Morre cardeal acusado de acobertar pedofilia
DA ASSOCIATED PRESS
Morreu nesta quarta feira (20) em Roma o cardeal Bernard Law, 86, que ficou conhecido por acobertar casos de abusos sexuais cometidos por padres contra crianças quando arcebispo de Boston.
A revelação do caso pelo jornal “The Boston Globe” fez o religioso renunciar ao cargo em 2002, como mostrado em “Spotlight — Segredos Revelados” (2015), ganhador do Oscar de melhor filme.
O Vaticano não revelou a causa da morte, mas afirmou que ele sofria de diabetes, problemas cardíacos e insuficiência hepática e estava internado em um hospital na capital italiana. O papa Francisco emitiu uma nota de condolências e informou que comparecerá à missa fúnebre, que ocorre nesta quinta (21), na basílica de São Pedro.
Law, que era um dos principais nomes da Igreja Católica nos EUA e um aliado do papa João Paulo 2º, mudouse para Roma logo após a eclosão do escândalo e se manteve em importantes postos no Vaticano.
A série de reportagens publicada pelo jornal americano a partir de janeiro de 2002 usou os registros da igreja para mostrar que padres acusados de abusos contra crianças eram transferidos de paróquia e nem as famílias nem as autoridades eram avisadas dos possíveis crimes.
Inicialmente, Law —que era o arcebispo de Boston desde 1984— negou conhecimento, pediu desculpas e anunciou reformas para evitar que o problema voltasse a ocorrer, mas novos registros mostraram que ele sabia da transferência e dos abusos e não agiu para ajudar as vítimas, aumentando os pedidos por sua saída do cargo.
“É minha fervente prece que esta ação ajude a arquidiocese de Boston a encontrar a cura, reconciliação e unidade que tão desesperadamente precisa”, disse ao anunciar sua renúncia em 2002. “Para todos aqueles que sofreram com minhas falhas e erros, peço desculpas e imploro perdão.”
Apesar da renúncia, Law manteve prestígio no Vaticano, integrando a Congregação dos Bispos, órgão que assessora o papa, e sendo indicado para comandar a basílica de Santa Maria Maggiore, uma das principais de Roma.
Mitchell Garabedian, advogado que representou várias vítimas, disse que a morte do cardeal reabre uma ferida. “Muitas vítimas se lembram da dor de serem abusadas sexualmente ao saberem que o cardeal Law morreu”, disse. “Ele deu as costas para crianças inocentes, permitiu que elas fossem abusadas sexualmente e depois recebeu uma promoção em Roma.”
Alexa MacPherson, que disse ter sido abusada por um padre em Boston por seis anos quando criança, criticou Law. “Espero que os portões do inferno estejam abertos para permitir sua entrada.”
Nascido em 4 de novembro de 1931 em Torreon, no México, Law era o único filho de um coronel da Aeronáutica americana e de uma presbiteriana convertida ao catolicismo. Por causa do trabalho do pai, ele morou em países da América do Sul e da América do Norte e nas Ilhas Virgens antes de se formar em Harvard, em 1953, e ser ordenado padre, em 1961.
Atuou no sul dos EUA fazendo campanha a favor dos direitos civis e foi indicado bispo de Springfield-Cape Girardeau, no Missouri, antes de receber a promoção para arcebispo de Boston, quarta maior diocese do país.
No cargo, ficou conhecido por tentar melhorar a relação com o judaísmo e entre o Vaticano e o governo cubano de Fidel Castro. Também foi um veemente crítico do aborto.