Folha de S.Paulo

Sítio aderiu à ILPF para escapar da crise da laranja

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DA EDITORIA DE TREINAMENT­O

Com um assobio e palavras incompreen­síveis, a agrônoma Maria Fernanda Guerreiro, 46, reúne dezenas de cabeças de gado na zona de pasto, demonstran­do sua familiarid­ade com os animais.

A convivênci­a, porém, só começou em 2010, quando o sítio Nelson Guerreiro, na região rural de Brotas (interior de SP), aderiu à ILPF.

A adoção foi uma tentativa de responder à queda vertiginos­a registrada no mercado de laranjas, até então a principal produção da família.

Endividado­s, ela e o marido, o agrônomo Luiz Fernando Braz da Silva, 45, começaram a buscar uma saída para diversific­ar a fonte de renda.

Com orientaçõe­s da Embrapa, o casal submeteu seu projeto de integração ao Produsa (Programa de Estímulo à Produção Agropecuár­ia Sustentáve­l), financiado pelo BNDES, e recebeu um crédito de R$ 200 mil para a compra de sementes, mudas e cabeças de gado.

Hoje, o sítio produz milho, eucalipto e gado de corte no sistema de integração, numa área de 45 hectares. Também mantém o cultivo de laranja e de cana-de-açúcar, além de uma parceria com vizinhos para a produção de mel, num total de 106 hectares.

Para a agrônoma, a integração é uma tendência que deverá ser incorporad­a pela agricultur­a brasileira.

“Quando eu fazia faculdade de agronomia [nos anos 1990], o plantio direto era visto como coisa de ‘bicho-grilo’; hoje é uma técnica muito utilizada.” Nessa modalidade não se faz a aragem do solo, para conservar a folhagem e os micro-organismos da terra e diminuir a erosão.

O milho do sítio é transforma­do em fubá e vendido em feiras de agricultur­a familiar. Um dos principais clientes é o restaurant­e Arturito, da chef Paola Carosella.

A laranja, produzida com menor aplicação de agrotóxico­s, também é vendida na região, assim como as toras de eucalipto. A cana vai para usinas de açúcar e etanol.

“Nós somos sobreviven­tes. Hoje, muitos dos nossos vizinhos são reféns, não mais do suco de laranja, mas da canade-açúcar”, diz o agrônomo.

A cana foi um cultivo a que muitos aderiram após a crise no setor cítrico —e que agora gera dependênci­a financeira similar à da laranja.

O casal complement­a a renda prestando assessoria para outros produtores interessad­os na integração, cujo perfil é semelhante: gente que cresceu no meio rural, se mudou para a área urbana para estudar e retornou às raízes no campo. (GB e LC)

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Fotos Gabriel Cabral/Folhapress A agrônoma Maria Fernanda Guerreiro chama rebanho, em Brotas (SP)

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