Meus acusadores vão ser ridicularizados, diz Lula
Ex-presidente afirma estar confiante na absolvição em julgamento no TRF-4
Petista declara que tem ‘tesão’ de ser candidato e afirma que há “ene” recursos judiciais para participar da eleição
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou um grupo de jornalistas para se encontrar com ele nesta quarta (20), no Instituto Lula, e gravar uma entrevista. “Vou tentar ter o melhor humor possível”, disse.
“De vez em quando eu vejo alguém dizer que estou mal humorado. Eu não poderia estar mal humorado porque sou corintiano. E estou em primeiro lugar nas pesquisas [eleitorais]. Se tem alguém que está mal humorado neste país não sou eu”, seguiu.
Lula disse que não teme ser condenado nem preso. E diz que, mesmo se o resultado for adverso, será candidato “enquanto o PT quiser” e ele puder recorrer a instâncias superiores da Justiça. JULGAMENTO
A minha condenação será a negação da Justiça. Porque a Justiça vai ter que fazer um esforço monumental para transformar uma mentira em verdade e julgar uma pessoa que não cometeu crime.
A sentença do juiz [Sergio] Moro me condenado, aos olhos de centenas de juristas, até de fora do Brasil, é quase que uma piada.
Eu tenho a tranquilidade de que vou ser absolvido porque para ser condenado tem que ter cometido um crime. E não tem [crime]. É por isso que eu tenho desafiado a Polícia Federal, o Ministério Público da Lava Jato, a mostrarem uma única prova. Eu não peço duas. Eu peço uma.
Esse processo começou com uma mentira de um jornal, de uma revista, que foi transformada num inquérito pela Polícia Federal. Foi enviado ao Ministério Público, que mentiu e fez a acusação. E o Moro aceitou a mentira.
Tudo isso poderia ter terminado se a Polícia Federal tivesse sido sincera e se o Moro tivesse feito papel de juiz.
Acontece que estamos vivendo um momento muito delicado. Você subordinou o processo ao que a imprensa fala dele. Numa linguagem popular, eles estão sem rota de fuga. Ou seja, mentiram e não têm como sair.
Qual é a única chance que eu tenho? É pedir provas. Tem que ter algum documento, algum contrato, aluguel, pagamento [do tríplex], algum ato de ofício, alguma coisa.
Eu penso que meus acusadores vão ficar ridicularizados. Ridicularizados.
Eles [desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que vão julgá-lo] têm mais obrigação diante da sociedade no dia 24 do que eu. A minha inocência eu já provei. Quero que agora eles provem a minha culpa.
Só tem uma atitude digna que eles podem tomar: me inocentar por 3 a 0.
Eu só queria que lessem a peça processual. Eu estava vendo que o [desembargador Leandro Paulsen] revisor [do processo] leu 2.500 páginas por hora. É humanamente impossível.
Se, contra toda a lógica do processo, ainda assim resolverem cometer uma barbaridade jurídica e me condenarem, eu tenho “ene” recursos para fazer. E vou continuar viajando o Brasil. Vou continuar conversando com o povo e mostrando que esse país tem jeito.
Eu tenho 72 anos de idade e acredito na Justiça e na democracia. Senão vou fazer o quê? Propor a luta armada? Com a minha idade? Prefiro continuar acreditando. REINALDO AZEVEDO Eu aconselho vocês a lerem as peças [do processo] para me defenderem, como o [jornalista e colunista da Folha] Reinaldo Azevedo está fazendo [risos]. Ele todo dia fala “Eu li. Eu li o processo”. Eu não peço para dizerem que eu sou inocente, não. Peço que leiam. E se acharem uma vírgula de culpa, por favor, me telefonem. É só isso. TESÃO Eu acho que no final vai prevalecer o bom senso nesse país. Como eles podem tentar evitar que um velhinho [como eu] de 72 anos de vida, energia de 30 anos e tesão de 20 seja candidato? Não é possível. É tanta coisa boa junta que eles têm que deixar, porra. Ainda mais um cara que tem um otimismo, sozinho, que todos não tem juntos. PIROTECNIA Eu fico feliz que o Brasil seja dotado de mecanismos para combater a corrupção. Agora, incomoda quando as instituições que têm que apurar se transformam em partido político. E trabalhando com show de pirotecnia.
Quando vão na casa do Sergio Cabral, do Geddel [Vieira Lima] e encontram dólar, dinheiro, fazem um carnaval. Agora, quando vão na minha casa e não encontram porra nenhuma, eles deveriam pelo menos dizer “desculpa, Lulinha”. Não fizeram.
Eu não vou morrer enquanto não me pedirem desculpas. Eu quero ouvir o William Bonner [apresentador do Jornal Nacional] pedindo desculpas na TV Globo. DELAÇÕES Já são milhares de empresários presos, centenas de delações. E até agora não existe uma única prova [contra mim]. Fico até com pena. Conheço casos e casos, contados por advogados, de pessoas que eram perguntadas [pelos investigadores]: “E o Lula? Ele sabia?”. Então tinha uma senha.
E vocês diziam: “Quando prenderem o [pecuarista José Carlos] Bumlai, o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Marcelo [Odebrecht], o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Emílio [Odebrecht], o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Aécio [Neves], o Lula tá ferrado. Quando prenderem o [Antonio] Palocci, o Lula tá ferrado”.
Pode prender o papa Francisco! Eu duvido que nesse país tenha alguém com a consciência mais tranquila do que a minha. As pessoas que investigam e julgam têm que ter muita responsabilidade. Por isso são concursadas, têm estabilidade, ficam eternamente no cargo. Tem que ter QI acima da média. Mas tem que ter caráter também. A delação está sendo utilizada para fins políticos. CANDIDATO Eu estarei candidato se o partido quiser porque no fundo é o PT que vai decidir até o dia em que uma instância [da Justiça] diga que eu não posso ser candidato.
A minha vontade é sair com o meu atestado de inocência no dia 24. Se não for nesse dia, vou recorrer. Eu não vou passar para a história como um inocente condenado. Eu prefiro moralmente condenar quem me julgou, condenar parte da imprensa que mentiu contra mim.
Essa semana houve o depoimento de um cidadão chamado [Rodrigo] Tacla Duran [advogado que trabalhou para a Odebrecht e faz acusações à força-tarefa da Lava Jato]. E a grande imprensa não deu nada. Imagine se ele estivesse acusando o PT. Teríamos sido capa e contracapa.
E eu tenho a certeza absoluta que o que vai vencer é a inocência de um ser humano que só tem um problema: ter mais chance de ser presidente do que os outros.
“[jornalistas] diziam: ‘Quando prenderem o [pecuarista José Carlos] Bumlai, o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Marcelo [Odebrecht], o Lula tá ferrado. Quando