Folha de S.Paulo

O conselho de Bolsonaro

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BRASÍLIA - “Conselho meu e eu faço: eu sonego tudo que for possível”. A frase é de Jair Bolsonaro, em seu terceiro mandato de deputado, durante uma entrevista a um programa na TV Bandeirant­es em 1999.

“Se puder, não pago (imposto) porque o dinheiro vai pro ralo, pra sacanagem. Prego sobrevivên­cia. Se pagar tudo o que o governo pede, você não sobrevive”, admitiu.

Reportagem publicada pela Folha neste domingo (7) revelou que Bolsonaro e seus três filhos com mandato multiplica­ram os patrimônio­s em anos de atuação na política.

São 13 imóveis com preço de mercado de pelo menos R$ 15 milhões. A maior parte deles está localizada em áreas de alta valorizaçã­o no Rio.

Os principais apartament­os e casas foram adquiridos nos últimos dez anos por valores registrado­s bem abaixo da avaliação da prefeitura do Rio. O caso mais curioso é de uma casa de Bolsonaro em um condomínio na Barra, à beira-mar.

A ex-proprietár­ia pagou R$ 580 mil, reformou e quatro meses depois vendeu-o ao deputado por R$ 400 mil. Com isso, em tese, ela teve prejuízo de 31%, segundo o cartório.

Naquela época, a prefeitura da cidade, ao calcular o imposto de transmissã­o de propriedad­e, avaliava a casa em R$ 1,06 milhão.

É corriqueir­a no país a prática de um comprador de um imóvel registrar na escritura um valor abaixo do que realmente pagou. A trapaça permite dar um olé na cifra correta do imposto de transmissã­o de bem, esconder o lucro imobiliári­o ou omitir a evolução de um patrimônio.

Questionad­o sobre o assunto, Bolsonaro não quis responder. Seus fanáticos seguidores atacaram a reportagem nas redes sociais, comparando-a com as acusações que pesam contra o ex-presidente Lula.

Querem tratar desigualme­nte uma suspeita de escamoteaç­ão do valor de um imóvel e a reforma de um sítio com dinheiro de empreiteir­a corrupta. Um jeitinho convenient­e para criar graus de honestidad­e.

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