Momentos dramáticos dão base a filme sobre vingança de pai
FOLHA
Em “O Estrangeiro”, Ngoc Minh Quan (Jackie Chan) é o pequeno comerciante chinês, naturalizado britânico, que vê sua filha morrer por causa de um atentado terrorista a uma agência bancária. A partir desse acontecimento, em seu horizonte só existe a possibilidade de vingança.
Resumindo assim, parece um daqueles filmes de ação corriqueiros, que foram feitos aos montes após o sucesso de Charles Bronson com a série de longas “Desejo de Matar”. Na melhor das hipóteses, parece um daqueles veículos para Liam Neeson (como “Busca Implacável”, que, aliás, é um bom filme). Há muito mais, felizmente.
Uma nova facção do IRA reivindica a autoria do atentado, o que complica as coisas para o lado de Liam Hennessy (Pierce Brosnan), político irlandês sediado em Belfast, antigo membro do IRA empenhado em manter a paz de quase duas décadas entre Belfast e os britânicos.
Como Quan precisa desesperadamente de nomes para concretizar sua vingança, não demorará para que encontre Liam. Este, inicialmente, se nega a ajudar, talvez por subestimar o poder de persuasão de Quan, um ex-agente secreto. Inicia-se, assim, um jogo entre gato e rato dos mais interessantes.
O roteiro de David Marconi, baseado em livro de Stephen Leather, costura muito bem as intrigas pessoais e políticas que envolvem Liam Hennessy e sua família. Liam, ao contrário de Quan, tem muito o que perder, e essa será sua maior fraqueza.
Sim, estamos num daqueles filmes em que é difícil entender quem presta na história. Mas essa incerteza é movida por tramoias de adultos, dos mais diversos níveis. Quem se mostrava de um jeito pode ser revelado de outro no minuto seguinte, em reviravoltas estrategicamente bem colocadas na trama.
Martin Campbell, o diretor, não é nada brilhante. Mesmo assim, é dos mais competentes em atividade no cinema de ação americano (para pensarmos quão baixo está o nível). Sabe o que fazer com uma câmera (o que é mais do que 99% dos diretores contemporâneos), e com isso valoriza o trabalho dos atores.
Aqui, graças a uma trama sólida e aos aspectos de direção destacados, consegue alcançar o nível de seus melhores filmes: “A Máscara do Zorro” (1998) e “007 - Cassino Royale” (2006).
As cenas de ação, felizmente não muito numerosas, são o esculacho que nos habituamos a ver desde que praticamente se aboliu a coreografia em nome da câmera participativa. Mas são compensadas por uma mão muito segura nos momentos dramáticos, que funcionam como a base do filme.
No mínimo, o espectador pode se deliciar com um belo duelo entre Pierce Brosnan e Jackie Chan, além da performance misteriosa e sensual de Orla Brady, como Mary, a mulher de Liam Hennessy. THE FOREIGNER DIREÇÃO Martin Campbell PRODUÇÃO Inglaterra/China/ EUA, 2017; 14 anos ONDE estreia nesta quinta (11) AVALIAÇÃO muito bom