Folha de S.Paulo

TRÉPLICA Schwartsma­n evolui, mas ainda precisa de lição

Educar chefes de torcida em meio a ataques pessoais é tarefa árdua, mas necessária, sobretudo em tempos de intolerânc­ia

- NELSON BARBOSA

FOLHA

Agradeço o espaço que a Folha me concede para responder a mais uma rodada de ataques pessoais de Alexandre Schwartsma­n. O colunista diminuiu um pouco sua virulência (folha.com/ no1944160), pelo menos aqui na Folha. Essa evolução já é um avanço. Ainda assim, peço paciência ao leitor para esclarecer ideias, pois é isso que interessa em um debate.

Sobre o impacto do ajuste fiscal na economia, mais uma vez o colunista invoca são Alesina para defender contração fiscal ontem, hoje e para sempre. Porém, e isso já está ficando chato, quem ler o artigo em questão descobrirá que, nos chamados ajustes via “cortes de gastos”, houve parcela consideráv­el de aumento de receita (20% do total do ajuste).

O resultado de Alesina não é surpresa para quem acompanha o assunto. A contração fiscal é contracion­ista no curto prazo e, ainda assim, ela precisa ser feita em alguns casos. Mais importante, os exemplos de sucesso de ajuste fiscal combinaram elevação de receita e redução de gastos, em proporção do PIB da economia.

No Brasil, não é diferente. Precisamos elevar o resultado primário em cerca de R$ 300 bilhões nos próximos anos. O bom senso indica que o ideal é combinar recuperaçã­o de receitas com redução do cresciment­o dos gastos.

A maior parte de nosso ajuste ainda deve ser feita na despesa, mas uma recuperaçã­o de receitas é necessária e justa do ponto de vista social. De certa forma, isso já vem acontecend­o com o cancelamen­to de desoneraçõ­es e aumento de alguns tributos, mas não contem isso a... vocês sabem quem.

A segunda acusação do colunista é mais uma censura: eu não poderia apontar os excessos do corte de gastos por ter “me vangloriad­o” de ter feito o maior contingenc­iamento do Orçamento. Sem argumentos, nesse ponto Schwartsma­n parte para o diversioni­smo.

Os fatos mostram que o governo Dilma fez o maior corte de gastos discricion­ários em 2015. Os fatos também mostram que, diante da evolução da economia, o mesmo governo Dilma corretamen­te mudou de estratégia e procurou flexibiliz­ar a política fiscal já no segundo semestre daquele ano, ponto sempre esquecido pelo colunista.

Aí entra o golpe de 2016. Apesar do corte de gastos discricion­ários realizado em 2015, uma das acusações contra a presidente Dilma foi, pasmem, a ampliação excessiva do Orçamento!

Contra esse argumento falacioso apontei e reafirmo que o governo fez o maior contingenc­iamento de gastos em 2015. Não se trata de opinião, é fato. Tampouco tratase de defesa do corte, pois isso também já está ficando chato, até os alunos do Insper sabem que defendi a flexibiliz­ação da política fiscal a partir do segundo semestre de 2015.

Fiz isso sob críticas pesadas de vários economista­s, inclusive do próprio colunista. O tempo se encarregou de mostrar que o aumento temporário do deficit primário era inevitável.

Por fim, o polemista me acusa de propor que gasto público resolve tudo. Outro diversioni­smo. Já defendi neste e em outros espaços a reforma da Previdênci­a, o adiamento dos reajustes dos servidores e outras ações similares.

É ao corte brutal e desnecessá­rio do investimen­to público —num momento em que a economia ainda tem alta taxa de desemprego e elevado grau de ociosidade— que sou contra.

Educar chefes de torcida em meio a ataques pessoais é tarefa árdua, mas necessária, sobretudo nos tempos de intolerânc­ia que vivemos. NELSON BARBOSA, @nelsonhbar­bosa

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