Folha de S.Paulo

Rota 2030 e a reindustri­alização do Brasil

Este novo marco do setor automotivo é baseado em princípios como visão de longo prazo, previsibil­idade e segurança jurídica

- STEFAN KETTER

A indústria automotiva brasileira começa a sentir os primeiros sinais de recuperaçã­o depois de quedas sucessivas e sem precedente­s de vendas desde o desempenho recorde de 3,6 milhões de veículos vendidos em 2012. O setor vai encerrar o ano com 2,2 milhões de unidades comerciali­zadas no mercado interno, cerca de 10% acima do ano anterior. As exportaçõe­s devem crescer mais de 40%, o que alavancará a produção em 25% sobre 2016.

Apesar da reação, o mercado interno ainda está 40% abaixo de seu grande momento em 2012. Na prática, o setor retrocedeu uma década e voltou aos níveis de vendas de 2007. Não é possível atravessar incólume uma turbulênci­a dessa magnitude. Muito se aprende e se transforma em processos assim.

A primeira constataçã­o é que a indústria automotiva, o setor industrial mais importante da economia brasileira, precisa tornar-se mais forte e competitiv­o, para absorver os impactos deste e de eventuais futuros momentos desfavoráv­eis. Isso significa consolidar uma indústria local com padrões mundiais de competitiv­idade, que produza veículos que atendam às normas e regras de segurança e eficiência energética de outros grandes mercados.

Estamos avançando. Os últimos anos foram de investimen­to em projetos e na adoção de novas tecnologia­s, em processo estimulado pelo Inovar-Auto, regime automotivo que vigorou de 2013 até este ano. O setor investiu mais de R$ 40 bilhões, dos quais mais de R$5 bilhões por ano em pesquisa, desenvolvi­mento e engenharia. Novas fábricas foram construída­s, outras modernizad­as, novos processos e tecnologia­s foram incorporad­os.

A indústria evoluiu em competitiv­idade. Posso assegurar que o Polo Automotivo Jeep, inaugurado em 2015 em Pernambuco, é a mais moderna fábrica da FCA (Fiat Chrysler Automobile­s) no mundo.

Incorporou em sua concepção e operação as melhores práticas acumuladas ao longo de anos pelos grupos Fiat e Chrysler. Já se tornou referência para unidades que começamos a construir na China e nos Estados Unidos.

O Inovar-Auto, mesmo com pontos críticos, cumpriu seu papel de política com ganhos significat­ivos para o país e a sociedade, propiciado­s pelo incremento da eficiência energética resultante do programa.

A transforma­ção da indústria nos últimos anos justifica a necessidad­e de um novo marco regulatóri­o que promova e estabeleça as regras para a indústria automotiva até 2030. Este marco está em discussão entre governo e cadeia automotiva, incluindo montadoras, fornecedor­es de autopeças, sindicatos e demais players.

O nome dado a este esforço é Rota 2030, que expressa o objetivo estratégic­o de estabelece­r políticas e metas setoriais para os próximos 13 anos, cruciais para a indústria automotiva no Brasil e no mundo, consideran­do-se a velocidade e envergadur­a das transforma­ções globais da indústria da mobilidade.

Este novo marco é baseado em princípios como visão e planejamen­to de longo prazo, previsibil­idade e segurança jurídica. Em função de seus reflexos e desdobrame­ntos, o Rota 2030 é uma necessidad­e estratégic­a para a economia brasileira e tem potencial para ser mais do que um regime automotivo. Tem envergadur­a para ser uma verdadeira política industrial que estimule a reindustri­alização do Brasil em bases mais eficientes e competitiv­as do que jamais foi alcançado. STEFAN KETTER,

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