Folha de S.Paulo

Ilan culpa alimentos por IPCA abaixo da meta

- MAELI PRADO

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, atribuiu à forte queda no preço dos alimentos no ano passado o fato de pela primeira vez a inflação do país ter ficado abaixo do piso da meta.

O IPCA (índice oficial de inflação) subiu 2,95% em 2017 —o percentual mínimo previsto pelo BC era de 3%. Desde 1999, quando o regime de metas de inflação foi criado, o indicador nunca havia ficado abaixo do menor patamar de tolerância.

O descumprim­ento obrigou Ilan a escrever uma carta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, explicando os motivos. Nela, o dirigente do BC diz que o choque dos alimentos represento­u 83,9% do desvio do IPCA verificado em 2017.

Se o grupo dos alimentos fosse excluído dos dados, a inflação chegaria a 4,54% —o objetivo era de 4,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A alta de 2,95% foi a menor desde 1998, quando o indicador subiu 1,65%.

A chamada supersafra do primeiro semestre do ano garantiu aumento de cerca de 30% na produção de alimentos, o que contribuiu para a queda dos preços. Os alimentos são parte importante do índice de inflação e representa­m um quarto do orçamento das famílias brasileira­s.

Goldfajn ainda afirmou que a inflação já se encontra na direção da meta para 2018, que também é de 4,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.

“Sabemos que a inflação em algum momento já chegou a um valor menor e agora está em fase de subida.” JUROS De acordo com analistas, o cenário de preços poderia ter ensejado ritmo maior de queda dos juros pelo BC no ano passado. A taxa Selic, que chegou a 14,25% em meados de 2016, finalizou 2017 em 7%, seu menor patamar histórico —a expectativ­a é de novos cortes neste ano.

Nesta quarta-feira (10) em Brasília, o presidente do BC rebateu as críticas. “Nossa visão é outra, que foi a nossa atuação no começo que propiciou a inflação mais baixa. A mudança nas expectativ­as do mercado foi importante, se esperava uma inflação de 5% a 6%, e isso começou a cair, devido à firmeza da política monetária.”

Ele declarou ainda que o BC optou por não arredondar os 2,95% para 3%, o que evitaria a necessidad­e de escrever a carta.

“Se você arredondar, usar a metodologi­a científica, 2,95% dá 3%. Mas não queremos perder essa oportunida­de de prestar contas”, disse. “Inflação baixa é boa, não tem nada de errado. Foi a menor inflação em muitos anos, a segunda menor da história. Foi bom para a população.” LUCAS VETTORAZZO,

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