Folha de S.Paulo

Globalizaç­ão financeira e desigualda­de

- LAURA CARVALHO Escreve às quintas-feiras nesta coluna. COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Ronaldo Caiado; domingo: Samuel Pessôa

NO ARTIGO “The Aggregate and Distributi­onal Effects of Financial Globalizat­ion”, publicado em setembro, os economista­s do FMI Davide Furceri, Prakash Lungani e Jonathan Ostry investigar­am os efeitos da globalizaç­ão financeira sobre o desempenho e a distribuiç­ão de renda nos diferentes países.

Ao contrário do que prevê a teoria econômica convencion­al, o estudo apontou que os efeitos sobre o cresciment­o de abrir a economia para a maior entrada e saída de capitais financeiro­s são, em média, limitados. Ao mesmo tempo, concluiu que a liberaliza­ção financeira amplia desigualda­des de renda de forma significat­iva.

Tais resultados variam muito, a depender dos aspectos institucio­nais de cada país. Os efeitos da liberaliza­ção sobre a desigualda­de e o produto parecem ser mais nefastos em países com sistemas financeiro­s menos desenvolvi­dos e inclusão financeira menor.

Os autores mostram ainda que a abertura financeira reduz a parcela da renda nacional que é destinada aos salários, sobretudo em indústrias com alta dependênci­a de financiame­nto externo.

A conclusão é que “países onde a redução da desigualda­de é um objetivo de política importante podem precisar moldar a liberaliza­ção de modo a equilibrar seu impacto sobre a equidade contra os outros efeitos”.

Em particular, os autores sugerem a restrição a certos fluxos de capitais, tais como os fluxos especulati­vos com carry-trade, que visam apenas obter retorno com juros mais altos, ou os fluxos que exacerbam booms pouco saudáveis no preço de ativos e no crédito.

O estímulo à entrada de capitais deveria ser direcionad­o, ao contrário, àqueles fluxos financeiro­s que levam ao aumento sustentado do cresciment­o, tais como investimen­tos de longo prazo na construção de novas unidades produtivas.

No Brasil, há evidências de que os fluxos especulati­vos de capitais aumentam a volatilida­de do real e acabam atuando como causa adicional para as nossas altas taxas de juros. Dados a elevada concentraç­ão de riqueza e o baixo grau de inclusão financeira no país, isso certamente contribui para ampliar desigualda­des.

O estudo de Pedro Rossi apresentad­o no livro “Câmbio e Política Cambial no Brasil” aponta, por exemplo, para a necessidad­e de regular o mercado de derivativo­s e implementa­r controles simétricos sobre a compra e a venda de contratos futuros de dólar.

A dificuldad­e é que mudanças desse tipo devem ser feitas em meio a um contexto internacio­nal favorável, de forte entrada de capitais. Caso contrário, uma fuga de capitais poderia inviabiliz­ar a estratégia.

A entrada de investidor­es estrangeir­os interessad­os em retornos de curto prazo no último ano vem servindo, de novo, para prover o governo de frases comemorati­vas sobre a alta na Bolsa de Valores, a valorizaçã­o do real e a inflação baixa.

Mais uma vez, como em outros momentos dos anos 2000, esquece-se de que, na porta giratória do sistema financeiro internacio­nal, os capitais especulati­vos que entram em manada também costumam sair em manada. Com a elevação da taxa de juros nos EUA, há previsões de que isso aconteça em diversos países periférico­s ainda em 2018. LAURA CARVALHO,

A liberaliza­ção financeira amplia desigualda­des de renda, aponta estudo de economista­s do FMI

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