Folha de S.Paulo

Peça de David Mamet satiriza bastidores da indústria do cinema

CiaTeatro Epigenia finaliza sua trilogia de espetáculo­s do dramaturgo americano com versão de ‘Hollywood’

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

Grupo ainda reencena, no Sesc Pinheiros, as duas primeiras montagens do projeto: ‘Oleanna’ e ‘Race’

Conhecido por seu tom provocador, o americano David Mamet buscou em seu próprio meio, a indústria de entretenim­ento dos EUA, um reflexo da ganância humana.

O dramaturgo resumiu tudo em três figuras dos bastidores da produção cinematogr­áfica: dois sócios que tentam sucesso com um novo roteiro e uma secretária que muda o rumo das negociaçõe­s.

Uma montagem “Hollywood”, como a peça foi traduzida aqui, estreia nesta quintafeir­a (11) em São Paulo, após uma temporada no Rio. Trata-se da última parta de uma trilogia da CiaTeatro Epigenia com peças de Mamet.

Após “Hollywood”, o grupo reapresent­a, também no Sesc Pinheiros, as duas primeiras peças do projeto: “Oleanna” (15 a 17/2), sobre um professor acusado de assédio por uma aluna, e “Race” (22 a 24/2), em que um homem branco e rico é denunciado pelo estupro de uma garota negra —em nenhuma das tramas, porém, tem-se certeza do que realmente aconteceu.

Autor prolífico e vencedor de um Prêmio Pulitzer (em 1984 por “O Sucesso a Qualquer Preço”), Mamet transita pelos temas de forma leve e muitas vezes cômica.

Para a nova montagem, o diretor Gustavo Paso criou um escritório em obras, “uma brincadeir­a do primeiro dia deles após a promoção, num prédio novo. Mas as coisas ainda não estão prontas”, diz.

É ali que Tony Muller (Rubens Caribé) e o jovem Daniel Fox (Iuri Saraiva), tipos vigaristas e com um tom de gângsters, discutem um roteiro cabuloso para um filme de ação, algo que acreditam ser sucesso garantido.

Mas a secretária de Tony (papel de Luciana Fávero) acaba persuadind­o a dupla a adaptar um livro, uma obra muito menos comercial e de cunho social e humanista. ARAR O título original do espetáculo, “Speed-the-Plow”, faz tanto uma referência religiosa quanto de êxito no trabalho. O termo bíblico, comumente usado na Idade Média, pode ser traduzido como “acelerar o arado”, mas ganhou conotação de bom presságio, de quando se deseja ao outro prosperida­de e sucesso.

Numa entrevista ao “Chicago Tribune” em 1989, Mamet explicou que tentara vários nomes para a peça, mas só encontrou um ao ver gravada numa série de louças antigas a frase “Industry produceth wealth, God speed the plow” (a indústria produz riqueza, que Deus acelere o arado, em um inglês arcaico).

“‘Speed-the-Plow’ era perfeito porque não só significav­a trabalho mas ainda sugeria ter que enterrar algo e começar de novo”, disse ao jornal.

Para Paso, ainda que tenha sido escrita há 30 anos, a peça ecoa muitas questões contemporâ­neas, como o debate da arte em contrapont­o com o sucesso comercial e o assédio e o sexismo existentes dentro do meio artístico. QUANDO qui. a sáb., às 20h30; “Hollywood”: de 11/1 a 10/2; “Oleanna”: de 15 a 17/2; “Race”: de 22 a 24/2 ONDE Sesc Pinheiros - auditório 3º andar, r. Paes Leme, 195, tel. (11) 3095-9400 QUANTO R$ 7,50 a R$ 25 CLASSIFICA­ÇÃO 14 anos (“Hollywood”) e 16 anos (“Race” e “Oleanna”)

 ??  ??
 ?? Lenise Pinheiro/Folhapress ?? Iuri Saraiva (à esq.) e Rubens Caribé durante ensaio de ‘Hollywood’ no Sesc Pinheiros
Lenise Pinheiro/Folhapress Iuri Saraiva (à esq.) e Rubens Caribé durante ensaio de ‘Hollywood’ no Sesc Pinheiros

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil