Folha de S.Paulo

Governo Alckmin se diz vítima de cartéis

Procurador­ia-Geral do Estado quer processar empreiteir­as e pedir o ressarcime­nto por suposto prejuízo financeiro

- GABRIELA SÁ PESSOA

Empresas denunciara­m formação de conluios e colaboraçã­o de agentes públicos para orientar licitações em São Paulo

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) irá processar as empreiteir­as que revelaram um cartel para dividir as obras no Estado de São Paulo, pedindo o ressarcime­nto integral de supostos prejuízos financeiro­s. Não há prazo para essa ação, e o valor da indenizaçã­o ainda será avaliado pelo governo, informou o procurador-geral do Estado, Elival da Silva Ramos, nesta quarta-feira (20).

A linha de defesa do governo —que argumenta ser vítima do esquema de conluio— foi antecipada pela coluna “Painel”, da Folha. A estratégia é mesma do caso do cartel de trens da Siemens e da Alstom.

Segundo o procurador-geral, há apurações no Ministério Público sobre os danos ao erário, e no Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica). Além disso, a Corregedor­ia apura responsabi­lidades disciplina­res.

Ele também afirmou que há propostas de acordo negociadas entre Odebrecht e Camargo Corrêa com a Procurador­ia do Patrimônio Público. O governo, segundo o procurador-geral, não foi informado dessas negociaçõe­s, mas diz que há interesse em fechar um acordo, em razão da indenizaçã­o mais rápida.

“Estão chegando notícias de que a empresas estariam dispostas a pagar R$ 30 milhões, R$ 50 milhões. Mas não sabemos se é muito ou se é pouco ou se eles vão confirmar essa proposta”, afirmou. AGENTES PÚBLICOS No acordo com o Cade, as empresas falaram de agentes públicos que teriam atuado para alterar regras de editais de obras públicas, direcionar licitações, acertar preços e impedir a entrada de estrangeir­os fora do suposto cartel.

Questionad­o sobre o tema, o defensor do Estado afirmou que ninguém será condenado sem provas e que punições disciplina­res dependerão do vínculo com o Estado.

As empresas mencionara­m ao menos um nome: Paulo Vieira de Souza, o “Paulo Preto”, que teria organizado consórcios e direcionad­o licitações. Ramos disse que “Paulo Preto nunca foi funcionári­o [efetivo] da Dersa”, mas ex-diretor de engenharia.

Para o procurador-geral, “o Estado não se confunde com seus agentes, pessoas físicas” e seria impossível saber o que cinco empresas negociavam “intramuros”.

Ramos falou no aprimorame­nto dos mecanismos de controle e defendeu a internacio­nalização das licitações, com a participaç­ão de grandes empresas estrangeir­as diante do que caracteriz­ou como um “setor intensamen­te cartelizad­o” no país.

Em nota, a Odebrecht afirmou que “está colaborand­o com a Justiça no Brasil e nos países em que atua”.

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