Folha de S.Paulo

Diretor do Afro Brasil ‘tocou nos meus genitais’, diz novo acusador

Segundo advogado, as acusações não têm respaldo ou provas

- ANNA VIRGINIA BALLOUSSIE­R GUSTAVO FIORATTI ISABELLA MENON

Uma nova denúncia de assédio foi lançada contra o diretor do Museu Afro Brasil, Emanoel Araujo, 77.

As novas acusações partiram de Raphael Arruda, 32, que diz ter trabalhado na entidade de 2014 a 2016, inicialmen­te para servir de recepcioni­sta na Copa do Mundo.

Ele conta à Folha que decidiu falar sobre seu caso após ler relatos semelhante­s, que vieram à tona nos últimos dias, de dois ex-funcionári­os.

Segundo Arruda, eram sistemátic­os os abusos cometidos pelo curador baiano e quatro o marcaram mais:

1) “Ele me viu passando no corredor estreito e veio para cima de mim, falou coisas e lambeu a minha orelha”;

2) “Durante uma abertura de exposição pede para um amigo dele tirar uma foto minha (sem meu consentime­nto) e diz que era para se masturbar depois”;

3) “Disse que o dinheiro que gastaria para trocar seu carro preferia gastar para ter meu corpo”;

4) “E, claro, já me tocou nos genitais”.

Procurado pela Folha, Araujo disse que se manifestar­ia por meio de seu advogado, Belisário dos Santos Júnior . Ele diz que “o curador “recebe com indignação a publicação de novas declaraçõe­s sem qualquer respaldo em prova ou em denúncia aos fatos relatados.” Arruda, diz ele ainda, era considerad­o “mau funcionári­o a ponto de ter sido demitido em razão de descumprir obrigações”. ‘PADRÃO’ operandi” nos assédios supostamen­te perpetrado­s pelo diretor do museu.

“Ele encontrava você em algum corredor, um lugar mais isolado, e vinha sem com mão boba aqui, mão boba ali. Pode perguntar para os outros, é um padrão.”

“Tenho carinho muito grande pelo Museu Afro Brasil e as pessoas que ali trabalham e até mesmo pelo sr. Emanoel, mas espero que ele responda diretament­e à população, à Justiça e às pessoas que feriu”, afirma Arruda em postagem no Facebook.

Segundo o advogado de Emanoel Araujo, o “museu não tem espaços físicos” como os que descreve Arruda.

“Suas paredes são de vidro. Os corredores de obras de arte são pensados para ampla circulação de público, inclusive de cadeirante­s. Isso pode ser conferido in loco.”

A Folha ouviu de três outras pessoas que passaram pela instituiçã­o que o clima de assédio era comum. Um exfuncioná­rio disse, em anonimato, que foi alvo de Araujo por meses, até voluntaria­mente se afastar do museu por não aguentar as investidas.

Procurado pela reportagem, o museu afirmou, por meio de sua assessoria, ter sido pego “totalmente de surpresa” pela acusação.

“Cumpre esclarecer não haver esse clima de ‘assédio’ dentro do museu. Os funcionári­os estão trabalhand­o, como sempre, no museu”.

A nota dizia ainda: “Não temos qualquer registro de reclamação no mesmo sentido. As decisões da diretoria e de seu conselho serão oportuname­nte dadas a público.” ENTENDA O CASO partilhar o que diz ter testemunha­do ou sentido na pele em cinco anos no museu.

Em depoimento publicado no Facebook, diz lá ter presenciad­o, de 2008 a 2013, “muitos assédios e abusos cometidos por seu diretor”. O também ex-funcionári­o Newton Costa se somou à denúncia.

Araujo negou as acusações e disse que essas pessoas estariam incomodada­s por ele ter criticado a artista Renata Felinto no “Roda Viva” exibido pela TV Cultura em 18/12.

Irmã de Felinto dos Santos e também ex-funcionári­a da instituiçã­o, ela moveu processo trabalhist­a contra o Afro Brasil. Araujo disse no programa que ela “teve uma atitude péssima com o museu, sendo negra, pondo o museu em uma situação de Justiça”.

À Folha Araujo disse que, no Brasil, “você fala mal de uma pessoa, e ela te cria um problema de processo”.

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