Novo regime fiscal abriu espaço para juro menor e retomada
Economistas da linha de Barbosa tiveram sua chance e nos conduziram à pior recessão da história recente
FOLHA
Nelson Barbosa segue em retirada, tentando não ser tão rápido que pareça covardia, nem tão devagar que soe como provocação.
Agora já reconhece (depois de apenas três advertências!) que programas de ajuste fiscal ancorados em corte de gastos têm efeitos contracionistas modestos e de curta duração, ao contrário de ajustes baseados em aumentos de impostos.
E aceita também a necessidade de elevar o resultado primário em R$ 300 bilhões nos próximos anos, fruto dos desarranjos de políticas econômicas que patrocinou enquanto ocupava altos cargos na equipe da presidente Dilma Rousseff.
Como, porém, não consegue deixar de ser Barbosa, ainda insiste em aumentos de impostos, ignorando a recuperação da economia, que, por si só, deve elevar em R$ 100 bilhões a arrecadação no ano que vem.
Admite até a conveniência da “redução de crescimento dos gastos”, progresso para quem defendeu o oposto disso no artigo “A Inflexão do Governo Lula: Política Econômica, Crescimento e Distribuição de Renda” (goo.gl/ wYDoMs). Professa, afinal, a necessidade de reforma da Previdência, bem como adiamento do reajuste de servidores, o mesmo acordado quando era ministro.
Tudo em teoria, claro, porque, na hora do “vamos ver”, reclama da contenção de gastos e não apoia a reforma da Previdência agora em pauta. Da mesma forma, em janeiro de 2016 defendia um teto de gastos, mas em setembro atacava medida similar. A diferença? No primeiro caso, era vidraça; no outro, estilingue.
Não tenho a menor dúvida sobre a coerência de Barbosa: é uma coerência de fins, nunca de ideias, motivo pelo qual honestidade intelectual não é sua característica mais marcante.
Ele se diz contrário ao corte do investimento público (mesmo se vangloriando do “maior contingenciamento de gastos discricionários da história”), mas não assume a responsabilidade pelo aumento da rigidez orçamentária em seu longo período em cargos-chave do Ministério da Fazenda, fenômeno que limitou ao investimento federal o raio de ação de qualquer governo empenhado em reduzir a despesa.
Caso, em vez de defender a “inflexão de política econômica” no final do governo Lula, tivesse proposto medidas para conter gastos obrigatórios, talvez não houvesse a necessidade de cortar investimentos, mas es- sa parte da história Barbosa mantém cuidadosamente escondida.
E, por fim, Barbosa ainda desconsidera que os movimentos no sentido da criação de um novo regime fiscal abriram espaço para uma queda sem precedentes da taxa real de juros, dessa vez com a redução da inflação.
É esse fenômeno que se encontra na raiz da recuperação da demanda doméstica, a mesma que ele garantia que não iria ocorrer (mas agora, claro, nem sequer toca no assunto).
A verdade é que economistas da linha de Barbosa tiveram sua chance e nos conduziram à pior recessão da história recente do país, o que Barbosa tenta a todo custo ocultar.
Há, porém, quem lembre; assim como há os que jamais os deixarão esquecer. ALEXANDRE SCHWARTSMAN,
www.schwartsman.com.br
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