Folha de S.Paulo

Projeto libera verbas, mas não controla resultados

Sete anos depois de criada, linha de crédito não mede impacto na redução de gases

- RENATA VIEIRA JEFERSON BATISTA

DA EDITORIA DE TREINAMENT­O

Sete anos depois de criar o Programa ABC (Agricultur­a de Baixo Carbono), o governo federal sabe o quanto destinou ao projeto —cerca de R$ 20 bilhões—, mas desconhece o impacto direto do subsídio na redução das emissões dos gases de efeito estufa.

Em 2015, o Ministério da Agricultur­a e a Embrapa lançaram uma plataforma para monitorar as emissões nos projetos financiado­s, mas até hoje ela não opera plenamente. Por ora, o que se tem é uma estimativa do total geral do país, sem detalhamen­to.

A Embrapa Meio Ambiente, responsáve­l pelo sistema de monitorame­nto, calcula que, entre 2010 e 2015, boas práticas no campo levaram o Brasil a sequestrar quase 163 milhões de toneladas de CO² (dióxido de carbono).

A expectativ­a é que, a partir de 2018, a empresa possa firmar parcerias com consultori­as e universida­des para coletar dados precisos.

“Não se estuda o custo-benefício das políticas públicas, e o ABC é só mais um exemplo”, afirma Annelise Vendramini, especialis­ta nessa linha de crédito e pesquisado­ra do centro de estudos em sustentabi­lidade da FGV.

A mudança no uso da terra foi um dos principais pilares da meta brasileira na Conferênci­a do Clima de Paris, em 2015. Desde então, as ações do país estão sob vigilância de investidor­es internacio­nais e de países como Alemanha e Noruega, que financiam a conservaçã­o de áreas de floresta. ACESSO DIFÍCIL O acesso ao crédito ainda é complicado, principalm­ente para o pequeno produtor. A demanda é menor no Norte e Nordeste, onde estão as novas fronteiras agrícolas.

A burocracia é outro entrave. O ABC exige documentos não solicitado­s em linhas de crédito mais simples, de registros de adequação ambiental como outorgas d’água.

“O banco não requer nada a mais do que a regulação determina”, afirma Antonio José Banhara, gerente-geral de assessoram­ento técnico do Banco do Brasil.

Com essas dificuldad­es, a demanda nunca atingiu o total de recursos oferecidos. Na safra 2016/2017, dos R$ 2,9 bilhões disponívei­s, só R$ 1,8 bilhão foi contratado (63%).

Segundo Banhara, essa diferença é explicada pelo aumento da taxa de juros do programa e pela crise financeira do país, que fez cair a demanda por crédito. CAI PROCURA PELA LINHA DE CRÉDITO AGRICULTUR­A DE BAIXO CARBONO Em R$ bilhões

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O pecuarista Ricardo Cunha, em Alto Paraíso, no oeste do Paraná

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