Folha de S.Paulo

De juniores a seniores

- JUCA KFOURI COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

HOUVE UM momento em que nosso futebol, já na segunda divisão mundial, vivia à base de jogadores que mal haviam saído das fraldas.

Produtor inesgotáve­l de talentos, o futebol nacional nem bem os jovens apareciam com sucesso os exportava por qualquer preço. Poucas vezes à altura da qualidade do pé de obra.

Tem sido assim faz tempo: aparece uma promessa e ela vai vingar, ou não, em gramados longínquos.

Com frequência até nos esquecemos de algumas, perdidas em terras remotas, muitas vezes em países da terceira ou quarta divisões mundiais. Também não é de hoje que, por não ter jovens, caçamos com veteranos.

Pelo amor de deus, não tome a rara leitora e o raro leitor como ofensa!

É sagrado o direito dos mais velhos seguirem produtivos em suas vidas profission­ais e não seria um quase septuagená­rio a defender outra posição.

O que não impede a triste constataçã­o de que, para ficar mais simpático, temos trocado lebres por gatos trintões. Veja o caso do São Paulo. Na temporada passada se desfez do promissor David Neves, de 20 anos, ao vendê-lo para o Ajax por R$ 46 milhões. O menino está brilhando na perfeita relva holandesa, quase pronto para voos maiores.

Agora, o São Paulo traz do Sport o bom Diego Souza, 32 anos, por R$ 10 milhões, após perder Hernanes, da mesma idade, de volta ao futebol chinês, depois de salvar o Morumbi de ser palco da Série B.

O Galo buscou Ricardo Oliveira, de bem conservado­s 37 anos, no Santos, e o Cruzeiro recontrato­u Fred, de 34, dois centroavan­tes que se tornaram peças raras no futebol do patropi que não revela goleadores e quando o faz não o deixa esquentar o assento, caso da joia Gabriel Jesus.

“Não há o que fazer”, dizem os conformist­as para os idealistas, embora talvez seja melhor dizer os realistas para os sonhadores.

Diante da sangria permanente, da queda acentuada da qualidade do jogo por aqui, é preciso ir além da constataçã­o e da lamentação sem fim.

Que não reste outra alternativ­a para escolas tão boas como as nossa, como são as do Uruguai e da Argentina, vá lá.

A população uruguaia é 1/61 da brasileira, e a argentina um quinto.

Ora, o Brasil, mesmo em crise monumental, ainda está entre as dez maiores economias do mundo, com pelo menos 14 estádios modernos, com mercado publicitár­io maior que alguns dos países cujos clubes importam nossos melhores jogadores, mas seguimos exportando os artistas em vez de vender o espetáculo.

Porque o Campeonato Brasileiro-2017 teve média de público de apenas 15.975 pagantes por jogo e a ridícula taxa de ocupação dos estádios de 41%.

Pergunte aos cartolas da CBF e das federações se eles acham que está ruim. Pergunte às TVs e patrocinad­ores. Todos se dão bem.

Só se dá mal o principal interessad­o em bom futebol e espetáculo­s à altura do que já vimos por aqui: o torcedor, passivo e, muitas vezes, excluído. Com 59% de espaços ociosos!

Sociedades Anônimas do Futebol (SAF) neles!

É o que pode safar nossos clubes do papel cada vez mais subalterno que fazem no mundo globalizad­o do futebol.

E é também o caminho para diminuir o número de safados.

O mercado do futebol brasileiro exporta pé de obra jovem e se contenta com jogadores com mais de 30

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