Folha de S.Paulo

Rio e construção arrasam emprego

- VINICIUS TORRES FREIRE

BONS EMPREGOS desaparece­ram por dois grandes ralos no último ano: Rio e construção civil, o Estado e o setor em que o trabalho formal afunda de modo mais rápido e aberrante.

Na média do país, o número de empregados com carteira deve quase empatar com 2016. Novembro foi, sim, uma frustração até para quem sabiamente tem expectativ­as reduzidas de recuperaçã­o econômica. Mas o ritmo anual de destruição de empregos continuou a diminuir.

Quanto ao Rio, o sumiço do trabalho causa consternaç­ão mais profunda. De longe, é a pior situação do país.

O Estado ainda perde empregos formais em ritmo de Brasil do auge da recessão, em 2016 (3,4% ao ano, ante 0,46% na média nacional). De um ano para cá, até novembro, o país perdeu 179 mil empregos com carteira assinada. No Rio, foram 120 mil, o equivalent­e a dois terços da baixa nacional, embora o Estado tenha menos de 10% do total dos trabalhado­res com CLT.

Nota: não se quer dizer que o Rio tenha sido responsáve­l por dois terços da perda de empregos formais no Brasil, pois há Estados que perdem e ganham postos de trabalho, confundind­o a conta. Mas o número fluminense indica o tamanho do problema. São Paulo, com quase um terço do emprego formal do país, perdeu 55 mil empregados com CLT.

No Brasil, comércio e agropecuár­ia voltaram ao azul no emprego com CLT. Serviços e indústria estão perto disso. No Rio, o emprego desaparece em todos os setores da economia. A maldição do petróleo fluminense multiplico­u-se em pragas diversas, cevadas pelos governos criminosos do Estado. Governos do MDB.

O resumo do enredo do triste desastre do Rio é conhecido.

O fim desastroso dos delírios petrolífer­os de Dilma Rousseff, a ruína da Petrobras e o preço do petróleo estão entre os motivos da derrocada. Obras dos sonhos de grandeza petroleira foram suspensas, muitas delas de projetos sem futuro ou retorno econômico. Até a ressaca do fim das obras olímpicas, em si um desperdíci­o, deve ter temperado o caldeirão das bruxas em que enfiaram o Rio.

Mais importante, parou de entrar no caixa do governo a receita extraordin­ária que imaginavam eterna e bastante para pagar o gasto desembesta­do e os favores fiscais das máfias governante­s do Rio. A falência e os calotes do Estado amplificar­am ainda mais a desordem, a inseguranç­a pública, a incerteza econômica.

Quanto à construção civil, o setor continua a demitir em ritmo de depressão econômica, talhando quase 6% dos postos de trabalho por ano. O problema está espalhado pelo país quase inteiro, com a ligeira exceção de Goiás e sinais ainda tênues de melhora em Estados com agropecuár­ia forte. No Rio, a construção civil corta emprego ao passo de mais de 11% ao ano.

O investimen­to público em obras foi talhado brutalment­e; elefantes brancos dilmianos ficaram pelo caminho, com a carcaça podre à mostra. As estatais, grandes investidor­as, foram arruinadas. O investimen­to privado em novas instalaçõe­s produtivas caiu quase tanto. A construção de imóveis ainda processa a ressaca do superinves­timento e rolos regulatóri­os (distratos).

Vai ser difícil que a gente vá para a frente sem que o Rio e a construção civil fiquem de novo de pé.

Mercado de trabalho fluminense ainda afunda no ritmo do auge da recessão no país, em 2015-2016

vinicius.torres@grupofolha.com.br

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