Folha de S.Paulo

Maluf se entrega em SP, e Justiça determina que ele vá para Brasília

Advogados recorrem ao STF pedindo soltura do ex-prefeito, condenado por lavagem de dinheiro

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Deputado quer cumprir prisão domiciliar até que caso seja analisado; Câmara foi notificada da decisão judicial DE BRASÍLIA

Um dia depois de o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin determinar que ele comece a cumprir pena, o deputado federal e ex-prefeito Paulo Maluf (PPSP) se apresentou na Superinten­dência da Polícia Federal de São Paulo, na manhã desta quarta-feira (20).

À tarde, a Justiça do Distrito Federal determinou que ele fosse levado para o Centro de Detenção Provisória da Penitenciá­ria da Papuda, em Brasília, mas a transferên­cia não havia ocorrido até a noite.

A defesa do político entrou com recurso no Supremo pedindo sua soltura. Em maio, Maluf foi condenado pela primeira turma do STF a 7 anos, 9 meses e 10 dias de prisão em regime fechado por lavagem de dinheiro. Também foi condenado à perda do mandato e a pagar multa.

Na terça-feira (19), Fachin negou recurso da defesa do ex-prefeito e tomou a decisão sobre o início da prisão. Para o ministro, Maluf tenta protelar o cumpriment­o da pena.

A defesa dele diz que houve “omissão” e “contradiçã­o” no julgamento e afirma esperar que o atual recurso (“embargos infringent­es”) seja analisado pelo pleno da corte.

O parlamenta­r deixou sua casa nos Jardins (zona oeste), em um carro com vidros pretos, por volta das 8h. Chegou à PF, na Lapa, uma hora depois, com três advogados.

Ao sair de lá para fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal, o congressis­ta caminhou com dificuldad­e e precisou do auxílio de uma bengala. SAÚDE FRAGILIZAD­A No recurso em que a defesa de Maluf pede que o deputado fique em prisão domiciliar até que o caso seja julgado, os advogados Ricardo Tosto e Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, citaram a idade de Maluf (86 anos) e problemas de saúde como justificat­iva.

Foram mencionada­s recentes sessões de radioterap­ias que o deputado fez no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para combater um câncer na próstata, limitação de movimento e problemas cardíacos, entre outros.

Ao determinar a transferên­cia de Maluf para a Papuda, o juiz Bruno Macacari, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Território­s, mandou que ele seja levado para o bloco 5, na chamada “ala dos vulnerávei­s”, em geral destinada a idosos, políticos e presos sob algum tipo de ameaça.

No Supremo, caberá à ministra Cármen Lúcia, presidente da corte, decidir se concede ou não a liberdade ao deputado.

A Câmara dos Deputados foi notificada nesta quarta (20) da decisão do Supremo. O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), levará o caso à assessoria jurídica para que se decida sobre como proceder em relação à cassação de Maluf. Com o Legislativ­o em recesso, o caso só deve ser analisado em fevereiro.

A decisão judicial não terá de ser referendad­a pela Câmara. Essa previsão não consta da legislação, pois já se trata de uma condenação definitiva, ou seja, de uma decisão de mérito do Judiciário. OFFSHORES De acordo com a denúncia, Maluf ocultou dinheiro desviado da construção da avenida Água Espraiada (atual avenida Roberto Marinho) enquanto era prefeito de São Paulo (1993 a 1996).

Para isso, fez remessas ilegais ao exterior usando serviços de doleiros e por meio de offshores na ilha de Jersey.

O Ministério Público responsabi­lizou Maluf por desvios de mais de US$ 172 milhões, mas parte dos crimes já foi prescrita.

Fachin considerou apenas desvios da ordem de US$ 15 milhões.

A defesa pede para juntar novos documentos aos autos.

O STF, porém, entende que Maluf quer “reabrir a discussão da causa, promover reanálise de fatos e provas e atacar” a condenação por meio do recurso.

(MARTHA ALVES, RENAN MARRA, FÁBIO FABRINI, CAMILA MATTOSO, LETÍCIA CASADO, DANIEL CARVALHO) 1971 1979 1982 1983 1985 1989 1993 1996 O que há contra ele 1. Em maio de 2017, foi condenado pelo STF a sete anos, nove meses e dez dias de prisão por crimes de lavagem de dinheiro. Ele foi responsabi­lizado pelo Ministério Público por desvios de US$ 172 milhões entre 1998 e 2006 em contas e fundos de investimen­tos situados na ilha de Jersey 2. Desde 2010, Maluf está na lista da Interpol, porque parte do dinheiro desviado na abertura da avenida Água Espraiada passou por um banco em Nova york antes de chegar a Jersey 3. Em junho, a Justiça da França manteve condenação de Maluf a três anos de prisão e multa de 200 mil euros por crime de lavagem de dinheiro no país entre 1996 e 2003

 ?? Nelson Antoine/Folhapress ?? O deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) deixa distrito policial após passar por exame de corpo delito, realizado depois de sua prisão, em São Paulo
Nelson Antoine/Folhapress O deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) deixa distrito policial após passar por exame de corpo delito, realizado depois de sua prisão, em São Paulo

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