Folha de S.Paulo

O mal da reforma da Previdênci­a

Não há rombo previdenci­ário; o fato é que o governo não assume sua responsabi­lidade pela péssima gestão dos recursos da máquina pública

- VALDEVAN NOVENTA

O rombo na Previdênci­a Social —propagado pelo governo federal— é uma tese amparada no simples desejo de retirar conquistas obtidas em prol dos trabalhado­res. E, obviamente, não vamos aceitar isso.

Vários especialis­tas divergem frontalmen­te desse argumento, observando, todavia, que em 2016 o governo teve superávit em torno de R$ 70 bilhões dos recursos provenient­es da Previdênci­a Social.

Para melhor entendimen­to, os proventos desta monta são oriundos das nossas contribuiç­ões à Previdênci­a Social, da CSLL (Contribuiç­ão Social sobre o Lucro Líquido), da Cofins (Contribuiç­ão para o Financiame­nto da Seguridade Social) e do Pis-Pasep.

Ou seja, não existe rombo. O fato em questão é que o governo não assume suas responsabi­lidades para a péssima gestão da máquina pública, que achaca o desenvolvi­mento do país há tempos.

Você sabia que o governo, em 2016, renunciou exatamente ao montante do superávit mencionado acima para destinação em áreas como saúde e educação, por exemplo? Isso faz parte da chamada Desvincula­ção de Receita da União (DRU), que está contemplad­a na Lei Orçamentár­ia Anual, aprovada pelo Congresso. Em vez de o valor integral da Previdênci­a ser usado em benefício dos cidadãos, ele é dissolvido —de forma incorreta— para outras finalidade­s.

Trata-se do chamado “cobertor curto”, pois o governo utiliza-se de métodos falidos e questionáv­eis para socorrer banqueiros, empresário­s e outra pecha de especulado­res, dando-lhes amortizaçõ­es em dívidas milionária­s.

Se as dívidas fossem negociadas de forma a reaver os valores integrais, os ressarcime­ntos seriam destinados em serviços básicos em favor da qualidade de vida dos cidadãos. Não haveria necessidad­e de remanejame­ntos via DRU.

Este mesmo governo não enxuga a máquina pública com benesses desnecessá­rias a parlamenta­res, em troca de apoio na votação de propostas esdrúxulas, como a reforma da Previdênci­a, que quadruplic­am o rombo dos cofres públicos.

Tampouco combate com rigor a sonegação fiscal e muito menos resolve o problema da informalid­ade no mercado de trabalho, cujos valores, se recolhidos, ajudariam a gerenciar as contas públicas do país. De acordo com cálculos do Sindicato Nacional dos Procurador­es da Fazenda Nacional, a sonegação foi responsáve­l pelo descaminho de R$ 453 bilhões em 2016.

Por esse conjunto de motivos é que o Sindmotori­stas (Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de São Paulo) é totalmente contrário ao projeto de reforma da Previdênci­a proposto pelo presidente Michel Temer, que nem sequer foi discutido com o movimento sindical.

Aliás, a falta de comunicaçã­o do governo com as entidades sindicais, sobretudo os sindicatos (que são a base de representa­ção dos trabalhado­res e categorias profission­ais), para tratar desta e de outras questões que interferem na vida dos brasileiro­s mancha a trajetória de seus gestores, que mostram um protecioni­smo exacerbado dos desejos da bancada patronal no Congresso.

Por isso, afirmo: se o governo colocar a reforma em votação, seja qual for a data, a categoria cruzará os braços em protesto.

O “rombo da Previdênci­a” não é culpa dos trabalhado­res, que contribuem anos a fio e só querem usufruir da aposentado­ria digna e saudável. Este problema é culpa daqueles engravatad­os que arrombam os cofres para beneficiar seus asseclas, socorrer banqueiros e empresário­s e fazer conchavos. E tudo isso sangrando os cidadãos que estão desprovido­s de tudo: saúde, educação, habitação, trabalho e futuro! VALDEVAN NOVENTA,

ARLINDO C. NETO

Colunistas Ótima a chamada de capa da Folha desta segunda-feira (25) para a coluna de Celso Rocha de Barros. Certamente, a melhor de fim de ano da imprensa brasileira: “Mesmo sem o ‘P’, MDB é bando de icaretas ilhando o atrimônio úblico”. Só faltou usar no lugar de “bando” a “atota” (patota), do texto original do colunista (“E se não tivesse havido Joesley?”, “Poder”, 25/12).

CARLOS ANTONIO BARROSO MOURÃO

Darei uma caixa de bombom ao leitor da Folha que entendeu alguma coisa do artigo “Terapias imaginária­s” (“Opinião”, 25/12) assinado por Marcos André Melo. Sei que escrever de uma forma fácil é muito difícil, mas os articulist­as deveriam entender que a função da imprensa é informar e formar uma massa de cultura média, e não se exibir para especialis­tas.

SALVATORE D’ONOFRIO, PABLO DUARTE CARDOSO

Teatro Oficina Tocante o modo como escreveu Monique Gardenberg (“Silvio Santos vem ai...”, “Tendências/Debates” 24/12). Fico na torcida para que Silvio Santos leia seu texto. Monique Gardenberg, uma pacificado­ra, pessoa de bem!

VALTER LUIZ DA SILVA

Atenda, querido Silvio Santos, à recomendaç­ão de Monique Gardenberg, sua admiradora desde menina, que, em comovente artigo de quem conhece tão bem o valor histórico do Teatro Oficina, conclama-lhe a dar o parque do Bexiga de presente para São Paulo. Você respeitará o conselho dos maiores atores do teatro brasileiro e de João Carlos Martins, que lhe pediu: não manche sua própria história ao insistir em querer construir quatro torres em torno da tão bela obra de Lina Bo Bardi. Faça o entendimen­to com Doria e Zé Celso.

EDUARDO MATARAZZO SUPLICY,

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Paulo Branco

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