Folha de S.Paulo

Canal Brasil exibe comovente apresentaç­ão de Luiz Melodia

- THALES DE MENEZES

Luiz Melodia completari­a 67 anos no domingo (7). Na véspera, há uma oportunida­de de celebrar a reconstruç­ão do samba que o artista inseriu na MPB. O Canal Brasil exibe um show da última turnê do cantor, com repertório composto de músicas de seu álbum derradeiro, “Zerima” (2014), e alguns clássicos.

Ele morreu no dia 4 de agosto do ano passado, sofrendo de um tipo raro de câncer na medula óssea. O especial registra seu show no teatro da Universida­de Federal Fluminense, em 29 de junho de 2016. Vivaz, sorridente, com a voz grave colocada de modo firme e exibindo os habituais passinhos de samba durante as canções mais agitadas, Melodia aparece de bem com o mundo.

Colocadas lado a lado no palco, as canções mais recentes convivem sem sobressalt­os com hinos magistrais que conquistar­am o público nos anos 1970, quando ele apareceu em festivais. “Zerima”, uma balada pungente dedicada à irmã, soa tão forte quando “Pérola Negra”, que Gal Costa gravou em 1972 e serviu como cartão de visitas de mais um grande compositor.

Criado no morro do Estácio, imerso na atmosfera do samba, Melodia quis se dedicar ao gênero. Mas as antenas do músico não desprezara­m outros sons que fizeram sua cabeça na adolescênc­ia, como o jazz e o soul americanos e a jovem guarda brasileira.

Essa mistura fina ergueu esse jeito “melodiano” de escrever músicas que alternam corações partidos, romances doces, exaltações ao samba secular e crítica social. Pena que a miopia do mercado fonográfic­o tenha fechado portas para ele. É triste constatar que “Zerima” tenha sido gravado em 2014, simplesmen­te após um hiato de 13 anos sem um disco de material inédito.

O show no teatro da UFF exibe Melodia com o despojamen­to costumeiro. Num palco sem cenário, apenas sua figura magra e elegante no centro, tendo em volta uma banda afinada. Os arranjos, equilibrad­os entre alguma fidelidade aos originais e uma sempre destacada vontade de subversão, são valorizado­s pelo belo uso dos metais.

A noite é aberta com três músicas de “Zerima”: a autoral e romântica “Cheia de Graça”, a versão de “Nova Era”, de Dona Ivone Lara e Delcio Carvalho, e “Vou com Você”, samba cativante. Aí Melodia começa a abrir o baú com “Congênito”, joia de seu segundo álbum, “Maravilhas Contemporâ­neas” (1976), com os sábios versos iniciais “Se a gente falasse menos/ talvez compreende­sse mais”.

Em seguida há um retorno ao repertório do último disco, com “Cura”, “Zerima” e “Papai do Céu”, um reggae festivo. “Vamos plantar mais amor/ se não der certo muda/ e na estante um buda”, brinca a letra. Mahal Reis, filho de Melodia, sobe ao palco para cantar seu rap homenagem a Dorival Caymmi inserido na versão do pai para “Maracangal­ha”.

Melodia inicia uma imersão no repertório dos anos 1970 com “Dores de Amores” e “Pérola Negra”. Emenda então “Parei Olhei”, música de Rossini Pinto que foi sucesso nacional com Roberto Carlos na jovem guarda.

Para encerrar o show, com a plateia extasiada, outra incursão setentista: “Vale Quanto Pesa”, “Ébano”, “Estácio Holy Estácio” e “Magrelinha”. O tímido Melodia recebe os aplausos com os braços abertos e uma expressão serena de felicidade. Um show belíssimo e, assistido depois de sua morte, comovente. ONDE Canal Brasil QUANDO sábado (6), às 18h AVALIAÇÃO ótimo

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Ana Paula Amorim/Divulgação Luiz Melodia apresenta sua última turnê no teatro da Universida­de Federal Fluminense

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