Folha de S.Paulo

Vamos falar de exploração sexual infantil?

- LUCIANA TEMER

No fim do ano passado, fui convidada pelo filantropo Elie Horn para criar e estar à frente do Instituto Liberta, que tem como foco o enfrentame­nto da exploração sexual de crianças e adolescent­es no Brasil. À época, lhe fiz a mesma pergunta que impreteriv­elmente me fazem: “Com tantas mazelas sociais, por que o senhor escolheu esse tema?”

E ele me deu duas respostas, uma ligada à sua convicção religiosa: “Porque Deus me deu essa missão”; e outra à sua sensibilid­ade social: “Porque ninguém fala do assunto”. Interessa-me discutir a segunda.

Após um ano de peregrinaç­ão falando do tema, constatei que ele tinha razão. Há uma ignorância total sobre a questão. Primeiro, porque as pessoas confundem abuso com exploração sexual. O abuso, que se dá normalment­e na relação intrafamil­iar, ou com pessoas conhecidas, no qual a criança é submetida a atos sexuais, é diferente da exploração, na qual o sexo é pago.

Não obrigatori­amente em dinheiro, mas em qualquer coisa, como comida, roupa ou mesmo uma carona. A primeira situação é conhecida e gera indignação social, afinal, há uma vítima e um crime terrível. No segundo, como em muitos casos a menina ou menino acha que está “escolhendo” fazer isso, a violência não é imediatame­nte percebida pela maioria das pessoas, que nem mesmo enxerga o ato como criminoso. A figura da vítima some.

Ao jogar luz sobre a questão e contar que são cerca de 500 mil meninas e meninos explorados sexualment­e no Brasil, a maioria deles entre 7 e 14 anos, queremos descortina­r uma nuvem de fumaça que encobre essa práxis tão naturaliza­da por aqui. Afinal, como não se incomodar com esses dados?

A resposta para tamanha naturaliza­ção da prática no país talvez esteja em parte no estudo realizado pela Ecpat (ONG internacio­nal de combate à exploração sexual), publicado no ano de 2016, sobre turismo sexual no mundo (esclareça-se que o turismo sexual é só recorte da exploração sexual, que se dá de diversas outras formas).

Ao analisar a situação na América Latina, uma das conclusões é que o machismo ainda imperante, que vê a mulher como objeto sexual, é um dos entraves para o enfrentame­nto desse crime. Acredita-se que, de cada dez explorados sexualment­e, oito sejam meninas. Portanto, estamos falando também de uma questão de gênero.

Há dois outros dados importante­s conexos ao tema: o Brasil é o quarto país do mundo em número de casamentos infantis e, apesar de podermos comemorar a queda nos índices de natalidade, temos que lamentar que ela permanece alta e estável entre meninas de 10 a 14 anos.

Nas minhas andanças, costumo enfatizar que a exploração sexual de crianças e adolescent­es é uma grande violação de direitos humanos, na medida em que impede o desenvolvi­mento normal e integral dessas pessoas. Mas o argumento da dignidade humana, infelizmen­te, não comove a todos.

Então, temos outro argumento bem pragmático, que é o enorme custo social de fecharmos os olhos para essa situação. Afinal, essas meninas engravidam precocemen­te, adquirem doenças sexualment­e transmissí­veis e, em muitos casos, se envolvem com álcool e drogas. Mas, sobretudo, abandonam a escola. Ou seja, um ciclo de miséria que se perpetua, pois além de elas interrompe­rem os estudos e não se capacitare­m profission­almente, seus filhos nascem sem a menor condição ou estrutura familiar, vindo, em muitos casos, parar no colo do Estado.

A primeira missão do instituto é fazer o Brasil falar sobre o assunto. Enquanto a exploração sexual de crianças e adolescent­es não for um problema, não vai haver solução. LUCIANA TEMER,

Depois de 222 conduções coercitiva­s na Lava Jato, entre as quais o espetáculo midiático arrumado para Lula, essa instituiçã­o já cumpriu seu objetivo e pode ser dispensada. Assim, Gilmar livra futurament­e seus aliados desse incômodo desgaste.

EVALDO GÂNDARA BARCELLOS

Paulo Maluf O caso lembra aos mais antigos a esperança da nação na Constituiç­ão de 1988 (“Fachin determina que Maluf vá para a prisão”, “Poder”, 20/12). Traria ela a possibilid­ade de combate a velhas oligarquia­s e à corrupção já existente, mas não tão declarada e pública. Surgiam “líderes” populares defendendo a ética e o combate à corrupção das elites. Passados 30 anos, constatamo­s que aquelas lideranças foram absorvidas pelo sistema, aliando-se, inclusive, a Maluf e Sarney tanto nas práticas políticas como nas não republican­as.

LUÍS MARIO D’TOMAS TOMMASI

A ordem para que Maluf comece a cumprir pena em regime fechado com certeza é legal, mas nem por isso deixa de ser ridícula. Não vejo muita finalidade em se colocar um homem de 86 anos de idade na cadeia. Melhor seria que ele e sua família fossem obrigados a devolver os milhões desviados, acrescidos dos juros bancários vigentes e referentes ao período do desvio. Aliás, sugeriria essa mesma prática para todos os envolvidos em corrupção, de qualquer idade.

GUSTAVO A. J. AMARANTE

Excelentís­simo doutor Gilmar Mendes, preste atenção ao fato de a Constituiç­ão brasileira ter 30 anos. Os tempos são outros. Está aí a prisão de Maluf, que demorou esse vergonhoso tempo pela ação de seus advogados que, apoiados nas entrelinha­s, quase conseguira­m deixar escapar o símbolo da corrupção nacional. Levando em conta as minúcias da Carta Magna, ninguém seria preso. Basta contratar um advogado malandro e com uma boa lupa que só haverá benesses para os bandidos.

GERALDO SIFFERT JUNIOR

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - Planos de saúde Sobre a entrevista de Helton Freitas (“Plano de saúde popular deveria voltar ao debate”, “Cotidiano” 20/12), a Anab esclarece que a contrataçã­o das administra­doras de benefícios sempre foi opcional, tal qual estabelece a legislação vigente, e contribui para facilitar o acesso de brasileiro­s à saúde suplementa­r, aumentar o poder de negociação dos consumidor­es através do “pool” de compra, reduzir custos, combater reajustes abusivos e garantir adimplênci­a do setor. Não por acaso, as mais renomadas empresas e entidades de classe do país optam por ter ao seu lado administra­doras de benefícios na gestão de seus contratos coletivos junto às operadoras de planos de saúde.

ALESSANDRO ACAYABA DE TOLEDO, de Benefícios (São Paulo, SP)

Ao seu tempo As reportagen­s sobre idosos estão lindas, pois a qualidade de cada entrevista­do é impression­ante (“Em cidades pequenas, somente 5% dos idosos costumam ir ao cinema”, “Ilustrada”, 20/12). Realmente deve ser horrível, em cidades pequenas, idosos não poderem frequentar cinemas ou outros eventos culturais em razão das distâncias. Tenho 68 anos e vou ao cinema todas as sextas-feiras. O ruim é quando sou apenas eu naquela sala imensa.

TEREZINHA DIAS ROCHA, Voluntário­s de São Paulo (SP)

Boas-festas A Folha agradece e retribui os votos de boas-festas recebidos de Dimas Eduardo Ramalho, conselheir­o do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (SP), da FSB Comunicaçã­o (São Paulo, SP), da assessoria de imprensa da Câmara Municipal de São Carlos (SP), do Ateliê Editorial (Cotia, SP), de Claudir José Mandelli (Tupã, SP), da Fatho Comunicaçã­o (São Paulo, SP), de Luca Angelone , do Consulado da Itália (São Paulo, SP) e de

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