Folha de S.Paulo

RODA DO INFORTÚNIO

Lançado nos EUA à sombra das acusações contra Woody Allen resgatadas em meio a denúncias de assédio em Hollywood, ‘Roda Gigante’ estreia no Brasil; brilho de Kate Winslet reitera talento do cineasta na direção de atrizes

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Folha). A tese é um tanto forçada, já que quase todos os filmes do diretor falam de confusões amorosas, na linha de Jean Renoir (1894-1979). OUTRA VIDA No longa, Winslet é Ginny, mulher próxima dos 40 anos que trabalha em uma barraca de peixes. É casada com Humpty (Jim Belushi), o operador de um carrossel. Ginny tem um filho incendiári­o, o que já lhe causa uma série de problemas. E ainda tem um caso com o salva-vidas Mickey (Justin Timberlake), a quem considera um passaporte para outro tipo de vida.

Por outro tipo de vida entenda-se qualquer coisa distante do lugar onde mora: um parque de diversões à beiramar, em Coney Island, em cima de uma barraca de tiros e diante de uma roda-gigante.

Estamos nos anos 1950, num verão flagrado por Storaro em cores berrantes, homenagean­do o technicolo­r da época. Nesse cenário, surge a maluquinha Carolina (Juno Temple), filha de Humpty que se casou com um gângster e se arrependeu.

Com seu jeito adorável e seu interesse em literatura, Carolina desperta a paixão do salva-vidas, que também é aspirante a escritor. Com isso ela ameaça, sem saber, o plano de fuga de Ginny.

Desnecessá­rio dizer que a trama é ótima para Allen explorar as paixões e os sentimento­s conflitant­es dos personagen­s com uma direção primorosa, baseada em planos longos e muita movimentaç­ão da câmera, em um jogo feito de aproximaçõ­es e afastament­os lancinante­s.

O maior exemplo desse jogo está na cena em que Ginny desabafa com Mickey em sua própria casa, um desses momentos que normalment­e entram em clipes do Oscar, e que provam como uma encenação adequada valoriza ainda mais uma interpreta­ção.

A verdade é que, se não está à altura dos sublimes “Café Society” e “Magia ao Luar”, seus melhores filmes na década, “Roda Gigante” é bem superior a “Blue Jasmine” e “O Homem Irracional”.

Em grande parte a responsáve­l por isso é Winslet. WONDER WHEEL DIREÇÃO Woody Allen PRODUÇÃO EUA, 2017, 12 anos ONDE estreia nesta quinta (28) AVALIAÇÃO muito bom

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Kate Winslet em ‘Roda Gigante’, de Woody Allen

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