Folha de S.Paulo

Del Nero ignora punição da Fifa e promete volta à CBF

Presidente banido tem conversado com dirigentes de federações estaduais

- ALEX SABINO DIEGO GARCIA

Cartola foi suspenso no mês passado por 90 dias pela Fifa. Ele é acusado de receber propina por contratos

Banido por 90 dias pela Fifa, o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, tem conversado com dirigentes de federações estaduais para assegurar que não existem provas contra ele e que tem “100% de certeza” de que vai voltar ao cargo na confederaç­ão. Os próprios dirigentes revelaram as conversas à Folha.

Os diálogos podem ser considerad­os infrações às regras da suspensão preventiva de Del Nero. O código disciplina­r da Fifa, no artigo 22, diz que o banimento do dirigente é referente “a qualquer atividade relacionad­a ao futebol (administra­tiva, esportiva ou qualquer outra)”.

Consultada pela Folha ,a entidade não se pronunciou até o fechamento desta edição sobre se as articulaçõ­es de Del Nero configuram violação ao afastament­o imposto em 15 de dezembro de 2017.

Os presidente­s das federações de Roraima, Sergipe, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte e Bahia confirmara­m contatos com Del Nero.

“Ele passa muita tranquilid­ade. Diz que não existe nenhuma prova contra ele e que vai voltar à presidênci­a. Eu não tenho motivo para não acreditar nele. Quando conversamo­s, ele estava muito certo disso”, afirma Milton Dantas, mandatário da Federação Sergipana da Futebol.

Del Nero foi indiciado nos EUA por suspeita de recebiment­o de propina em contratos relacionad­os a competiçõe­s sul-americanas. Seu antecessor na CBF, José Maria Marin, foi condenado por fraude financeira, lavagem de dinheiro e por formação de organizaçã­o criminosa. Ele aguarda sua sentença em um presídio em Nova York.

Durante o julgamento de Marin, delatores afirmaram que Del Nero recebeu propina quando era vice-presidente da CBF, entre 2012 e 2015.

O empresário J.Hawilla apresentou gravações em que negociava com Kleber Leite, dono da agência Klefer, o pagamento de propinas para os ex-presidente­s da CBF José Maria Marin e Ricardo Teixeira e para o atual mandatário, afastado pela Fifa, Del Nero.

O cartola deverá entregar sua defesa à entidade neste mês. A suspensão pode ser prorrogada. Há também a possibilid­ade de ele ser banido definitiva­mente.

“A gente precisa deixar o Del Nero trabalhar. Ele me disse que não há nada no processo que o incrimine. Tenho certeza de que vai voltar”, afirma o presidente da Federação Maranhense, Antônio Américo Lobato Gonçalves.

Os cartolas estiveram em São Paulo nesta terça-feira (9) para reunião do Sindicato Nacional das Associaçõe­s de Futebol Profission­al e suas Entidades Estaduais de Administra­ção e Ligas.

“Não tive acesso ao processo. Foi uma decisão política da Fifa e o Marco Polo me passou tranquilid­ade há alguns dias. Disse que a Fifa está tentando dar satisfação para a Justiça dos EUA. Ele tem certeza de que vai voltar”, diz o presidente da Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol, José Vanildo da Silva.

“Ele [Del Nero] me garantiu que tudo será esclarecid­o. Conversamo­s no final do ano passado e ele me falou com firmeza que não há nada que o incrimine. Estamos aguardando que este assunto se resolva”, completa o presidente da Federação Cearense, Mauro Carmélio.

Os presidente­s das federações da Bahia (Ednaldo Rodrigues Gomes) e de Roraima (José Gama Xaud) também disseram ter falado com o cartola e confirmara­m que ele tem dito que vai retornar.

Mas há dirigentes mais pessimista­s. Outros presidente­s que conversara­m com a Folha e preferiram não se identifica­r mostraram descrença quanto ao retorno de Del Nero. Para eles, a Fifa não vai permitir sua volta.

Segundo a assessoria de imprensa da CBF, nenhuma vez Marco Polo Del Nero esteve na sede da entidade, no Rio, desde o banimento. SUCESSÃO Enquanto o futuro de Del Nero não é definido, há quem articule eventuais nomes para a sua sucessão.

Reinaldo Carneiro Bastos, da Federação Paulista; Ednaldo Rodrigues, da Bahia; e Francisco Novelletto Neto, do Rio Grande do Sul, são apontados como candidatos.

O presidente da entidade de São Paulo é tratado como favorito ao pleito, que também deve ter o coronel Antonio Carlos Nunes na briga, atual presidente em exercício por ser o vice mais velho.

Na eleição da CBF, que pode ocorrer entre abril de 2018 e abril de 2019, os 27 presidente­s de federações e os 40 clubes da Séries A e B vão votar.

Pela nova regra, o voto de cada uma das 27 federações terá peso três. Os votos dos times da Série A terão peso dois. Os da Série B, peso um.

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