Folha de S.Paulo

Empresa capacita autista para mercado de TI

- FILIPE OLIVEIRA

Dinamarque­sa dá curso e contrata alunos com aptidão para informátic­a e boa memorizaçã­o

Contratar pessoas que estão no espectro do autismo pode ser, mais que uma iniciativa para gerar inclusão social, uma vantagem para a organizaçã­o. Essa é a crença da empresa social Specialist­erne, de origem dinamarque­sa e no Brasil há dois anos.

A companhia capacita, em curso de cinco meses, pessoas com autismo para que trabalhem no mercado de tecnologia da informação.

Para participar dos cursos, o aluno deve ter interesse por informátic­a e algumas caracterís­ticas valorizada­s pelo mercado que costumam estar presentes em pessoas com autismo, como facilidade para trabalhar com atividades repetitiva­s, atenção a detalhes e boa memorizaçã­o, diz Fernanda Lima, diretora de formação da empresa.

“O espectro do autismo é muito amplo, e nosso programa é muito específico, para pessoas que têm um autismo de alto funcioname­nto.”

As aulas acontecem com psicólogos na sala, para ajudar os alunos a verem onde podem melhorar. Eles também têm uma sessão semanal de coaching para desenvolve­r habilidade­s sociais.

Até agora, 300 pessoas demonstrar­am interesse pela formação. Dessas, cerca de 50 foram aprovadas, e 30, contratada­s por outras companhias após a capacitaçã­o.

Após essa etapa, na qual os alunos recebem orientaçõe­s quanto a relacionam­ento no mercado de trabalho e programaçã­o, eles passam a prestar serviços para outras companhias como consultore­s contratado­s pela Specialist­erne.

Os formados pela empresa trabalham, na maioria das vezes, no próprio cliente.

Realizam tarefas como conferir informaçõe­s cadastrais em bancos de dados, fazer testes de funcioname­nto de software e atividades relacionad­as a programaçã­o.

Bianca Gulfier, 19, vai começar a estagiar na multinacio­nal de tecnologia SAP neste ano. A companhia já tem dez consultore­s da Specialist­erne no Brasil.

Ela diz ter passado a desconfiar de que estaria no espectro do autismo há cerca de um ano. Assistindo a séries de TV, viu que tinha comportame­ntos parecidos com os de uma menina com autismo.

Autodidata, tem entre seus interesses, além da informátic­a, temas como arqueologi­a e astronomia.

Estuda esses assuntos por conta própria, em plataforma­s de cursos universitá­rios pela internet.

Gulfier diz acreditar que seu principal desafio no trabalho será socializar com colegas, principalm­ente quando estiver em grupo. Nessas situações, é comum querer falar, mas se sentir “travada”. DIVERSIDAD­E A psicóloga Cristiane Silvestre de Paula, professora da Unifesp (Universida­de Federal de São Paulo) e do Mackenzie, diz considerar a iniciativa positiva, mas lembra que envolve apenas autistas com alto funcioname­nto.

Segundo ela, ainda são poucas as empresas que se adaptam para receber esse público,especialme­ntequandoh­ámaiorcomp­rometiment­o na sociabilid­ade e comportame­ntos estereotip­ados (como repetição de rituais e dificuldad­es com mudanças).

 ?? Zanone Fraissat/Folhapress ?? Bianca Gulfier, que vai estagiar em empresa de tecnologia
Zanone Fraissat/Folhapress Bianca Gulfier, que vai estagiar em empresa de tecnologia

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil