha de S.Paulo

Mercado Hirota faz cartilha contra casamento gay e papel das mulheres

Panfleto causou indignação em redes sociais; empresa pede desculpas e nega preconceit­o

- MARIANA ZYLBERKAN

DE SÃO PAULO

Em meio aos folhetos de promoção, a rede de supermerca­dos Hirota distribuiu em São Paulo uma cartilha “da família” na qual condena a união homossexua­l, o sexo antes do casamento, o aborto e o protagonis­mo da mulher nas relações.

O folheto, impresso para comemorar o Dia da Família, no último dia 8, causou furor nas redes sociais por discorrer, com base em passagens bíblicas, sobre “os pilares do casamento”, “esposa submissa ao marido” e “aborto, um crime hediondo”.

Entre os trechos compartilh­ados que mais causaram indignação está o que classifica a união entre pessoas do mesmo sexo como “antinatura­l, um erro, uma paixão infame, uma distorção de criação”.

Indignados, clientes usaram as redes sociais para protestar. Os posts mais recentes publicados na página do supermerca­do para divulgar ofertas e receitas de Natal receberam comentário­s contrários ao conteúdo da cartilha.

“A ceia pode ser pedida por qualquer tipo de família ou quem tem paixão infame não pode?”, quis saber um cliente. “Qual o horário de funcioname­nto do respeito às pessoas?”, perguntou outro.

A cartilha diz que sexo antes do casamento é “fornicação” e emenda: “Se antes do casamento o sexo é proibido, no casamento é ordenado”.

Nas páginas seguintes há trechos como “a submissão da mulher a seu marido é sua liberdade” e “o aborto é transforma­r o ventre materno, o mais sagrado habitat humano, num patíbulo de tortura”.

Como a tiragem foi pequena (a empresa não soube especifica­r a quantidade), a cartilha se esgotou em poucos dias. A reportagem esteve em uma unidade na Vila Madalena e foi informada que o material havia acabado —no lugar, foi oferecida uma revista com promoções de Natal.

A movimentaç­ão fez a empresa publicar na tarde desta TRECHO DA CARTILHA NOTA DO SUPERMERCA­DO HIROTA terça (19) uma nota de retratação em sua página, em que pede desculpas e esclarece que “em momento algum tivemos a intenção de polemizar, ofender ou discrimina­r qualquer forma de amor”. “Em nossos valores”, completa a rede de supermerca­dos, “não há nenhum tipo de preconceit­o em relação a gênero, religião ou raça”.

A página também foi alvo do tradiciona­l “vomitaço”, em que emojis vomitando uma gosma verde são publicados repetidame­nte nos comentário­s. Com 26 lojas na capital e no ABC, a rede de supermerca­dos anunciou no ano passado a expansão do negócio ao abrir unidades nos moldes de lojas de conveniênc­ia comuns no Japão. IGREJA A família proprietár­ia da rede é conhecida por suas ações voltadas às igrejas dos bairros de suas lojas. O texto teria sido proposto por um integrante de uma igreja presbiteri­ana para comemorar o Dia da Família. Em apoio, a empresa decidiu imprimir os folhetos e distribuí-los nos supermerca­dos.

A importador­a japonesa Daiso, que tem expandido suas lojas por São Paulo, também publicou retratação por ter parceria comercial com os supermerca­dos Hirota. “Não concordamo­s com nenhum tipo de discrimina­ção, seja ela de qualquer natureza, deixando claro que também não partilhamo­s com pronunciam­entos ou materiais ofensivos”, publicou em sua página em rede social.

Se antes do casamento o sexo é proibido, no casamento é ordenado Em momento algum tivemos a intenção de polemizar, ofender ou discrimina­r

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Kevin David/A7 Press/Folhapress Entrada da unidade do Hirota na avenida Paulista, em São Paulo; mercado distribuiu cartilha contra casamento gay
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Reprodução Páginas da cartilha distribuíd­a em lojas da rede Hirota

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