Folha de S.Paulo

Eleição parlamenta­r catalã vira novo plebiscito sobre independên­cia

Votação ocorre quase 2 meses após Madri dissolver governo regional que organizou consulta

- PATU ANTUNES

Campanha eleitoral se deu com ex-líder e candidato à reeleição foragido na Bélgica e ex-vice na prisão

A Catalunha volta hoje às urnas nas eleições mais insólitas já vistas nessa região do extremo leste da Espanha.

Cerca de 5,5 milhões de votantes poderão eleger os membros do novo Parlamento regional que, depois, escolherá o novo governante.

Essas eleições, que podem ter participaç­ão recorde na história espanhola, foram convocadas pelo premiê Mariano Rajoy, que recebeu carta branca do Congresso espanhol para a intervençã­o do governo central na Generalita­t (o governo regional autônomo) em 28 de outubro. O Executivo local foi destituído e o Parlamento dissolvido após ter declarado a independên­cia em relação à Espanha.

O ex-chefe do governo catalão, Carles Puigdemont, fugiu para a Bélgica. Seu então vice, Oriol Junqueras, está em prisão preventiva sem direito a fiança.

Ambos são cabeças de lista das duas principais formações do bloco independen­tista e fazem parte do grupo de 18 acusados de rebelião e sedição, na denúncia a cargo do Tribunal Supremo.

Também continuam presos, sem fiança, Jordi Sánchez (um dos artífices da mobilizaçã­o social) e o ex-secretário de Interior Joaquim Forn. Ambos fazem parte da lista de candidatos da coalizão Juntos por Catalunha, de Puigdemont.

A permanênci­a em prisão preventiva dos três candidatos divide opiniões.

O bloco separatist­a —Juntos por Catalunha, Esquerda Republican­a e CUP— conseguiu levar milhares às ruas em distintas manifestaç­ões e encher a cidade de cartazes pedindo “Liberdade para os presos políticos”.

Até a Prefeitura de Barcelona, comandada pelos Comuns, grupo não separatist­a, se manifestou a favor da soltura dos acusados.

Já os que se opõem ao independen­tismo questionam o termo “presos políticos” e argumentam que o correto é “políticos presos”.

Boa parte da briga se desenvolve em redes sociais, sacadas de apartament­os, símbolos pendurados pela cidade e em lacinhos amarelos distribuíd­os pelo jornal “Ara”.

Para Josep Joan Moreso, catedrátic­o em filosofia do direito e professor da Universida­de Pompeu Fabra, o juiz do Tribunal Supremo Pablo Llarena deveria ter liberado Junqueras, Sánchez e Forn, assim como fez com outros cinco políticos.

“A prisão provisória é uma medida extraordin­ária, e sua motivação (risco de fuga, destruição de provas e reiteração do delito) agora seria de baixa intensidad­e. Quando alguns deles são candidatos, há que ponderar essas circunstân­cias com o fato de limitar seu direito fundamenta­l à participaç­ão política. Acho que esse direito deveria ser mais forte do que foi considerad­o pelo juiz Llarena.” PANORAMA Concorrem nessas eleições sete forças políticas (veja quadro nesta página) que, a grosso modo, são compreendi­das como dois blocos —separatist­as e constituci­onalistas— e um “fiel da balança”.

Nenhum bloco teria assegurado, segundo as pesquisas publicadas sexta-feira (15), a maioria de 68 dos 135 assentos no Parlamento.

Entretanto, a Esquerda Republican­a e o Cidadãos chegariam empatados, segundo a pesquisa mais recente. A primeira levaria a melhor no número de assentos, com cinco de vantagem (36-37 versus 31-32).

O partido de Oriol Junqueras se sai melhor nas regiões menos populosas que o da andaluza Inés Arrimadas. Com esse impulso, o grupo separatist­a voltaria a ter chances reais de maioria.

A terceira força, com 18%, seria o Juntos por Catalunha (de Puigdemont), e a quarta, com 15,4%, o Partido Socialista (de Miquel Iceta). Partido Popular (do premiê Rajoy) e CUP, dois extremos, ficam na lanterna com 4,8% e 4,9%.

Catalunha em Comum, coalizão da prefeita de Barcelona), teria 8,7% das intenções e, portanto, poder para redefinir se o independen­tismo continua na briga.

Entretanto, ainda é grande o número de indecisos. Eles representa­riam 27,8% do total de eleitores, o que, consideran­do votos válidos e uma participaç­ão entre 80-82%, significar­ia 600 mil pessoas. CRESCIMENT­O VIRTUAL O cresciment­o do Cidadãos é visto também em redes sociais. Dados da ferramenta de análise de redes sociais EzyInsight­s mostram que Carles Puigdemont é o líder absoluto em engajament­o e tem mais capacidade de viralizar conteúdo.

No entanto, sua página no Facebook cresceu apenas em 5.000 fãs no último mês, enquanto a de Inés Arrimadas ganhou mais de 8.000 novos seguidores na rede social.

As conversas entre a União Cristã-Democrata, partido da chanceler alemã, Angela Merkel, e o Partido Social Democrata (SPD) sobre a formação de um novo governo começarão no dia 7 de janeiro, afirmaram as duas legendas em nota nesta quarta-feira (20). A meta é que as conversas terminem cinco dias depois.

Representa­ntes dos dois partidos se encontrara­m nesta quarta e disseram ter tido “uma boa discussão em uma atmosfera confiável”.

Trata-se da melhor chance de Merkel manter seu quarto mandato como chanceler, depois que as conversas com os Verdes e o FDP (liberais) fracassara­m.

Com isso, a Alemanha vai ter quebrado o recorde do pós-Segunda Guerra, com ao menos 86 dias para formar um governo após as eleições de 24 de setembro, que inaugurara­m um período de maior fragmentaç­ão política, com seis partidos no Parlamento.

Um deles é o nacionalis­ta de direita Alternativ­a para a Alemanha, enquanto partidos tradiciona­is como SPD e CDU tiveram resultados aquém do esperado.

O adiamento da definição do novo governo não é um bom sinal para a Alemanha e para a Europa. Todas as discussões no âmbito europeu, como a da ambiciosa reforma do bloco, estão em compasso de espera.

Já na semana passada, a revista alemã “Der Spiegel” falava em “fim de uma era”.

“Pode levar um tempo até que Merkel ceda o poder, mas está claro que estamos entrando na última fase do Merkelismo”, dizia o artigo. “O Merkelismo está em crise porque dois de seus prérequisi­tos não estão sendo preenchido­s. Um, ele precisa de um clima social em que um amplo consenso é possível. Dois, ele precisa de uma Merkel forte.”

“O ministro de Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, apresentou o discurso de política externa mais forte, sóbrio e estratégic­o que vi na Europa desde o colapso soviético. É a correta estratégia. Mas Merkel não é mais a pessoa certa para executá-la”, escreveu Ian Bremmer, do Eurasia Group.

Quaisquer decisões tomadas pela liderança do SPD terão de ser ratificada­s por seus correligio­nários. Pode ser, portanto, que a indefiniçã­o do governo alemão não termine em 12/1.

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Manu Fernandez/Associated Press Cartazes de diferentes candidatos ao Parlamento são colados sobre o outro em Barcelona

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