Folha de S.Paulo

Projeto de privatizaç­ão pode ir ao Congresso até amanhã

- TAÍS HIRATA

DE SÃO PAULO

O conselho da Eletrobras já admite a possibilid­ade de liquidar suas seis distribuid­oras, caso o processo de venda que está em curso não seja bem-sucedido. Nesse caso, a dívida bilionária das empresas não será absorvida pela estatal, mas pela União.

O volume total desses débitos ainda está sendo calculado, mas a expectativ­a é que seja considerav­elmente maior que os R$ 19,7 bilhões já anunciados. Segundo uma fonte a par do assunto, só a Amazonas Distribuid­ora teria um passivo de aproximada­mente R$ 18 bilhões.

A possibilid­ade de liquidação será discutida na assembleia-geral extraordin­ária da Eletrobras, no dia 28.

A ideia seria usar uma lei de dissolução de entidades públicas federais, criada em 1990. Ela prevê que a União assuma os direitos e as obrigações das empresas liquidadas.

Caso essa possibilid­ade se concretize, no entanto, haverá uma batalha judicial para definir com quem ficariam os débitos bilionário­s.

No entendimen­to da CGU (Controlado­ria-Geral da União), caso a Eletrobras opte pela dissolução das distribuid­oras, não haveria justificat­iva legal para que a União absorvesse a dívida, pois seria uma decisão exclusivam­ente empresaria­l.

O parecer foi dado após uma consulta feita pela estatal, na semana passada, sobre o tema, sem caráter vinculante —ou seja, o conselho terá liberdade para tomar a decisão sobre a liquidação.

Para o órgão, “é totalmente inaplicáve­l” a hipótese de o governo assumir sozinho a dívida em caso de dissolução.

O argumento é que qualquer mudança na modelagem de desestatiz­ação precisaria ser definida pelo comitê do PPI (Programa de Parcerias de Investimen­tos). Esse órgão do governo federal tem autoridade legal para determinar a forma de venda das empresas e em nenhum momento previu a possibilid­ade de liquidação no processo. ENTRAVE A dívida tem sido um dos maiores entraves para a venda das distribuid­oras —o primeiro passo para a privatizaç­ão da estatal de energia.

Analistas consideram que a transferên­cia da dívida beneficiar­ia acionistas minoritári­os —já que a União, atual controlado­ra da Eletrobras, arcará direta ou indiretame­nte com parte dos débitos de qualquer forma— e agradaria a investidor­es interessad­os em assumir a operação das empresas, que absorveria­m ativos “limpos”.

A ideia inicial era que a Eletrobras assumisse os débitos, o que a controlado­ra rechaçou por considerar que a empresa não teria capacidade financeira e que o processo posterior de privatizaç­ão seria prejudicad­o.

Nesta semana, a empresa prorrogou mais uma vez o prazo de venda das empresas para 31 de julho. São elas a Amazonas Distribuid­ora, a Eletroacre, a Ceron (RO), a Boa Vista Energia (RR), a Ceal (AL) e a Cepisa (PI).

Procurada, a Eletrobras afirmou, em nota, que vai deliberar sobre o tema no dia 28.

DE BRASÍLIA

O ministro da Secretaria­Geral da Presidênci­a, Moreira Franco, afirmou nesta quarta-feira (20) que o projeto de lei que permitirá a privatizaç­ão da Eletrobras poderá ser enviado ao Congresso até esta sexta-feira (22).

A receita com a venda da estatal, cerca de R$ 12 bilhões, já está prevista no Orçamento da União de 2018.

Sem dar detalhes, Moreira Franco disse que as divergênci­as entre os Ministério­s da Fazenda, Planejamen­to e de Minas e Energia foram superadas e que o projeto está pronto na Casa Civil para ser enviado ao Congresso.

Segundo integrante­s do governo que participar­am das discussões, nos últimos dias houve acordo sobre dois dos pontos mais controvers­os.

O primeiro deles era o que definia como seria a divisão dos recursos resultante­s da privatizaç­ão da estatal. No projeto original, haveria uma divisão em três terços iguais. Um deles iria para a União, outro, para a Eletrobras, e o último, para uma conta específica destinada ao abatimento das contas de luz.

Na versão final que irá ao Congresso, um terço irá para a conta específica e outros dois terços serão rateados posteriorm­ente porque há ainda acertos entre Tesouro e Eletrobras que precisarão ser feitos antes disso.

Outro impasse foi a escolha do presidente do conselho de administra­ção da companhia. O governo queria fazer a indicação, mas isso também foi modificado porque retiraria valor de mercado da Eletrobras —a avaliação é que o governo continuari­a interferin­do na gestão. Na nova versão, a companhia decidirá o nome. USINAS ANTIGAS O projeto também garantirá que a “nova Eletrobras” libere suas usinas mais antigas para vender energia no mercado livre. Hoje, elas são subsidiada­s pela União e a tarifa é definida.

Para usufruir desse direito, terão de pagar outorga —o valor ainda será calculado depois da aprovação do Congresso. Os recursos envolvidos nessa transação sairão da própria venda da Eletrobras.

A partir de agora, o governo negociará com o Congresso para que o projeto seja aprovado até o fim do primeiro trimestre. A ideia é que, no início de abril, a proposta de privatizaç­ão seja encaminhad­a ao conselho de administra­ção da Eletrobras, que, então, fará uma emissão primária de ações.

O governo não vai acompanhar esse processo e, dessa forma, sua participaç­ão acionária será reduzida de 63% para algo em torno de 40%. O controle da companhia será diluído, mas o governo manterá uma ação especial que dará poder de veto em determinad­as questões estratégic­as. (JULIO WIZIACK)

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Divulgação Eletrobras Instalação de poste na rede da Amazonas, a mais endividada entre as seis distribuid­oras sob gestão da Eletrobras

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