Santos inocentes
É das histórias mais populares do cristianismo: para eliminar o recém-nascido Jesus, o rei Herodes manda matar todas as crianças de até dois anos em Belém.
O episódio é rememorado neste 28/12 como Dia dos Santos Inocentes, referência aos bebês que teriam sido mortos. No mundo hispânico, a data é celebrada com “pegadinhas” de todo tipo —a mídia brinda os leitores com notícias falsas e chistosas.
Dá até saudades da época em que as notícias falsas eram assim, inocentes, pois poucos adjetivos poderiam estar mais distantes da realidade. De inocentes mesmo só sobraram as soluções aventadas para o problema.
Uma delas foi colocar bandeiras questionando a veracidade dos posts. O Facebook acaba de abandonar a ideia porque a sinalização teve efeito contrário ao pretendido.
Outra iniciativa foi literal e metaforicamente para inglês ver: a publicação de anúncios nos jornais britânicos ensinando a identificar notícias falsas, como se o público-alvo da prática fosse o que lê a imprensa.
O Google impulsiona projetos em que jornalistas checam informações. Também aí há um quê de enxugar gelo —o alcance da notícia inventada tende a superar o da checagem.
O problema é deixar na mão das empresas a busca por uma saída. É anticapitalista esperar isso delas, pois uma solução de fato envolveria mudar práticas que trazem de berço.
Rastrear de maneira eficaz a publicação de posts e publicidade no Facebook e no Google demandaria subir a barreira de entrada de pessoas e anunciantes nas plataformas. Descobrir a origem de uma mensagem falsa no WhatsApp exigiria armazenar informações trocadas pelo aplicativo e quebrar sua criptografia.
Dá trabalho seguir o dinheiro que alimenta o mercado de notícias. Eleições são momento especialmente bom para esse trabalho porque o problema invade a esfera criminal. Isso legitima discutir quando modelos de negócio cruzam o caminho da lei. roberto.dias@grupofolha.com.br