Folha de S.Paulo

O líder Aécio

- JANIO DE FREITAS

Alckmin quis presidir o partido e sua restauraçã­o política e ética. Ele continua alheio aos fatos e ao país

AS INFORMAÇÕE­S que situam o senador Aécio Neves como recordista de arrecadaçã­o no mercado de subornos —e nem por isso contêm todo o seu histórico— têm múltiplos efeitos. Pessoais, claro, mas também políticos, com decorrênci­as agravantes na cisão do PSDB e desgastant­es para Geraldo Alckmin e sua candidatur­a.

Tomar R$ 50 milhões em um único ataque é um feito que não consta nem no currículo de Geddel Vieira Lima, cujas embalagens diferentes indicam que os seus R$ 51 milhões em dinheiro vieram de vários achacados.

Os R$ 30 milhões tomados da Odebrecht e os R$ 20 milhões da Andrade Gutierrez, em troca de fortalecê-las na licitação para a hidrelétri­ca de Santo Antonio, começam por derrubar a defesa de Aécio e sua irmã Andréa para os R$ 2 milhões tomados de Joesley Batista. O caixa tão fornido destrói a mentira de que Aécio precisava de “um empréstimo” para pagar sua defesa no que eram as primeiras denúncias.

Ainda no plano pessoal, o detalhamen­to das operações, feito pelas duas empreiteir­as até com alguns recibos de depósito, lança no caldeirão o mais próximo e, há muito se diz, o mais confiável amigo de Aécio. Alexandre Accioly, controlado­r (ao menos aparente) de negócios bem sucedidos, apenas raspara na Lava Jato.

Os repórteres Bela Megale e Thiago Herdy, de “O Globo”, encontrara­m agora citações a Accioly como receptador de Aécio e contas, para isso, em Cingapura e nas Ilhas Marshall, Oceania.

A negação de Accioly, desde muito citado no Rio como cobertura do sócio oculto Aécio Neves, não chegou a esclarecer nem ao menos a polêmica sociedade das academias BodyTech, também citadas em receptaçõe­s sob investigaç­ão.

Menos obscuras, como componente­s do golpe em Furnas, as relações de Aécio e seu protegido Dimas Toledo ampliam-se nos relatos dos milhões por Santo Antonio. A gravidade desta transação, com a persistent­e presença dos dois amigos de fé, suscita a expectativ­a de que afinal se desvendem outros casos já bastante citados e nunca publicávei­s, por falta de provas.

Esse é o Aécio Neves que a cúpula do PSDB prestigiou, há três semanas, contra o cofundador do partido Tasso Jereissati, na disputa entre os aecistas e os desejosos de reabilitar o desmoraliz­ado peessedebi­smo.

Como presidente incumbido da restauraçã­o que não fará, Alckmin significou uma proteção para Aécio Neves, então já assoberbad­o com acusações. Ao menos em favor da própria face, o novo “presidente” precisava ter dito ou feito algo que marcasse a sua e a nova propensão do partido na discussão, intensa, sobre o caso Aécio no peessedebi­smo. Alckmin, é de seu hábito, preferiu omitir-se.

O pequeno tempo desde então foi suficiente para multiplica­r a gravidade do caso Aécio.

Alckmin quis a responsabi­lidade de presidir o partido e sua restauraçã­o política e ética. Até o momento de quarta em que escrevo esta nota, ele continuava alheio aos fatos. Alheio ao país. Que lhe falte talento político, não precisa comprovar.

Mas sobretudo não precisa mostrar que, por falta de outras coisas, faz no PSDB o papel de mais um testa de ferro de Aécio Neves, que continua no controle de fato.

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