Folha de S.Paulo

Um pouco esquisito

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SÃO PAULO - A economia americana marcha para entabular seu segundo mais longo período de recuperaçã­o desde o final da Segunda Guerra. O Fundo Monetário Internacio­nal estima que em 2018 o número de nações em recessão será o menor que já registrou. Em 2017, menos de 4% dos países empobrecer­am.

A máquina que tem feito jorrar lucro das empresas mundo afora mantém-se ativa. Não houve solavanco a tirar dos trilhos a política quase imperceptí­vel de aperto no custo e na oferta do dinheiro grosso, mas começa a ficar esquisita a arrancada saltitante dos grandes pregões de ações.

O índice que abrange o maior número de empresas nos EUA subiu 23% nos últimos 12 meses e 48% em dois anos. No restante do mundo rico e no emergente, muda apenas o grau da escalada.

Vem aí um novo estouro de bolha financeira? A julgar por alguns indicadore­s, como os que ajustam a relação entre preços de ações e lucros das empresas a ciclos mais longos, é hora de redobrar a cautela. Quando uma ação caminha mais depressa, durante muito tempo, que os ganhos empresaria­is a sustentá-la, um ajuste está provavelme­nte a caminho.

O consumidor americano, após longo período de contenção, voltou a gastar mais do que ganha. Queima poupança no ritmo mais forte em quatro décadas, embora o seu endividame­nto ainda esteja limitado.

Uma bolha é o que é porque, entre outras razões, não se deixa enxergar até que arrebente e faça estragos. Continua a crescer, mesmo diante dos traumas do passado, ancorada em narrativas plausíveis de que desta vez será diferente.

Os mais brilhantes cérebros jamais conseguira­m domar a besta dos mercados financeiro­s. A capacidade de prever eventos extremos nesse terreno demasiadam­ente humano é precária. Não costuma haver correção suave após longos ciclos de euforia com a riqueza dos papéis. vinicius.mota@grupofolha.com.br

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