Folha de S.Paulo

Técnica aposta na integração de florestas em fazendas

Modelo conhecido como ILPF ocupa 14,6 milhões de hectares plantados

- LUCIANO TEIXEIRA MARIANA BANANAL THAÍS GOES

Número ainda é tímido, mas seus defensores creem em mudança de paradigma na busca da agricultur­a sustentáve­l

Os militantes da sustentabi­lidade comemoram: a integração de lavoura, pecuária e floresta numa mesma área, técnica conhecida pelas suas iniciais, ILPF, segue trajetória de aumento constante e deve atingir 14,6 milhões de hectares na safra 2017/2018.

Se confirmado, será um cresciment­o de quase 10% sobre os 13,3 milhões de hectares de 2016/2017, segundo dados da Rede ILPF, formada por Embrapa, governo federal, cooperativ­as e empresas.

O número é bom, mas tímido, comparado ao total de 79 milhões de hectares de área plantada no Brasil (calculada pelo IBGE), e ainda mais modesto frente aos 165 milhões de hectares ocupados pela pecuária (dado da consultori­a Agroconsul­t).

A diferença não desanima os entusiasta­s da ILPF, que veem a integração como uma mudança de paradigma na agricultur­a sustentáve­l e preveem seu avanço no Brasil e em países vizinhos.

O argumento central: a integração permite ganho de produtivid­ade na agricultur­a e na pecuária “sem derrubar uma árvore”, na expressão de João Kluthcousk­i, pesquisado­r da Embrapa Cerrados. A ressalva é fundamenta­l para quem pretende conjugar agronegóci­o e sustentabi­lidade.

O sistema aposta na produção de diferentes culturas em uma mesma área, o que otimiza e melhora o uso da terra (veja quadro ao lado).

A escolha das culturas leva em conta tamanho da área, mercado, logística e bioma local. Atualmente, predomina a integração de grãos, bovinos e eucalipto, mas há exemplos com teca e mogno africano, madeiras mais valorizada­s pelo setor moveleiro.

Se a eficiência da dobradinha lavoura-pecuária não deixa dúvidas, a inclusão da floresta nem tanto. “O uso das árvores é mais complexo e tem resultado financeiro lento. Quero ver os resultados no mais longo prazo, com a floresta entrando no processo”, ressalva Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultur­a e atual coordenado­r do Centro de Agronegóci­o da FGV.

A crítica de Ciro Abbud Righi vai em outra direção — não há novidade na ILPF.

“A Embrapa criou uma sigla e um pacote de regras para o modelo agrossilvi­pastoril, que já existia dentro do SAF (Sistema Agroflores­tal)”, diz o professor da Esalq/USP. O SAF explora o solo de maneira mais próxima ecologicam­ente da floresta natural. “A ILPF é uma pequena parte do que o SAF pode ser”, diz. O produtor fará o plantio em linhas de árvores e a plantação de culturas chamadas anuais, como soja e milho Depois que colher os grãos, o produtor vai plantar capim, que servirá de alimento para o gado e para proteger o solo Os animais são soltos nessa pastagem. As sombras das árvores oferecem bem-estar animal, aumentando a produção de carne e leite Quando a madeira for cortada, os bois vão para o abate e se inicia um novo ciclo, com a plantação de grãos e árvores

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