Del Nero ignora punição da Fifa e promete volta à CBF
Presidente banido tem conversado com dirigentes de federações estaduais
Cartola foi suspenso no mês passado por 90 dias pela Fifa. Ele é acusado de receber propina por contratos
Banido por 90 dias pela Fifa, o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, tem conversado com dirigentes de federações estaduais para assegurar que não existem provas contra ele e que tem “100% de certeza” de que vai voltar ao cargo na confederação. Os próprios dirigentes revelaram as conversas à Folha.
Os diálogos podem ser considerados infrações às regras da suspensão preventiva de Del Nero. O código disciplinar da Fifa, no artigo 22, diz que o banimento do dirigente é referente “a qualquer atividade relacionada ao futebol (administrativa, esportiva ou qualquer outra)”.
Consultada pela Folha ,a entidade não se pronunciou até o fechamento desta edição sobre se as articulações de Del Nero configuram violação ao afastamento imposto em 15 de dezembro de 2017.
Os presidentes das federações de Roraima, Sergipe, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte e Bahia confirmaram contatos com Del Nero.
“Ele passa muita tranquilidade. Diz que não existe nenhuma prova contra ele e que vai voltar à presidência. Eu não tenho motivo para não acreditar nele. Quando conversamos, ele estava muito certo disso”, afirma Milton Dantas, mandatário da Federação Sergipana da Futebol.
Del Nero foi indiciado nos EUA por suspeita de recebimento de propina em contratos relacionados a competições sul-americanas. Seu antecessor na CBF, José Maria Marin, foi condenado por fraude financeira, lavagem de dinheiro e por formação de organização criminosa. Ele aguarda sua sentença em um presídio em Nova York.
Durante o julgamento de Marin, delatores afirmaram que Del Nero recebeu propina quando era vice-presidente da CBF, entre 2012 e 2015.
O empresário J.Hawilla apresentou gravações em que negociava com Kleber Leite, dono da agência Klefer, o pagamento de propinas para os ex-presidentes da CBF José Maria Marin e Ricardo Teixeira e para o atual mandatário, afastado pela Fifa, Del Nero.
O cartola deverá entregar sua defesa à entidade neste mês. A suspensão pode ser prorrogada. Há também a possibilidade de ele ser banido definitivamente.
“A gente precisa deixar o Del Nero trabalhar. Ele me disse que não há nada no processo que o incrimine. Tenho certeza de que vai voltar”, afirma o presidente da Federação Maranhense, Antônio Américo Lobato Gonçalves.
Os cartolas estiveram em São Paulo nesta terça-feira (9) para reunião do Sindicato Nacional das Associações de Futebol Profissional e suas Entidades Estaduais de Administração e Ligas.
“Não tive acesso ao processo. Foi uma decisão política da Fifa e o Marco Polo me passou tranquilidade há alguns dias. Disse que a Fifa está tentando dar satisfação para a Justiça dos EUA. Ele tem certeza de que vai voltar”, diz o presidente da Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol, José Vanildo da Silva.
“Ele [Del Nero] me garantiu que tudo será esclarecido. Conversamos no final do ano passado e ele me falou com firmeza que não há nada que o incrimine. Estamos aguardando que este assunto se resolva”, completa o presidente da Federação Cearense, Mauro Carmélio.
Os presidentes das federações da Bahia (Ednaldo Rodrigues Gomes) e de Roraima (José Gama Xaud) também disseram ter falado com o cartola e confirmaram que ele tem dito que vai retornar.
Mas há dirigentes mais pessimistas. Outros presidentes que conversaram com a Folha e preferiram não se identificar mostraram descrença quanto ao retorno de Del Nero. Para eles, a Fifa não vai permitir sua volta.
Segundo a assessoria de imprensa da CBF, nenhuma vez Marco Polo Del Nero esteve na sede da entidade, no Rio, desde o banimento. SUCESSÃO Enquanto o futuro de Del Nero não é definido, há quem articule eventuais nomes para a sua sucessão.
Reinaldo Carneiro Bastos, da Federação Paulista; Ednaldo Rodrigues, da Bahia; e Francisco Novelletto Neto, do Rio Grande do Sul, são apontados como candidatos.
O presidente da entidade de São Paulo é tratado como favorito ao pleito, que também deve ter o coronel Antonio Carlos Nunes na briga, atual presidente em exercício por ser o vice mais velho.
Na eleição da CBF, que pode ocorrer entre abril de 2018 e abril de 2019, os 27 presidentes de federações e os 40 clubes da Séries A e B vão votar.
Pela nova regra, o voto de cada uma das 27 federações terá peso três. Os votos dos times da Série A terão peso dois. Os da Série B, peso um.