‘Protecionismo 2.0’ pode gerar crise global
Para a consultoria Eurasia, cenário político-econômico de 2018 é tão crítico quanto foi o de 2008
A consultoria americana Eurasia desenha um quadro político-econômico bastante sombrio para 2018. “Se tivesse que escolher um ano em que possa ocorrer uma grande crise inesperada —o equivalente geopolítico da crise financeira de 2008— este ano seria 2018”, disse o presidente da Eurasia, Ian Bremmer, em conversa com jornalistas.
Em uma análise sobre os principais riscos para investidores globais, Bremmer cita o crescimento do protecionismo comercial.
Graças à pressão populista, diz Bremmer, os governos apelam ao protecionismo como se estivessem fazendo algo em favor dos empregos perdidos. “Como resultado, os muros estão subindo”.
O que a consultoria chama de “protecionismo 2.0” cria barreiras não apenas na indústria e no agronegócio, mas na economia digital e nas indústrias intensivas em inovação. Em vez de tarifas de importação ou imposição de cotas, porém, as medidas atuais incluem subsídios e requisitos de conteúdo local.
As novas barreiras são menos visíveis e não driblam necessariamente os compromissos com a OMC (Organização Mundial do Comércio), mas se escoram na incapacidade global de fortalecer regras de comércio já existentes, diz.
Uma das fontes a alimentar esse quadro é o crescente avanço chinês sobre ativos estratégicos estrangeiros. O movimento, diz a Eurasia, alimenta o receio de que a transferência de propriedade intelectual ocorra num ritmo que exige resposta política, mas nenhum líder –nem os EUA– se mostrou capaz de garantir as novas regras do jogo. CONTROLE Nesse ambiente, afirma a consultoria, a origem dos investimentos externos é cada vez mais monitorada pelos países, na tentativa de evitar o controle estrangeiro sobre empresas e tecnologias consideradas sensíveis.
Assim, diz a Eurasia, o chamado “protecionismo 2.0” deve impor mais danos geopolíticos do que esperam aqueles que o praticam. O resultado é que empresas e investidores terão que encarar custos mais altos para fazer negócios, embora as perdas fiquem com os consumidores.
A Eurasia cita ainda como risco geopolítico crucial a perda de força dos EUA como líder global e o papel que a China, cujo modelo político se fortalece, terá no vácuo deixado pelos americanos.
Para a consultoria, a política ditada pelo “América primeiro”, slogan do presidente Donald Trump, corrói a liderança do país e eleva o risco global. “Vemos claramente um mundo sem liderança”.
A combinação entre o presidente chinês mais forte desde Mao Tsé-Tung e um dos presidentes americanos mais fracos da história moderna, aponta a consultoria, dá origem a um momento importante de reordenação global.