O que preocupa Bolsonaro
BRASÍLIA - “Como eu estava solteiro naquela época, esse dinheiro de auxílio-moradia eu usava pra comer gente, tá satisfeita agora ou não? Você tá satisfeita agora?”.
As palavras são de Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência. Ele respondia a uma repórter da Folha que o questionou, de forma educada,sobreousodeverbasdaCâmara.
Não foi a única grosseria da entrevista, concedida na quinta-feira. Em outros momentos, o deputado usou palavrõesapósouvirperguntassobre a sua evolução patrimonial.
“Porra,vocêestáenchendoosaco, porra”, disse. “Vocês fizeram uma bombademerda”,acrescentou.“Sai fora que vocês não vão ter resposta nenhuma”, concluiu.
Nosúltimosdias,osrepórteresCamila Mattoso, Italo Nogueira e Ranier Bragon mostraram como a família Bolsonaro multiplicou os bens na política —o capitão tem dois filhos deputados e um vereador.
O jornal também revelou que o chefe do clã nunca abriu mão do auxílio-moradia, apesar de ter apartamentopróprioemBrasília.Eleainda deu um cargo de assessora à mulher de seu caseiro em Angra dos Reis.
As reportagens mostraram que Bolsonaro segue o figurino padrão no Congresso: enriqueceu na política e aprendeu os truques para ampliar as vantagens de parlamentar. Isso explica o descontrole do deputado ao se ver sob escrutínio.
Embora esteja no sétimo mandato, o capitão sustenta seu marketing na ideia de que é diferente dos outros políticos. Ele se apresenta como um campeão da ética, imune aos escândalos que atingem os colegas. “Sou o diferente, sou o intruso do poder”, repetiu, em vídeo divulgado na quarta-feira.
Esse discurso tem atraído eleitores que podem não concordar com sua pregação radical, mas veem nele uma alternativa à sujeira dos grandespartidos.Seficarclaroquea propaganda era enganosa, a imagem do “Bolsomito” corre o risco de derreter antes do previsto.