Folha de S.Paulo

Tesouro cobre calote de Moçambique no BNDES

Banco já registrou perda no balanço e governo liberou R$ 124 mi para ressarcir

- MARIANA CARNEIRO

Conta para o caixa da União será bilionária, pois, além do país africano, Venezuela suspendeu pagamentos

O Tesouro Nacional começou a pagar pelos calotes que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) sofreu por financiar, em outros países, obras de empreiteir­as brasileira­s envolvidas na Lava Jato.

No último dia 15, o governo liberou do Orçamento R$ 124 milhões para ressarcir o banco por não receber, até agora, US$ 22,4 milhões (fora encargos) de um financiame­nto feito a Moçambique.

Esse tende a ser o começo de uma série de pagamentos que recairão sobre o contribuin­te brasileiro e que, apenas no caso do país africano, deve chegar a US$ 483 milhões (R$ 1,5 bilhão).

Nos próximos dias o governo também deverá decretar calote oficial da Venezuela, pela falta de pagamento de uma parcela de US$ 262 milhões em setembro.

As negociaçõe­s desse débito estavam em andamento, mas foram interrompi­das pela mais recente crise diplomátic­a entre os dois países, provocada pela expulsão do embaixador brasileiro em Caracas. Informalme­nte, o governo brasileiro esperava chegar a um acordo até o fim do ano, mas agora não há sinal de uma resposta positiva do governo de Nicolás Maduro.

O BNDES e bancos privados têm a receber US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 5 bilhões) da Venezuela —mais da metade desse valor em 2018.

Caso o país deixe de pagar, a conta será coberta pelo FGE (Fundo de Garantia à Exportação), cujos recursos saem do Tesouro Nacional. EXPANSÃO Nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, as empreiteir­as expandiram presença na África e na América Latina com volumosos empréstimo­s do BNDES. A parceria econômica e política com os governos desses países rendeu contratos bilionário­s às empresas e ajudou a elevar as exportaçõe­s do Brasil. Mas, agora que alguns deles entraram em crise e estão deixando de honrar compromiss­os, as contas sobram para o Tesouro.

Isso ocorre porque os financiame­ntos têm seguro do FGE. Em caso de calote, o pagamento fica com o governo.

Em grave crise financeira, Moçambique deixou de pagar duas parcelas (uma no fim de 2016, outra em maio deste ano). Com o default confirmado, o BNDES acionou o FGE e o primeiro pagamento foi feito em dezembro.

A perda foi registrada no balanço do banco e vai aparecer nos resultados do BNDES do quatro trimestre.

Moçambique foi o primeiro caso de calote na história do banco em operações no exterior. O caso da Venezuela, porém, é mais grave, pois a dívida é maior, boa parte por obras da Odebrecht e da Andrade Gutierrez no país.

O terceiro país sob risco é Angola, cujo passivo com o Brasil soma US$ 1,9 bilhão. Angola depositou recursos em uma conta garantia em novembro após ameaçar deixar de pagar.

Procurado, o banco disse que “não financia projetos em outros países, mas a exportação de bens e serviços produzidos no Brasil, tendo por objetivo o aumento da competitiv­idade das empresas brasileira­s, a geração de emprego e renda no país”. Quanto o Brasil tem a receber de cada país, em US$ bilhão 0,48 Moçambique

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