Folha de S.Paulo

‘Passaram 4 vagões em cima de mim’, diz empurrada no metrô

Jussara Souza, 23, escapou da morte porque caiu em fosso sobre o qual trafega o trem; agressor está preso

- JANAÍNA GARCIA

Apenas uma coisa passou pela cabeça da auxiliar administra­tiva Jussara Araújo de Souza, 23, após ser empurrada para os trilhos do metrô e ver quatro vagões do trem passar sobre ela: “Pensei que fosse morrer”, relembra.

Mãe de três filhos —de 6 e 4 anos, e um bebê de 11 meses—, a auxiliar administra­tiva sobreviveu. Safou-se do incidente com 30 pontos na perna e hematomas pelo corpo.

O caso ocorreu por volta das 14h40 de terça-feira (9), na estação Conceição, da linha 1-azul do metrô. Jussara foi empurrada para os trilhos pelo auxiliar de limpeza Sebastião José da Silva, 55, preso em flagrante.

Ela, que atua no setor de treinament­os de uma rede de fast food, estava a caminho do trabalho, na praça Marechal Deodoro, na região central da cidade.

Jussara foi parar no fosso sobre o qual trafegam os vagões. Nem deu tempo de se mexer. Ela chegou a ser encaminhad­a ao hospital municipal Arthur Ribeiro de Saboya, no Jabaquara (zona sul), mas foi liberada na própria terça à noite com 30 pontos no ferimento causado na perna, além de um hemato- na cabeça e outras marcas pelo corpo.

“Nem tive tempo de me mexer, que o metrô chegou: do jeito que eu caí, fiquei. Na hora eu pensei: ‘morri’, aí passaram quatro vagões em cima de mim e constatei que escapei por um milagre”, relatou. “Porque, do jeito que ele me jogou, era para o trem ter passado por cima de mim.”

Segundo Jussara, ela não conhecia o agressor e nega que ele tivesse dito algo antes de empurrá-la. “Foi Deus que me salvou, não tenho dúvida. Mas o que me impression­a é como que uma pessoa dessa, aparenteme­nte com problemas mentais, passa pelas catracas do transporte livremente”, afirma.

“Não consigo mais me sentir segura pegando metrô, tanto que eu deveria ter ido hoje à delegacia [à Delpom,

JUSSARA ARAÚJO DE SOUZA, 23

auxiliar administra­tiva na estação Barra Funda] e não consegui, porque tenho que pegar de novo o metrô e não tive coragem”, desabafa.

Ela e o marido, que é entregador de pizza, moram em Americanóp­olis, na zona sul.

O que sente em relação ao auxiliar de limpeza que a atacou? “Não tem como explicar ainda o que eu sinto. Vi as imagens hoje do que ele fez e entrei em desespero. Mas quero justiça, porque, se ele fizer de novo com alguém o que ele fez comigo, pode ser que essa pessoa não tenha a mesma sorte que tive.”

A auxiliar administra­tiva se diz agradecida pelas pessoas que a ajudaram tentando acalmá-la, segurando o agressor para que ele fosse preso e acionando os funcionári­os da estação.

O que espera daqui em diante? “Estudei até o terceiro ano do ensino médio. Minha meta é só continuar viva e conseguir criar meus filhos.”

A Polícia Civil informou que Silva alegou ter problemas pessoais e que se vingou em Jussara . Ele foi indiciado por tentativa de homicídio.

Após passar nesta quartafeir­a (10) à tarde por audiência de custódia, no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de SP), o auxiliar de limpeza teve a prisão preventiva decretada pela Justiça.

Do jeito que eu caí, fiquei. Na hora eu pensei: ‘morri’, aí passaram quatro vagões Não consigo mais me sentir segura pegando metrô

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Reprodução Acima: momento em que Jussara é empurrada para os trilhos do metrô na estação Conceição da linha 1-azul; ao lado: a auxiliar administra­tiva após ser liberada pelo hospital com hematomas e ferimentos no corpo

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