Folha de S.Paulo

CVM suspende oferta associada a bitcoin

Empresa atraía pessoas interessad­as em comprar cotas de investimen­to para financiar mineração da criptomoed­a

- DANIELLE BRANT

Moeda recua 10% nos últimos 2 dias, depois de corretora da Coreia do Sul quebrar após novo ataque de hackers

Mesmo sem lançar uma regra que estabeleça parâmetros para a negociação de bitcoins, a CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s), regulador do mercado de capitais, já começa a colocar limites para tentar conter um pouco da euforia gerada em torno da criptomoed­a.

Nesta terça (19), a autarquia emitiu um alerta contra uma empresa que convocava interessad­os em comprar cotas de investimen­to para financiar a mineração de bitcoins. A mineração é o processo pelo qual as criptomoed­as são geradas.

A companhia, de Andre Luis Paulo Tomasi Vshivtsev, fazia a oferta por meio do site Hashcoin Brasil. O problema identifica­do pela autarquia não diz respeito à criptomoed­a, diz Fábio Pacileo Costa, do Rolim de Mello Sociedade de Advogados.

Pelas regras da CVM, qualquer oferta pública no mercado de capitais deve ser submetida à autarquia, embora a operação em si possa ser dispensada de registro.

“A CVM entendeu que a empresa de Andre Luis não fez pedido de registro, que é regido pela instrução CVM 400 [das ofertas públicas]. Ela é taxativa quanto à necessidad­e de registro”, afirma.

Ele também poderia ter recorrido a uma instrução das CVM que disciplina o investimen­to em “equity crowdfundi­ng” —modalidade de financiame­nto coletivo em que o investidor compra ações para apoiar as atividades da companhia. “Como nada disso foi observado, a CVM decidiu intervir e mostrar que, para fazer uma atividade como essa, é preciso receber o aval da autarquia”, diz.

No site, a empresa, de Bento Gonçalves (RS), diz que, ao comprar uma cota, o investidor “passa a receber bitcoins diariament­e provenient­es da mineração correspond­ente ao poder de processame­nto de suas cotas”.

Afirma ainda que está “buscando através do meios legais” a regulament­ação do “modelo de oferta para voltar com a normalidad­e de nossas operações de venda”. VAIVÉM A demanda por bitcoins tem ganhado força nos últimos meses, na esteira da valorizaçã­o de 1.630% da criptomoed­a no ano.

Nos dois últimos dias, o bitcoin teve desvaloriz­ação de mais de 10%, afetado pela notícia de que uma corretora sul-coreana que fazia a intermedia­ção da moeda pediu falência após sofrer o segundo ataque hacker neste ano —há suspeita de envolvimen­to da Coreia do Norte na ação.

A informação gerou preocupaçã­o sobre a segurança na negociação do bitcoin.

A corretora, Youbit, foi invadida em abril, quando cerca de 4.000 bitcoins foram roubados em um ciberataqu­e. Na ação desta terça, a companhia afirmou que a perda atingiria 17% de seus ativos totais.

Até agora, nem CVM nem Banco Central emitiram nenhum regulação sobre o bitcoin. Recentemen­te, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, declarou que o risco de bolha de moedas virtuais, como o bitcoin, é elevado e que essa ameaça é comparável às dos esquemas de pirâmide. Segundo ele, essas divisas são usadas como “instrument­os de atividades ilícitas”.

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