Jesus, Maria e José: migrantes e refugiados
A mais santa das famílias viveu o drama de milhões de pessoas dos nossos dias; neste Natal, fico pensando nos tantos que vivem assim
A história do nascimento de Jesus foi semelhante à de tantos filhos de migrantes e exilados de hoje. Os pais, Maria e José, viviam na Palestina, dominada pelo Império Romano. Ela estava grávida, prestes a dar à luz, quando um decreto do imperador César Augusto ordenou o recenseamento geral dos súditos: todos deviam alistar-se na cidade da própria origem.
Sabe-se lá quais eram as intenções do augusto César, se queria apenas conhecer o número de cidadãos sob o seu império ou controlar melhor os tributos. Talvez saber com quantos soldados podia contar para novas conquistas, ou para sufocar insurreições?
Ordens imperiais não se discutem. Também Maria e José partiram de Nazaré para Belém, na Judeia, de onde eram originários. Não ficava tão perto, e eram precisos vários dias de penosa caminhada, ou no lombo de um jumento. Nem pensar nos incômodos e riscos da viagem, ou no frio do inverno. Mas não eram os únicos, pois o povo migrava, já naquela época. O próprio poder dominante provocava migrações forçadas, deportações e limpezas étnicas. Já imaginamos a movimentação pelas estradas, aldeias e hospedarias por aqueles dias?!
Finalmente chegaram a Belém, felizes mas exaustos e apreensivos, pois o menino dava sinais de que queria nascer. As poucas hospedarias estavam cheias e, por mais que batessem às portas, ninguém abriu. São Lucas observa, simplesmente: “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7).
E Maria deu à luz fora da cidade, num abrigo para animais. Humildes pastores dos arredores ficaram maravilhados com o que viam e ouviam a respeito do recém-nascido. A escuridão da noite se iluminou, e o céu mandou seus mensageiros para anunciarem que esse menino era o filho do Altíssimo Deus, e seu nascimento traria grande alegria para todo o povo!
Um coro festivo de vozes celestiais cantava glórias a Deus e desejava paz aos homens de boa vontade. Maria e José contemplavam, em profundo silêncio, a cena que os envolvia. As coisas sublimes não carecem de muitas palavras. Melhor, o silêncio, as melodias, a poesia.
Jesus veio ao mundo como um migrante e experimentou a rejeição e as agruras dos milhões de homens, mulheres e crianças migrantes dos nossos dias, enxotados de suas casas e de suas terras por guerras, perseguições e projetos de comerciantes poderosos de petróleo ou de armas. Outros são ameaçados por fanáticos supostamente religiosos ou por políticos obcecados por suas ideologias.
Milhões de Marias, Josés e Jesus são empurrados pela fome, a miséria e a violência para o deserto, o mar, as estradas, contra muros e cercas de fronteiras... Césares do nosso tempo sacrificam sem piedade a pobre gente, que só quer trabalhar e viver em paz; inescrupulosos mercadores de escravos exploram, até o limite do suportável, homens, mulheres e crianças e os descarregam nas fronteiras de algum país ou abandonam no meio do mar.
Para José e Maria, a paz do Natal durou pouco. O rei Herodes ficou muito preocupado com aquilo que se dizia do menino nascido em Belém. Informantes e bajuladores o advertiam sobre o risco de deixar crescer esse suposto “rei dos judeus”, que acabara de nascer.
Informado que o ciumento Herodes queria matar o menino, para não correr nenhum risco de perder o trono para ele no futuro, o bom José, mais que depressa, tomou o pequeno Jesus e sua mãe e fugiu para o Egito. Migrante forçado para salvar a vida, e em precárias condições, ele teve que enfrentar mais uma longa viagem, atravessar o deserto e a fronteira, viver como exilado, achar um abrigo e um trabalho para sustentar a família.
A mais santa das famílias viveu o drama de milhões de migrantes e refugiados dos nossos dias. Neste Natal, fico pensando em tantas pessoas e famílias que vivem hoje em condições semelhantes. CARDEAL DOM ODILO PEDRO SCHERER,
LUIZ GROFF
STF O editorial da Folha foi ao ponto ao comentar as decisões dos digníssimos ministros do STF (“Cada um por si”, “Opinião”, 24/12). Para o Judiciário, o Legislativo e o Executivo, o Brasil é feito de diversas ilhas feudais onde cada um faz o que bem entende, não se preocupando com o bem maior. Ainda teremos que caminhar “zilhões” de anos para que a competência pública seja de fato exercida e fique acima do ego de cada um.
ADAUTO LEVI CARDOSO
O pouco caso que os ministros do STF dispensam aos brasileiros é preocupante. A despeito do rebuscamento e prolixidade da falação, as excelências revelam-se, no comportamento (e nos julgamentos), extremamente vulgares. E aí cai por terra a áurea de sapiência que sempre imaginaram ter e na qual o povo acreditava. O fato em si é quase imperceptível, mas perigoso. Outrossim, não há sinais de que se deem conta da repercussão de seus atos, ao contrário, parece que a tendência é piorar.
JOSÉ DE SOUSA SANTOS
José Dirceu O teto do INSS, que quase ninguém consegue, é de pouco mais de R$ 5,5 mil. Como pode um deputado cassado e condenado por corrupção receber R$ 9,6 mil (“José Dirceu terá aposentadoria de R$ 9,6 mil”, “Poder”, 23/12)? Só no Brasil!
PAULO TARSO J. SANTOS
Educação
Sobre a coluna de André Singer, quando vemos tantos comentaristas assíduos torcendo a favor da perseguição judicial contra uns e a seletividade evidente escancarada para o privilégio de outros, principalmente nos casos de São Paulo, fica patente que são coisas mandadas (“Desequilíbrio gritante”, “Opinião”, 23/12). É muita falta de discernimento aliada à péssima compreensão de texto, seletiva e conveniente. Perto das eleições, tende a piorar bastante.
ANTONIO CATIGERO OLIVEIRA
Aeroporto de Brasília A Folha erra ao afirmar que a “Engevix é suspeita de fazer pagamento ilegal em aeroporto” (“Aeroporto de Brasília pode ter pago propina milionária”, “Mercado”, 22/12). O texto não apresenta um fato concreto que sustente uma notícia e menospreza a inteligência do leitor quando veicula uma suspeita sem estar lastreada por nem uma fonte sequer. Além disso, a Engevix não fazia parte do consórcio Inframérica, e sim a Infravix. A reportagem envolve ainda de forma irresponsável o presidente da Nova Engevix, José Antunes Sobrinho.
LUIZ CARLOS DUARTE,