Folha de S.Paulo

Cubano Leal conta os dias para jogar vôlei pelo Brasil

Jogador diz que sua única preocupaçã­o é ser aceito pelos outros atletas

- PAULO ROBERTO CONDE

Cubano, que vive no país há quase seis anos e se naturalizo­u em 2015, poderá defender time nacional em 2019

Na manhã de 31 de outubro o celular de Yoandy Leal recebeu duas ligações seguidas.

Na primeira, soube por seu empresário que a espera havia acabado. Na segunda, foi surpreendi­do ao ouvir a voz do técnico da seleção masculina, Renan Dal Zotto, 57.

O comandante afirmou que a FIVB (Federação Internacio­nal de Vôlei) havia encaminhad­o à confederaç­ão brasileira um ofício que antecipava sua liberação para atuar pela equipe brasileira.

Em vez de esperar até abril de 2019 para poder jogar, já poderia representa­r a equipe brasileira a partir de 2018.

O diálogo sucedeu mais ou menos do seguinte modo:

“Eu quero saber quais são seus sonhos e suas intenções com a seleção brasileira. Tenho planos para você no time”, afirmou o treinador.

“Fico muito feliz com o interesse e a oportunida­de de jogar na seleção. Estou agradecido. Vou dar sequência ao trabalho no clube, me entregando 100% como sempre fiz. Se você me convocar, pode ter a certeza de que farei o meu melhor”, rebateu o jogador.

Aquela conversa, única entre ambos, selou tacitament­e a primeira convocação de Leal para o time verde e amarelo, atual campeão olímpico. O acerto não durou 24 horas.

A FIVB emitiu novo comunicado. Desta vez, no entanto, com o anúncio de que havia cometido um engano.

A antecipaçã­o do aval para Leal defender a seleção já a partir de 2018 havia sido, na verdade, um erro de registro.

O alarme era falso, e uma eventual estreia pelo novo país ocorrerá em abril de 2019.

“Fiquei muito triste. A notícia saiu, o mundo do vôlei parou e, 24 horas mais tarde, saiu outra, negando. Não há o que fazer a não ser manter o trabalho e esperar mais um ano”, afirmou o jogador.

Nascido há 29 anos em Havana, Leal adotou o Brasil como nova casa há mais de cinco anos, em agosto de 2012.

Ao chegar, nem de longe parecia o excepciona­l ponta que ajudou Cuba a ser vicecampeã mundial em 2010, na Itália. Contratado pelo Cruzeiro, apresentou-se com 118 kg, 20 kg acima do ideal, e dúvidas quanto ao futuro.

Foi o preço que pagou por ter desertado logo após o Mundial, desiludido por promessas não cumpridas pelos dirigentes da federação nacional. Ao longo de dois anos, ficou impedido até de treinar, o que resultou na engorda.

Toda a adversidad­e foi superada em pouco tempo. Em alguns meses no Cruzeiro, o cubano baixou o peso para 97 kg, melhorou passe e bloqueio e ajudou a tornar o time mineiro uma máquina.

De 2012 para cá, sagrou-se tricampeão mundial de clubes, tetracampe­ão sul-americano e penta da Superliga.

Leal sempre figurou como maior destaque do elenco e, em 2015, conseguiu se naturaliza­r

YOANDY LEAL

jogador de vôlei do Cruzeiro brasileiro. Pelas regras do esporte, ele ainda precisaria da liberação de Cuba e do aval da FIVB para atuar pela seleção brasileira, pendências resolvidas em 2017.

Com a iminente convocação, uma pendência o preocupa: a aceitação no grupo.

“Deve ser difícil, porque serei o primeiro estrangeir­o na seleção de vôlei”, comentou. “Até há casos em outros esportes, mas o vôlei é orgulho nacional. Sei que sofrerei pressão, mas vou dar conta.”

Durante o período de adaptação ele quer “mostrar que pode defender a seleção como os outros jogadores”.

“Será uma grande honra defender o Brasil. Acho que tenho capacidade de correspond­er a essa expectativ­a.”

Leal cumpre seu último ano de contrato com o Cruzeiro. Apesar da vontade de seguir, não descarta aceitar proposta do exterior, sobretudo de um clube europeu.

Dentro ou fora do país, sua prioridade passou a ser defender a seleção brasileira, com o objetivo final de disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio, em julho de 2020.

“Cheguei ao Brasil em 2012 sempre com a mentalidad­e de ser número 1 do mundo, de lutar por isso”, disse.

Sou brasileiro e sinto-me brasileiro. Tenho direitos e deveres iguais a todos os brasileiro­s. Essa porta foi aberta e fico muito feliz

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Alexandre Rezende-27.out.2016/Folhapress Leal tem sido o grande nome do Cruzeiro nos últimos anos

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