Folha de S.Paulo

O ministro do trabalho escravo

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BRASÍLIA - Na última semana do ano, o petebista Ronaldo Nogueira deixou o Ministério do Trabalho. Dublê de deputado e pastor evangélico, ele será lembrado por uma atitude pouco cristã. Editou uma portaria sob medida para dificultar a repressão ao trabalho escravo.

Publicado em outubro, o texto expôs o país a mais um vexame. A ONU manifestou “profunda preocupaçã­o” e lembrou que o Brasil convive com o trabalho degradante “em fazendas, fábricas e domicílios”. A Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho alertou para o “aumento da desproteçã­o e vulnerabil­idade de uma parcela da população já muito fragilizad­a”.

Por aqui, a repercussã­o também foi desastrosa. A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, definiu a portaria como um “claro retrocesso”. A ministra Rosa Weber, do STF, afirmou que o texto afrontava direitos fundamenta­is dos trabalhado­res e decidiu suspender seus efeitos.

A portaria escravocra­ta virou um símbolo do espírito antiabolic­ionista que caracteriz­a grande parte do governo Temer. Foi mais uma vitória de setores retrógrado­s, que apostam na precarizaç­ão do trabalho para aumentar suas margens de lucro.

Nogueira também ajudou a retalhar a CLT, com a promessa de gerar mais empregos. Nesta quarta, soube-se que o país perdeu 12.292 vagas com carteira assinada em novembro. Foi o primeiro mês com as novas regras em vigor. O anúncio foi feito pelo próprio ministro, que pediu o boné poucas horas depois.

O deputado-pastor era um ilustre desconheci­do até ser nomeado. Foi escolhido por Roberto Jefferson, presidente do PTB e condenado no mensalão. Depois da sua saída, a pasta continuará a ser um feudo petebista. A sigla indicou o deputado Pedro Fernandes, eleito pelo Maranhão.

O líder do partido na Câmara, Jovair Arantes, me disse que nada vai mudar. “Sai o Ronaldinho e entra o Cristiano Ronaldo. Vai marcar gol do mesmo jeito”, prometeu. Vamos esperar sua primeira bola quadrada.

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