Folha de S.Paulo

CRÍTICA Repetitivo, filme sobre mãe e filha é rotineiro

Sem originalid­ade, longa com Ingrid Guimarães e Larissa Manoela exibe verborragi­a desmedida de personagem

- ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ

O convencion­alismo é a marca registrada desta comédia típica do período de férias de verão, dirigida a toda a família. Adaptado do livro homônimo que foi o primeiro sucesso de Thalita Rebouças, o filme fala das alegrias, agruras e frustraçõe­s que envolvem a relação mãe-filha.

A narrativa acompanha Ângela Cristina (Ingrid Guimarães) e a filha Maria de Lourdes (Larissa Manoela), a Malu, desde o nascimento desta até o fim da adolescênc­ia. A primeira parte, que vai até os 15 anos da garota, é narrada por Ângela; a segunda, por Malu.

Guimarães compõe Ângela de modo previsível, dentro do seu registro habitual, o da mulher ativa, contemporâ­nea e desbocada. O humor que pretende criar reside na defasagem entre a realidade e as neuroses da personagem, levadas aqui ao extremo.

A mesma desmedida se desdobra na verborragi­a de Ângela, que fala vertiginos­amente sobre temas importante­s ou banalidade­s, pouco importa. Além de não ter muita graça, o longa acaba sendo repetitivo e cansativo.

Diante de uma mãe desvairada como essa, cujas perturbaçõ­es e preocupaçõ­es fazem dela uma caricatura da mãe superprote­tora, a pobre filha acumula momentos embaraçoso­s às dezenas. A cena do ônibus mostra à perfeição a que ponto o constrangi­mento pode chegar, e o que é pior, sem ter a menor graça.

Essa superprote­ção deformada pelo excesso tem evidentes referência­s na igualmente tagarela e absurdamen­te zelosa Dona Hermínia, personagem de Paulo Gustavo em “Minha Mãe É uma Peça”. Não por acaso, Gustavo faz uma ponta no filme.

Apesar de cobrir a infância e parte da juventude de Malu, o filme não tem muita coesão e nem ritmo, principalm­ente na segunda parte: parece uma sucessão de gags, de esquetes mais ou menos forçados. A fórmula do humor é sempre a mesma, o velho estereótip­o do “a gente briga, mas a gente se ama”.

Feito com a intenção deliberada de buscar a identifica­ção com o maior número de pessoas possível, o filme toca em várias questões e situações relativas à família e aos filhos, da separação dos pais à sexualidad­e adolescent­e, passando pela independên­cia e os primeiros passos na vida profission­al da garota. Mas é tudo de passagem, sem aprofundam­ento.

A relação entre mãe e filha é tão voraz que os dois irmãos de Malu são presenças meramente decorativa­s. O pai, que tem alguma função na primeira parte, praticamen­te desaparece na segunda. Os demais personagen­s secundário­s também são irrelevant­es.

Na mesma linha estão as participaç­ões especiais de Paulo Gustavo e Fábio Junior, como eles mesmos, simples exercícios de autopromoç­ão que nada acrescenta­m. DIREÇÃO Pedro Vasconcelo­s ELENCO Ingrid Guimarães, Larissa Manoela, Marcelo Laham, João Guilherme Ávila PRODUÇÃO Brasil, 2017 QUANDO estreia nesta quinta (28) AVALIAÇÃO ruim

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