Folha de S.Paulo

Meus acusadores vão ser ridiculari­zados, diz Lula

Ex-presidente afirma estar confiante na absolvição em julgamento no TRF-4

- MÔNICA BERGAMO

Petista declara que tem ‘tesão’ de ser candidato e afirma que há “ene” recursos judiciais para participar da eleição

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou um grupo de jornalista­s para se encontrar com ele nesta quarta (20), no Instituto Lula, e gravar uma entrevista. “Vou tentar ter o melhor humor possível”, disse.

“De vez em quando eu vejo alguém dizer que estou mal humorado. Eu não poderia estar mal humorado porque sou corintiano. E estou em primeiro lugar nas pesquisas [eleitorais]. Se tem alguém que está mal humorado neste país não sou eu”, seguiu.

Lula disse que não teme ser condenado nem preso. E diz que, mesmo se o resultado for adverso, será candidato “enquanto o PT quiser” e ele puder recorrer a instâncias superiores da Justiça. JULGAMENTO

A minha condenação será a negação da Justiça. Porque a Justiça vai ter que fazer um esforço monumental para transforma­r uma mentira em verdade e julgar uma pessoa que não cometeu crime.

A sentença do juiz [Sergio] Moro me condenado, aos olhos de centenas de juristas, até de fora do Brasil, é quase que uma piada.

Eu tenho a tranquilid­ade de que vou ser absolvido porque para ser condenado tem que ter cometido um crime. E não tem [crime]. É por isso que eu tenho desafiado a Polícia Federal, o Ministério Público da Lava Jato, a mostrarem uma única prova. Eu não peço duas. Eu peço uma.

Esse processo começou com uma mentira de um jornal, de uma revista, que foi transforma­da num inquérito pela Polícia Federal. Foi enviado ao Ministério Público, que mentiu e fez a acusação. E o Moro aceitou a mentira.

Tudo isso poderia ter terminado se a Polícia Federal tivesse sido sincera e se o Moro tivesse feito papel de juiz.

Acontece que estamos vivendo um momento muito delicado. Você subordinou o processo ao que a imprensa fala dele. Numa linguagem popular, eles estão sem rota de fuga. Ou seja, mentiram e não têm como sair.

Qual é a única chance que eu tenho? É pedir provas. Tem que ter algum documento, algum contrato, aluguel, pagamento [do tríplex], algum ato de ofício, alguma coisa.

Eu penso que meus acusadores vão ficar ridiculari­zados. Ridiculari­zados.

Eles [desembarga­dores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que vão julgá-lo] têm mais obrigação diante da sociedade no dia 24 do que eu. A minha inocência eu já provei. Quero que agora eles provem a minha culpa.

Só tem uma atitude digna que eles podem tomar: me inocentar por 3 a 0.

Eu só queria que lessem a peça processual. Eu estava vendo que o [desembarga­dor Leandro Paulsen] revisor [do processo] leu 2.500 páginas por hora. É humanament­e impossível.

Se, contra toda a lógica do processo, ainda assim resolverem cometer uma barbaridad­e jurídica e me condenarem, eu tenho “ene” recursos para fazer. E vou continuar viajando o Brasil. Vou continuar conversand­o com o povo e mostrando que esse país tem jeito.

Eu tenho 72 anos de idade e acredito na Justiça e na democracia. Senão vou fazer o quê? Propor a luta armada? Com a minha idade? Prefiro continuar acreditand­o. REINALDO AZEVEDO Eu aconselho vocês a lerem as peças [do processo] para me defenderem, como o [jornalista e colunista da Folha] Reinaldo Azevedo está fazendo [risos]. Ele todo dia fala “Eu li. Eu li o processo”. Eu não peço para dizerem que eu sou inocente, não. Peço que leiam. E se acharem uma vírgula de culpa, por favor, me telefonem. É só isso. TESÃO Eu acho que no final vai prevalecer o bom senso nesse país. Como eles podem tentar evitar que um velhinho [como eu] de 72 anos de vida, energia de 30 anos e tesão de 20 seja candidato? Não é possível. É tanta coisa boa junta que eles têm que deixar, porra. Ainda mais um cara que tem um otimismo, sozinho, que todos não tem juntos. PIROTECNIA Eu fico feliz que o Brasil seja dotado de mecanismos para combater a corrupção. Agora, incomoda quando as instituiçõ­es que têm que apurar se transforma­m em partido político. E trabalhand­o com show de pirotecnia.

Quando vão na casa do Sergio Cabral, do Geddel [Vieira Lima] e encontram dólar, dinheiro, fazem um carnaval. Agora, quando vão na minha casa e não encontram porra nenhuma, eles deveriam pelo menos dizer “desculpa, Lulinha”. Não fizeram.

Eu não vou morrer enquanto não me pedirem desculpas. Eu quero ouvir o William Bonner [apresentad­or do Jornal Nacional] pedindo desculpas na TV Globo. DELAÇÕES Já são milhares de empresário­s presos, centenas de delações. E até agora não existe uma única prova [contra mim]. Fico até com pena. Conheço casos e casos, contados por advogados, de pessoas que eram perguntada­s [pelos investigad­ores]: “E o Lula? Ele sabia?”. Então tinha uma senha.

E vocês diziam: “Quando prenderem o [pecuarista José Carlos] Bumlai, o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Marcelo [Odebrecht], o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Emílio [Odebrecht], o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Aécio [Neves], o Lula tá ferrado. Quando prenderem o [Antonio] Palocci, o Lula tá ferrado”.

Pode prender o papa Francisco! Eu duvido que nesse país tenha alguém com a consciênci­a mais tranquila do que a minha. As pessoas que investigam e julgam têm que ter muita responsabi­lidade. Por isso são concursada­s, têm estabilida­de, ficam eternament­e no cargo. Tem que ter QI acima da média. Mas tem que ter caráter também. A delação está sendo utilizada para fins políticos. CANDIDATO Eu estarei candidato se o partido quiser porque no fundo é o PT que vai decidir até o dia em que uma instância [da Justiça] diga que eu não posso ser candidato.

A minha vontade é sair com o meu atestado de inocência no dia 24. Se não for nesse dia, vou recorrer. Eu não vou passar para a história como um inocente condenado. Eu prefiro moralmente condenar quem me julgou, condenar parte da imprensa que mentiu contra mim.

Essa semana houve o depoimento de um cidadão chamado [Rodrigo] Tacla Duran [advogado que trabalhou para a Odebrecht e faz acusações à força-tarefa da Lava Jato]. E a grande imprensa não deu nada. Imagine se ele estivesse acusando o PT. Teríamos sido capa e contracapa.

E eu tenho a certeza absoluta que o que vai vencer é a inocência de um ser humano que só tem um problema: ter mais chance de ser presidente do que os outros.

“[jornalista­s] diziam: ‘Quando prenderem o [pecuarista José Carlos] Bumlai, o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Marcelo [Odebrecht], o Lula tá ferrado. Quando

 ??  ?? O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante conversa com jornalista­s na sede do instituto que leva seu nome, em SP
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante conversa com jornalista­s na sede do instituto que leva seu nome, em SP

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil