Vamos falar de exploração sexual infantil?
No fim do ano passado, fui convidada pelo filantropo Elie Horn para criar e estar à frente do Instituto Liberta, que tem como foco o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil. À época, lhe fiz a mesma pergunta que impreterivelmente me fazem: “Com tantas mazelas sociais, por que o senhor escolheu esse tema?”
E ele me deu duas respostas, uma ligada à sua convicção religiosa: “Porque Deus me deu essa missão”; e outra à sua sensibilidade social: “Porque ninguém fala do assunto”. Interessa-me discutir a segunda.
Após um ano de peregrinação falando do tema, constatei que ele tinha razão. Há uma ignorância total sobre a questão. Primeiro, porque as pessoas confundem abuso com exploração sexual. O abuso, que se dá normalmente na relação intrafamiliar, ou com pessoas conhecidas, no qual a criança é submetida a atos sexuais, é diferente da exploração, na qual o sexo é pago.
Não obrigatoriamente em dinheiro, mas em qualquer coisa, como comida, roupa ou mesmo uma carona. A primeira situação é conhecida e gera indignação social, afinal, há uma vítima e um crime terrível. No segundo, como em muitos casos a menina ou menino acha que está “escolhendo” fazer isso, a violência não é imediatamente percebida pela maioria das pessoas, que nem mesmo enxerga o ato como criminoso. A figura da vítima some.
Ao jogar luz sobre a questão e contar que são cerca de 500 mil meninas e meninos explorados sexualmente no Brasil, a maioria deles entre 7 e 14 anos, queremos descortinar uma nuvem de fumaça que encobre essa práxis tão naturalizada por aqui. Afinal, como não se incomodar com esses dados?
A resposta para tamanha naturalização da prática no país talvez esteja em parte no estudo realizado pela Ecpat (ONG internacional de combate à exploração sexual), publicado no ano de 2016, sobre turismo sexual no mundo (esclareça-se que o turismo sexual é só recorte da exploração sexual, que se dá de diversas outras formas).
Ao analisar a situação na América Latina, uma das conclusões é que o machismo ainda imperante, que vê a mulher como objeto sexual, é um dos entraves para o enfrentamento desse crime. Acredita-se que, de cada dez explorados sexualmente, oito sejam meninas. Portanto, estamos falando também de uma questão de gênero.
Há dois outros dados importantes conexos ao tema: o Brasil é o quarto país do mundo em número de casamentos infantis e, apesar de podermos comemorar a queda nos índices de natalidade, temos que lamentar que ela permanece alta e estável entre meninas de 10 a 14 anos.
Nas minhas andanças, costumo enfatizar que a exploração sexual de crianças e adolescentes é uma grande violação de direitos humanos, na medida em que impede o desenvolvimento normal e integral dessas pessoas. Mas o argumento da dignidade humana, infelizmente, não comove a todos.
Então, temos outro argumento bem pragmático, que é o enorme custo social de fecharmos os olhos para essa situação. Afinal, essas meninas engravidam precocemente, adquirem doenças sexualmente transmissíveis e, em muitos casos, se envolvem com álcool e drogas. Mas, sobretudo, abandonam a escola. Ou seja, um ciclo de miséria que se perpetua, pois além de elas interromperem os estudos e não se capacitarem profissionalmente, seus filhos nascem sem a menor condição ou estrutura familiar, vindo, em muitos casos, parar no colo do Estado.
A primeira missão do instituto é fazer o Brasil falar sobre o assunto. Enquanto a exploração sexual de crianças e adolescentes não for um problema, não vai haver solução. LUCIANA TEMER,
Depois de 222 conduções coercitivas na Lava Jato, entre as quais o espetáculo midiático arrumado para Lula, essa instituição já cumpriu seu objetivo e pode ser dispensada. Assim, Gilmar livra futuramente seus aliados desse incômodo desgaste.
EVALDO GÂNDARA BARCELLOS
Paulo Maluf O caso lembra aos mais antigos a esperança da nação na Constituição de 1988 (“Fachin determina que Maluf vá para a prisão”, “Poder”, 20/12). Traria ela a possibilidade de combate a velhas oligarquias e à corrupção já existente, mas não tão declarada e pública. Surgiam “líderes” populares defendendo a ética e o combate à corrupção das elites. Passados 30 anos, constatamos que aquelas lideranças foram absorvidas pelo sistema, aliando-se, inclusive, a Maluf e Sarney tanto nas práticas políticas como nas não republicanas.
LUÍS MARIO D’TOMAS TOMMASI
A ordem para que Maluf comece a cumprir pena em regime fechado com certeza é legal, mas nem por isso deixa de ser ridícula. Não vejo muita finalidade em se colocar um homem de 86 anos de idade na cadeia. Melhor seria que ele e sua família fossem obrigados a devolver os milhões desviados, acrescidos dos juros bancários vigentes e referentes ao período do desvio. Aliás, sugeriria essa mesma prática para todos os envolvidos em corrupção, de qualquer idade.
GUSTAVO A. J. AMARANTE
Excelentíssimo doutor Gilmar Mendes, preste atenção ao fato de a Constituição brasileira ter 30 anos. Os tempos são outros. Está aí a prisão de Maluf, que demorou esse vergonhoso tempo pela ação de seus advogados que, apoiados nas entrelinhas, quase conseguiram deixar escapar o símbolo da corrupção nacional. Levando em conta as minúcias da Carta Magna, ninguém seria preso. Basta contratar um advogado malandro e com uma boa lupa que só haverá benesses para os bandidos.
GERALDO SIFFERT JUNIOR
LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - Planos de saúde Sobre a entrevista de Helton Freitas (“Plano de saúde popular deveria voltar ao debate”, “Cotidiano” 20/12), a Anab esclarece que a contratação das administradoras de benefícios sempre foi opcional, tal qual estabelece a legislação vigente, e contribui para facilitar o acesso de brasileiros à saúde suplementar, aumentar o poder de negociação dos consumidores através do “pool” de compra, reduzir custos, combater reajustes abusivos e garantir adimplência do setor. Não por acaso, as mais renomadas empresas e entidades de classe do país optam por ter ao seu lado administradoras de benefícios na gestão de seus contratos coletivos junto às operadoras de planos de saúde.
ALESSANDRO ACAYABA DE TOLEDO, de Benefícios (São Paulo, SP)
Ao seu tempo As reportagens sobre idosos estão lindas, pois a qualidade de cada entrevistado é impressionante (“Em cidades pequenas, somente 5% dos idosos costumam ir ao cinema”, “Ilustrada”, 20/12). Realmente deve ser horrível, em cidades pequenas, idosos não poderem frequentar cinemas ou outros eventos culturais em razão das distâncias. Tenho 68 anos e vou ao cinema todas as sextas-feiras. O ruim é quando sou apenas eu naquela sala imensa.
TEREZINHA DIAS ROCHA, Voluntários de São Paulo (SP)
Boas-festas A Folha agradece e retribui os votos de boas-festas recebidos de Dimas Eduardo Ramalho, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (SP), da FSB Comunicação (São Paulo, SP), da assessoria de imprensa da Câmara Municipal de São Carlos (SP), do Ateliê Editorial (Cotia, SP), de Claudir José Mandelli (Tupã, SP), da Fatho Comunicação (São Paulo, SP), de Luca Angelone , do Consulado da Itália (São Paulo, SP) e de