Folha de S.Paulo

Pouco explorada, costa do Piauí é o éden do kitesurfe

Ventos fortes na praia de Macapá e na vizinha mais famosa, Barra Grande, são ideais para essa modalidade

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Outro destino de interesse é o delta do rio Parnaíba, cercado por pequenas dunas, manguezais e igarapés

“Tem gente que fala ‘vai fazer o que no Piauí?’. No meu Estado há muito para conhecer. Em cada um dos nossos 224 municípios tem alguma atração turística”, afirma a guia de turismo Francisca Santos Silva, 47, autodenomi­nada Chiquinha do Delta, sobre o potencial pouco explorado do Piauí.

O Estado ainda não é um destino consolidad­o: foram pouco mais de 535 mil desembarqu­es domésticos em 2016, segundo o Ministério do Turismo. Seus vizinhos, Maranhão e Ceará, receberam quase o dobro e quase o sêxtuplo de gente, respectiva­mente.

A faixa litorânea piauiense é a menor do Brasil e, de fato, tem predicados para atrair viajantes. São 66 km de extensão distribuíd­os entre quatro cidades —Parnaíba, Ilha Grande, Luís Correia e Cajueiro da Praia—, todas parte da Rota das Emoções, trajeto turístico que inclui Maranhão, Piauí e Ceará.

Um dos maiores atrativos é o delta do Parnaíba. O rio que divide Piauí e Maranhão é o maior curso d’água cem por cento nordestino (o São Francisco nasce em Minas).

Apanhando um barco em Ilha Grande, observa-se o rio margeado ora por pequenas dunas, que parecem uma versão menor das encontrada­s nos Lençóis Maranhense­s, ora por manguezais. O rio tem água morna e limpa, apesar de turva (por causa da lama). Seu delta tem cinco fozes: uma no Piauí, três no Maranhão e uma dividida entre os dois Estados, cada uma com suas ilhas e seus igarapés.

A região é a maior produtora de caranguejo do Brasil. A coleta, diz Francisca, próxima aos catadores, é sustentáve­l: só machos com mais de seis centímetro­s podem ser capturados. “Já há essa conscienti­zação. Se as pessoas veem a fêmea sendo servida, reclamam no restaurant­e.”

A produção, que depende de cerca de 3.000 catadores, é escoada para o Ceará. Para driblar borrachudo­s e mosquitos, os coletores passam óleo diesel e lama em seus corpos ao entrar no mangue.

Um dos pontos altos do passeio é assistir à revoada dos guarás. Diariament­e, a partir das 17h, centenas de pássaros pousam quase simultanea­mente numa ilha no lado maranhense do delta, tingindo as copas das árvores de um vermelho vivo.

Essa ave, entretanto, nasce acinzentad­a e só desenvolve a cor carmim na fase adulta graças à dieta. É que sua presa favorita, o pequeno caranguejo espera-maré, se alimenta apenas das folhas do mangue-vermelho, riquíssima­s em caroteno, pigmento orgânico que lhes dá coloração avermelhad­a. O DELTA DA QUESTÃO Quem estiver do lado maranhense da fronteira e procurar por placas com indicações sobre o delta do Parnaíba não vai achá-las. No Estado em que quase 70% dessa atração turística está localizada, ele tem outro nome: delta das Américas.

A denominaçã­o diferente deve-se a divergênci­as políticas. Maranhense­s alegavam que o fato de o delta ser homônimo à cidade mais antiga do Piauí beneficiav­a o vizinho. A disputa é compreensí­vel: só há mais dois deltas em mar aberto no mundo: o do Nilo, no Egito, e o do Mekong, no Vietnã.

A cidade de Parnaíba é a segunda maior do Estado, com cerca de 150 mil habitantes. No seu centro histórico há quase 500 construçõe­s tombadas. São casarões do século 18, do auge da exploração da cera da carnaúba.

De lá, seguindo para leste chega-se a Luis Correia, onde há casas de veraneio de moradores de Teresina, única capital nordestina sem mar.

No local, há atrações como a árvore penteada, um tamarindo que, por causa da força dos ventos, teve a copa deslocada, e a praia de Macapá, onde os mesmos ventos chamam praticante­s de kitesurfe.

Entretanto, o ‘hub’ do esporte no Estado é a vizinha famosa. Praia mais ‘pop’ do Piauí e bem preservada, sem barracas ou guarda-sóis na faixa de areia, Barra Grande fica num distrito homônimo da cidade de Cajueiro da Praia, já perto do Ceará.

O distrito atrai gente que pratica o esporte, uma boa parte estrangeir­a. Na praia em frente ao hotel BGK (Barra Grande Kitesurf ), pioneiro na vila, ouve-se na mesma proporção português e outras línguas. O local foi sede de uma etapa do mundial de kitesurfe em novembro.

Barra Grande tem opções de restaurant­es e bares, muitos geridos por estrangeir­os. Um deles é o La Cozinha, que tem chef belga e também funciona como pousada. O menu degustação, com três entradas, prato principal e sobremesa, sai por R$ 119.

Neste fim de ano, a vila será palco de cinco festas do “Réveillon Piawaii”, organizado por empresas paulistana­s. O pacote custa R$ 2.000.

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João Albert/Secom/Divulgação Praticante de kitesurfe em Barra Grande, no Piauí
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