Empresa capacita autista para mercado de TI
Dinamarquesa dá curso e contrata alunos com aptidão para informática e boa memorização
Contratar pessoas que estão no espectro do autismo pode ser, mais que uma iniciativa para gerar inclusão social, uma vantagem para a organização. Essa é a crença da empresa social Specialisterne, de origem dinamarquesa e no Brasil há dois anos.
A companhia capacita, em curso de cinco meses, pessoas com autismo para que trabalhem no mercado de tecnologia da informação.
Para participar dos cursos, o aluno deve ter interesse por informática e algumas características valorizadas pelo mercado que costumam estar presentes em pessoas com autismo, como facilidade para trabalhar com atividades repetitivas, atenção a detalhes e boa memorização, diz Fernanda Lima, diretora de formação da empresa.
“O espectro do autismo é muito amplo, e nosso programa é muito específico, para pessoas que têm um autismo de alto funcionamento.”
As aulas acontecem com psicólogos na sala, para ajudar os alunos a verem onde podem melhorar. Eles também têm uma sessão semanal de coaching para desenvolver habilidades sociais.
Até agora, 300 pessoas demonstraram interesse pela formação. Dessas, cerca de 50 foram aprovadas, e 30, contratadas por outras companhias após a capacitação.
Após essa etapa, na qual os alunos recebem orientações quanto a relacionamento no mercado de trabalho e programação, eles passam a prestar serviços para outras companhias como consultores contratados pela Specialisterne.
Os formados pela empresa trabalham, na maioria das vezes, no próprio cliente.
Realizam tarefas como conferir informações cadastrais em bancos de dados, fazer testes de funcionamento de software e atividades relacionadas a programação.
Bianca Gulfier, 19, vai começar a estagiar na multinacional de tecnologia SAP neste ano. A companhia já tem dez consultores da Specialisterne no Brasil.
Ela diz ter passado a desconfiar de que estaria no espectro do autismo há cerca de um ano. Assistindo a séries de TV, viu que tinha comportamentos parecidos com os de uma menina com autismo.
Autodidata, tem entre seus interesses, além da informática, temas como arqueologia e astronomia.
Estuda esses assuntos por conta própria, em plataformas de cursos universitários pela internet.
Gulfier diz acreditar que seu principal desafio no trabalho será socializar com colegas, principalmente quando estiver em grupo. Nessas situações, é comum querer falar, mas se sentir “travada”. DIVERSIDADE A psicóloga Cristiane Silvestre de Paula, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Mackenzie, diz considerar a iniciativa positiva, mas lembra que envolve apenas autistas com alto funcionamento.
Segundo ela, ainda são poucas as empresas que se adaptam para receber esse público,especialmentequandohámaiorcomprometimento na sociabilidade e comportamentos estereotipados (como repetição de rituais e dificuldades com mudanças).