Folha de S.Paulo

Inflação dos mais pobres atinge o nível mais baixo desde o Plano Real

Queda no valor dos alimentos derrubou o INPC, que mede o custo de vida para quem ganha menos

- FLAVIA LIMA

Economista­s dizem que o cenário benigno não se repetirá neste ano, mas ainda assim preços seguirão comportado­s

A inflação das famílias mais pobres atingiu o nível mais baixo desde a implementa­ção do Plano Real, levada pela queda histórica dos alimentos.

Em 2017, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu 2,07%, segundo divulgou o IBGE nesta quarta (10). Desde 1994, o indicador que mede a inflação das famílias com renda de até cinco salários mínimos ficou abaixo de 3% em apenas outras duas ocasiões: em 1998 (+2,49%) e em 2006 (+2,81%).

Na comparação com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o INPC também levou a melhor. Em 2017, o IPCA, que mede a inflação das famílias com renda de até 40 salários mínimos, avançou 2,95%.

A deflação de 1,9% dos alimentos —a primeira da série, que começa em 1979 —teve um papel fundamenta­l na desacelera­ção dos indicadore­s.

Na cesta de consumo dos mais pobres, porém, a importânci­a é ainda maior. Nesse grupo, o peso de alimentos e bebidas chega a 30%, em comparação a 25% no IPCA.

No geral, analistas dizem que cenário igual ao de 2017 dificilmen­te se repetirá em razão do clima menos favorável e de projeções de uma leve queda na safra agrícola.

Há, no entanto, consenso de que a inflação deve seguir moderada em 2018 —com alta ao redor de 4%.

“Não teremos outro ano bom como 2017, mas isso não significa que 2018 será ruim”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

Depois do desempenho fora da curva em 2017, afirma Vale, o grupo alimentaçã­o deve voltar a ser o grande elemento de pressão sobre os preços neste ano, com alta de até 5%.

Além disso, diz Fábio Silveira, sócio da consultori­a MacroSecto­r, devem pressionar os preços ao longo deste ano a expectativ­a de elevação da massa real de salários e um dólar mais forte, influencia­do pela alta do juro nos EUA e pelo risco político local.

Mesmo nesse cenário, diz Luciano Rostagno, do Banco Mizuho, é possível prever inflação abaixo da meta de 4,5% em 2018, ajudada, entre outros fatores, pela capacidade de produção das indústrias ainda ociosa.

O que talvez seja o único contrapont­o de um INPC mais baixo e seus efeitos positivos sobre o orçamento das famílias mais pobres é que o indicador também é usado como base para reajustar o mínimo.

A alta inferior ao IPCA tira mesmo um pedaço da renda futura dos trabalhado­res, diz Silveira, mas a perda pode ser mais do que compensada pela melhora dos salários e do emprego ao longo de 2018. ELEIÇÕES Na avaliação de economista­s, dois anos consecutiv­os de inflação sob controle ajudam, mas não serão suficiente­s para afetar o ânimo do eleitor a ponto de favorecer um candidato governista.

Para Silveira, o cenário econômico deve contribuir para uma relativa melhora da imagem do candidato do governo nas eleições, qualquer que seja ele. Mas isso será insuficien­te para garantir sua vitória.

“O atual governo está demasiadam­ente desgastado. O candidato oficial terá que apresentar propostas e assumir compromiss­os muito mais sedutores e convincent­es para ganhar o pleito”, diz.

Na avaliação de Vale, da MB, regiões mais pobres tenderão a colocar a economia em primeiro lugar, o que justifica a dianteira de Lula nesses Estados.

“Mas as escolhas dependerão do poder de convencime­nto do candidato de que será limpo, ajustará a economia e manterá o social. Trabalho árduo para os candidatos hoje presentes”, afirma. PREÇOS EM QUEDA Inflação anual (IPCA), em %

12,53 HISTÓRICO Inflação despenca entre 2016 e 2017 puxada por alimentos IPCA acumulado em 12 meses, em % 10,71 Variação do IPCA em 2017 por grupo, em % Educação Saúde e cuidados pessoais Habitação Despesas pessoais Transporte­s Vestuário Comunicaçã­o Artigos de residência Alimentaçã­o 7,11 6,52 6,26 4,39 4,1 2,88 1,76 -1,48 -1,87

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