Folha de S.Paulo

O resgate da Urca

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RIO DE JANEIRO - Num ano de tantas más notícias para os fluminense­s, é bom fechar a temporada olhando para coisas boas, pequenos milagres que dão esperança em meio ao caos generaliza­do. Por exemplo, o resgate da histórica praia da Urca.

Situada dentro da poluída baía de Guanabara, ela voltou a ter águas frequentáv­eis graças a um programa de saneamento dos governos estadual e municipal, que durou alguns anos. Das 91 medições de balneabili­dade feitas lá neste ano (quase duas por semana, portanto) pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), em apenas nove a praia não esteve própria para o banho.

O resultado é excelente não apenas em comparação com o passado recente da Urca, mas mesmo com outras areias mais badaladas no litoral carioca, como certos trechos de Ipanema, Leblon e Barra, que estiveram inutilizáv­eis por mais dias, em 2017.

A praia também escapou do demofóbico rearranjo dos itinerário­s de ônibus da zona sul do Rio, que quase extinguiu o trajeto do 107, que liga a Central do Brasil —por onde chegam de trem os moradores da Baixada e dos subúrbios— à Urca, passando em frente à praia. Com isso, ainda é possível ver uma frequência bem mista naquelas areias, com muita gente que não vive no bairro e que se vale do ônibus para chegar ali.

A região é buscada principalm­ente por famílias com crianças pequenas, por sua segurança —suas águas são plácidas, sua extensão é limitada (cerca de 100 m) e o bairro tem uma das menores taxas de criminalid­ade do Rio— e pela maravilha de cenário, aos pés dos morros da Urca e do Pão de Açúcar, com vista para o Corcovado e para o prédio do antigo cassino.

A Urca mostra que, mesmo dentro de um grande fracasso —o da despoluiçã­o da baía de Guanabara—, podem surgir pequenas vitórias. A crença nisso é que o resta aos cariocas para 2018. marco.canonico@grupofolha.com.br MATIAS SPEKTOR

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