Folha de S.Paulo

Deixar os orelhões de vez no passado

É preciso um modelo nas telecomuni­cações que não exclua supervisão pública, mas sem travar investimen­tos e o aumento da produtivid­ade

- EDUARDO LEVY

Há 20 anos, o Brasil privatizou a Telebras. De lá para cá, foram R$ 780 bilhões em investimen­tos que tornaram possível termos um serviço no setor de telecomuni­cações que é acessível, barato e com disponibil­idade imediata em nosso país continenta­l. O que teria sido da internet se a telefonia brasileira ainda fosse estatal?

O que foi feito nessas duas últimas décadas não foi nada trivial. Hoje, no Brasil, o telefone móvel celular está presente em 92,3% dos domicílios, segundo dados da mais recente Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), do IBGE.

Eis um dado tanto curioso quanto um pouco assustador: o telefone é mais presente na vida das pessoas no nosso país do que os serviços de água e esgoto, setor que infelizmen­te não foi aberto ao capital privado da mesma forma.

O computador de mesa já não é tão importante: o celular é o principal meio de acesso dos brasileiro­s à internet. O país tem 204,8 milhões de conexões ativas à rede móvel — quase uma para cada habitante.

Agora, é chegada a hora de um novo ponto de virada. É preciso garantir mais liberdade para atrairmos mais investimen­tos e levarmos mais e melhor banda larga a todos os brasileiro­s.

O problema é que o setor de telecomuni­cações tem um marco legal antiquado, mais preocupado com orelhões do que com banda larga — quem ainda usa orelhão?

Nossa regulação é “ex ante”, ou seja, quer se antecipar a todas as ações das empresas do setor, fazendo com que inovações e investimen­tos esbarrem na burocracia e na necessidad­e de chancela estatal.

Precisamos de um modelo “ex post”, ou seja, que não exclua a supervisão pública, mas que não seja uma trava ao aumento da produtivid­ade e aos investimen­tos.

Um exemplo: já é possível, por exemplo, agilizar o atendiment­o ao consumidor usando mais mecanismos de inteligênc­ia artificial, cada vez mais desenvolvi­dos, mas ainda estamos presos a regulament­os ultrapassa­dos que não enxergam essas e outras possibilid­ades.

Também é fundamenta­l reduzir a carga tributária sobre os serviços de telecomuni­cações. Os impostos são uma das principais barreiras para que surjam mais aplicações e mais e mais pessoas acessem a banNas da larga e passem a viver a revolução da informação em seu dia a dia.

Um levantamen­to da consultori­a Melhor Compra aponta que, entre 2016 e 2017, os preços dos serviços de dados e voz no país caíram 41%. E poderiam ser ainda menores se o setor de telecomuni­cações não estivesse entre os mais tributados do país: a cada R$ 10 pagos pelos consumidor­es, R$ 4,30, em média, são impostos e taxas, recolhidos aos gulosos cofres públicos.

Hoje, todos os municípios brasileiro­s contam com cobertura celular. Para ter um telefone, portanto, basta comprar um chip. A rede 4G no Brasil já chega a 3.259 municípios, onde moram cerca de 90% da população brasileira.

Apesar disso, o Brasil ainda está atrasado para um novo salto para continuarm­os usufruindo dessa revolução das telecomuni­cações.

Em 2018, as primeiras experiênci­as com o 5G serão testadas na Califórnia —uma tecnologia que em cinco anos vai voltar a transforma­r profundame­nte nossa experiênci­a de acesso à internet.

Vamos ver ainda uma grande explosão nas aplicações da chamada Internet das Coisas (ioT), que vai conectar objetos, serviços e pessoas numa escala jamais vista.

Se o Brasil fizer essas opções, teremos um ano realmente novo, mais conectado e muito produtivo, com mais telecom para todos. São os nossos votos. EDUARDO LEVY,

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