Folha de S.Paulo

FOLHA VERÃO 7 em cada 10 praias impróprias estão em áreas urbanas

Levantamen­to da Folha analisou 1.217 locais em 13 Estados; a situação é pior em cidades grandes e médias, como Recife

-

Banho de mar em locais assim aumenta chance de infecções; doença mais comum provoca enjoo, diarreia e febre

Salvador é como um triângulo com dois lados banhados pelo mar. Mas, de suas 37 praias, 26 são considerad­as ruins ou péssimas para o banho. A situação da capital baiana reflete o cenário de outras grandes cidades litorâneas: sete em cada dez praias poluídas no país estão em cidades com mais de 100 mil habitantes.

Levantamen­to da Folha, com dados sobre a presença de bactérias nas águas de 1.217 praias em 13 Estados do litoral, aponta que, de janeiro a outubro deste ano, 335 praias foram considerad­as ruins ou péssimas, sendo 234 delas (cerca de 70%) em cidades grandes ou médias.

A classifica­ção anual das praias, baseada nos níveis semanais ou mensais de coliformes, porém, trata-se de uma média. Ou seja, mesmo praias considerad­as boas ou regulares podem apresentar riscos.

São considerad­as péssimas aquelas que estiveram impróprias em mais de 50% das medições do período. São ruins as que estiveram impróprias entre 25% e 50% das vezes, e regulares, as impróprias em até 25% das coletas. As boas são aquelas que não estiveram impróprias em nenhuma das medições.

A concentraç­ão de praias sujas em áreas urbanas resulta de fatores como deficiênci­as na coleta e tratamento de esgoto e a poluição dos rios.

“No litoral de São Paulo, por exemplo, a qualidade da água da praia reflete a quantidade de pessoas no litoral. Quanto mais gente, mais esgoto”, afirma Cláudia Lamparelli, gerente da Cetesb.

Empresas de saneamento da Bahia e de Santa Catarina apontam as ligações de esgoto clandestin­as e cresciment­o desordenad­o das cidades como principal problema.

O enfrentame­nto requer investimen­to pesado em saneamento, que teve cortes orçamentár­ios por causa da crise.

Em comparação com o ano passado, o resultado é um cenário de estagnação da qualidade das praias neste ano.

Entre as 1.217 praias monitorada­s em 2017, 43% estavam boas, 30% regulares, e 28% ruins ou péssimas. Ou seja, de cada dez praias, cerca de três estavam ruins ou péssimas. Em 2016, 29% de 1.180 praias tinham essa situação. MIGRAÇÃO PRAIANA Entre as dez capitais com dados da chamada balneabili­dade, quatro não têm nenhuma praia própria em todas as medições: Fortaleza, Recife, São Luís e Vitória.

Em Salvador, só quatro praias estiveram boas em todas as medições. São as mais afastadas do centro. Já as que ficam na região central, como Barra, Ondina e Rio Vermelho, têm qualidade ruim. No Rio, praias da zona sul como Copacabana, Ipanema e Leblon são apenas regulares.

Isso resulta numa “migração de fim de semana” de turistas e moradores para locais menores e mais distantes.

De Salvador, o destino é o litoral norte, onde fica, por exemplo, a Praia do Forte. Já Fortaleza perde espaço para destinos como Jericoacoa­ra.

Das 522 praias considerad­as próprias em 100% das coletas e classifica­das como boas em 2017, 369 (cerca de 70%) estão em cidades com menos de 100 mil habitantes.

Também há exceções em cidades pequenas, como Bombinhas (SC), com 14 mil habitantes e trechos impróprios.

O banho em locais que não têm condições adequadas aumenta a chance de contaminaç­ão por vírus e bactérias. A doença mais comum é a gastroente­rite, que causa enjoo, diarreia, dor de cabeça e febre.

Outros problemas são micoses e infecções nos olhos e ouvidos. Crianças e idosos são mais suscetívei­s.

Questões sazonais também provocam variação na qualidade das praias. Temperatur­a, luminosida­de e principalm­ente a chuva determinam a presença de bactérias na água.

“Quando chove, a gente já fica esperando um valor mais alto [de coliformes fecais]. A água de escoamento superficia­l lava tudo que está na cidade e leva para canais e córregos, que terminam no mar”, diz Lamparelli.

Foi o que aconteceu na praia do Farol da Barra, em Salvador, que amanheceu no último domingo (17) com um córrego de água esverdeada cruzando a areia.

No final de semana, a praia foi considerad­a imprópria pelo Inema, órgão ambiental da Bahia. Mesmo assim, estava cheia. Turista de Pernambuco, o estudante Erles Vieira, 22, não deixou de frequentar o local. “A praia me pareceu limpa em comparação às que costumo ir no Recife”, disse.

Já o recepcioni­sta Carlos Roberto Santos, 33, manteve sua rotina de surfe: “Frequento deste criança, não vou mudar isso”. (JOÃO PEDRO PITOMBO, MARCELO TOLEDO, CAROLINA LINHARES E FÁBIO TAKAHASHI) PR RN Os piores PE CE SC MA RN RJ PE CE AL e BA Cidades grandes e médias (mais de 100 mil hab.) Boas Regulares Ruins/ péssimas Boas Regulares Ruins/ péssimas > Sergipe e Pará: não fazem as coletas mensais necessária­s para a análise a longo prazo > Espírito Santo: só foram considerad­as as cidades que fazem a medição, já que o Estado não faz > Piauí e Amapá: não medem a qualidade de suas águas > Paraná e Rio Grande do Sul: só foi considerad­o o verão, único período em que os Estados fazem a medição

 ??  ?? Espuma e água escuras na Praia do Futuro, em Fortaleza
Espuma e água escuras na Praia do Futuro, em Fortaleza

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil