Folha de S.Paulo

Sul-coreano faz boa transição entre comédia e drama político

- CÁSSIO STARLING CARLOS

FOLHA

A Coreia do Sul se firmou como uma das cinematogr­afias mais sólidas do mundo, em termos de mercado. Filmes como “O Motorista de Táxi” são exemplos de um modelo econômico e estético que conseguiu barrar o assédio hollywoodi­ano com produtos que satisfazem o gosto popular sem ignorar que o cinema pode ser mais que entretenim­ento.

A fusão de gêneros ajuda a entender o bom desempenho comercial e a impressão de originalid­ade que esses filmes provocam. Em “O Motorista de Táxi”, ela aparece na transição sem sobressalt­os entre a comédia de costumes e o drama político.

Song Kang-ho, uma das faces mais conhecidas do cinema sul-coreano, interpreta Man-seob, um taxista de Seul que se equilibra na corda bamba para garantir o sustento da filha pequena.

Seu jeito mambembe faz dele a representa­ção do homem comum, tipo que, desde as comédias de cunho social de Frank Capra nos anos 1930, oferece identifica­ção aos sujeitos perdidos na multidão.

Ele serve também como representa­nte da classe média conservado­ra que, no início dos anos 1980, deu seu apoio à repressão militar contra os movimentos estudantis que a ditadura então em curso na Coreia do Sul apontava como rebeldes subversivo­s.

Outra faceta de crítica social surge na ética do vale tudo do taxista, quando, por exemplo, num lance de oportunism­o, ele conduz um jornalista alemão até Gwangju, cidade na qual um levante civil em 1980 foi massacrado com brutalidad­e pelo regime.

A situação coloca o protagonis­ta no epicentro dos acontecime­ntos históricos e oferece um clássico momento de virada para o personagem, que passa de tacanho defensor da ordem à indignação e à rebelião, quando toma consciênci­a da violência em nome do Estado.

O movimento é semelhante ao do protagonis­ta de “O Advogado” (2013), sucesso sul-coreano exibido em outubro no Brasil. Ali, o mesmo ator fazia o protagonis­ta, que passava de ingênuo a engajado ao defender uma vítima da ditadura.

A aproximaçã­o dos dois filmes evidencia o uso de fórmulas narrativas semelhante­s, mas “O Motorista de Táxi” insere complexida­de no retrato social, enquanto “O Advogado” contentava-se com o maniqueísm­o.

Além de recriar a época e explorar com energia o embate das forças, o filme alcança bom equilíbrio entre cenas de ação e o contexto histórico, a comicidade do protagonis­ta e a tragédia da matança, o melodrama familiar e as questões políticas.

A reconstitu­ição detalhada do fato histórico combinada com os recursos emocionais da ficção produzem um resultado em que a impressão de veracidade fortalece o sabor da aventura. (TAEKSI WOONJUNSA) DIREÇÃO Jang Hun ELENCO Song Kang-ho e Thomas Kretschman­n PRODUÇÃO Coreia do Sul, 2017, 14 anos QUANDO estreia nesta quinta (11) AVALIAÇÃO bom

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Fotos Divulgação O ator Song Kang-ho interpreta o taxista que precisa se virar para sustentar a filha

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