Com o rosto inchado, os médicos pensaram que Elías estava com caxumba. Mandaram-no para casa repousar.
A cena era comum. Noemi Pereyra saía desesperada pelas ruas de González Catán (a 32 km de Buenos Aires) a procura do filho, Elías. Não era difícil encontrá-lo. O garoto de 13 anos jogava bola com os amigos. Flagrado, voltava para casa, cabisbaixo.
A irritação da mãe era porque Elías, atleta das categorias de base do San Lorenzo, estava proibido de jogar futebol. Estava no meio de tratamento para leucemia e não podia fazer esforço físico.
“Eu não fazia. Meus amigos sabiam da doença e eu era proibido de correr. Só andava e tocava na bola de vez em quando. Mas eu precisava fazer aquilo porque, sem o futebol, estava ficando triste e deprimido”, afirma Elías, hoje com 18 anos.
Isso foi em 2012. Cinco anos mais tarde, Eliás Pereyra marcava Lionel Messi em um treino da seleção argentina contra jogadores sub-20, no Centro de Treinamento da AFA em Ezeiza. Semanas depois, assinou o primeiro contrato profissional da carreira. Abraçados, Elías, a mãe e o pai (Hugo) choraram nos corredores do Velho Gasômetro, estádio do San Lorenzo.
Integrado ao elenco profissional, ele está na pré-temporada da equipe e pode fazer a primeira partida oficial no próximo dia 26, no retorno do Campeonato Argentino, contra o Talleres, em Córdoba.
“Depois de tudo o que aconteceu, estou vivendo o sonho. Jogar no time principal do San Lorenzo em 2018 virou meu maior objetivo”, completa Elías.
Quando acontecer, deverá dividir o campo com o ídolo Leandro Romagnoli, 36, que faz sua última temporada no futebol. Quando estava doente e internado no Hospital Garraham, em Buenos Aires, o meia o visitou e lhe deu uma camisa de presente. Está enquadrada e pendurada no quarto de Elías. Ele não deixa ninguém tocá-la.
“O choro [na assinatura do contrato] foi por tudo o que aconteceu. Foi uma grande vitória. Fiquei emocionado também pelos meus pais, que enfrentaram tudo comigo.” CAXUMBA Com o passar dos dias, ele foi se sentindo cada vez pior, mais fraco e sem disposição. Desconfiada, a mãe o levou de novo ao hospital e pediu exames mais detalhados. A coleta de sangue revelou a leucemia.
Ao ouvir a notícia, a primeira coisa que ele perguntou aos pais foi se conseguiria voltar a jogar futebol. A preocupação deles era que o filho sobrevivesse.
“Nunca passou pela minha cabeça a possibilidade de morrer porque a única coisa que pensava era em voltar a jogar. Eu não tinha tempo para outra coisa”, afirma.
Campeão da Libertadores de 2014 e clube que tem como torcedor mais ilustre o papa Francisco, o San Lorenzo ajudou no tratamento do garoto. Fez partida para arrecadar fundos para a família. Ajudou a pagar as idas e vindas para o hospital.
Elías acredita que o futebol ajudou a mantê-lo com pensamentos positivos. Não só durante o tratamento da leucemia, mas em em outras situações que teve na vida.
Os pais foram viciados em drogas e se curaram ao se tornarem evangélicos. Uma irmã foi presa quando ele tinha