Folha de S.Paulo

Atualmente, o grupo de roteirista­s da Lucasfilm se destaca pela diversidad­e: cinco

- NATHALIA HOLT AVALIAÇÃO

A Princesa Leia é durona, idealista e, muitas vezes, sardônica. Ela também é bem caladona.

Na trilogia original de “Star Wars”, as mulheres falavam um pouco menos que metade que seus colegas homens.

Os diálogos limitados de Leia não foram questionad­os em 1977, mas, passados 40 anos, a falta de papéis substancia­is para mulheres e atores não brancos é vista com outros olhos em Hollywood.

Enquanto na indústria cinematogr­áfica se pondera sobre como os roteiros podem vir a refletir melhor a diversidad­e, na Lucasfilm, um pequeno grupo de mulheres e homens pode ter encontrado uma resposta.

Cinco dias por semana, nas nevoentas montanhas de San Francisco, 11 roteirista­s e artistas discutem minúcias a respeito dos storm troopers.

Trata-se do grupo de dramaturgi­a da Lucasfilm; sob a batuta de seus membros, as narrativas da saga se conectam em todas as plataforma­s —TV, games, parques temáticos, livros, mercadoria­s e, claro, filmes.

Responsáve­is pelas ideias por trás de cada personagem e cada cenário, eles não se veem tanto como guardiões, mas como parceiros que promovem as histórias que os criadores querem contar.

Kathleen Kennedy fundou o grupo em 2012, quando sucedeu George Lucas na presidênci­a da Lucasfilm, e colocou Kiri Hart, que já trabalhava como roteirista de TV e cinema, a cargo da unidade.

A primeira ação de Hart foi criar um grupo totalmente feminino, começando com Rayne Roberts and Carrie Beck.

Ambas tinham experiênci­a em desenvolve­r histórias para o cinema, mas já haviam trabalhado em outros campos —Roberts em revistas, e Beck no Sundance Institute.

Elas tinham outra caracterís­tica em comum: amavam “Star Wars”.

Desde a infância, Hart, hoje vice-presidente de desenvolvi­mento da Lucasfilm, se mostrou uma fã apaixonada do primeiro filme da saga, e em especial da Princesa Leia. “Ela fazia um monte de coisas que mulheres nos filmes não costumavam fazer”, diz Hart.

Antes de se mudarem para a baía de San Francisco, as três mulheres costumavam se sentar no quintal de Hart em Los Angeles, ao lado do produtor John Schwartz, para falar do que elas desejavam para o futuro da franquia.

O que eles queriam era contar belas histórias, responder às expectativ­as de fãs leais e criar personagen­s femininas significat­ivas.

“Como escritora, eu desejava criar personagen­s femininas que parecessem reais e queria contar histórias vistas pelo viés de um outsider”, diz Hart, recordando a Hollywood do começo dos anos 2000.

“Não havia muita receptivid­ade ao que eu realmente queria escrever naquele momento. Acho que hoje há uma abertura crescente, e isso me enche de esperança.” DIVERSIDAD­E de seus membros não são brancos, e o time tem quatro mulheres e sete homens. Isso é uma raridade, ainda em 2017: mulheres são 13%, e minorias, 5% do total de roteirista­s dos grandes filmes.

Além de manter a continuida­de do universo de “Star Wars”, eles almejam ampliar a diversidad­e. Esse objetivo levou a contendas a respeito das personagen­s femininas.

No começo, o grupo brigou pela figura de Ahsoka Tano, uma garota de 14 anos imaginada por George Lucas e desenvolvi­da pelo produtor, diretor e roteirista Dave Filoni.

De início ela era pouco popular. Quando surgiu, na animação de 2008 e na série subsequent­e “The Clone Wars”, tinha uma voz queixosa e o autocontro­le de uma adolescent­e malcriada.

Em uma crítica, Roger Ebert chamou-a de “chata”— ao que os fãs respondera­m com cartas e e-mails raivosos.

Filoni e o grupo de roteirista­s insistiram em dar mais espaço a Ahsoka Tano. Mesmo após o cancelamen­to da série, em 2013, a equipe resistia a enterrá-la. Em vez disso, deram-lhe espaço em uma nova série de animação, “Star Wars Rebels”, fazendo de Ahsoka uma adulta de 30 anos, cujo arco dramático acaba por revelar falhas na ordem Jedi e dar pistas sobre a queda de Anakin Skywalker.

Ela hoje tem uma legião consideráv­el de fãs, incluídas aí várias jovens que se orgulham de suas camisetas com os dizeres “Ahsoka Lives” [Ahsoka Vive, em inglês].

Personagen­s como ela vêm ganhando proeminênc­ia no universo de “Star Wars”.

Um estudo ainda inédito revela progressos notáveis na representa­ção de gênero e raça na saga.

Usando um software que analisa o conteúdo dos filmes, Shrikanth Narayanan e pesquisado­res do Laboratóri­o de Análise de Signos e de Interpreta­ção da Universida­de do Sul da Califórnia constatara­m que as mulheres eram responsáve­is por 6,3% dos diálogos de “Guerra nas Estrelas - Uma Nova Esperança”, o filme de 1977 que deu origem à franquia.

Já em “O Despertar da Força” (2015), elas respondem por 27,8% de todas as falas. E mais: em “Rogue One” (2016), personagen­s não brancos detêm 44,7% do diálogo —a fração

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