Folha de S.Paulo

Ciro Gomes é maluco?

- CELSO ROCHA DE BARROS

CERTO, DEPOIS da entrevista de Jair Bolsonaro para a Folha na quinta passada, o sarrafo para se dizer que alguém falou besteira em entrevista subiu. Mas, enfim, pelo padrão vigente até quarta-feira, Ciro Gomes fala muita besteira em entrevista.

Tem alguma coisa que não funciona na cabeça de Ciro e o faz, uma ou duas vezes por ano, perder 50 pontos de QI bem na hora em que devia estar explicando para o grande público por que votar nele seria uma boa ideia. Ou é isso ou Ciro tem um gêmeo burro que de vez em quando pula na frente dos microfones e fala besteira sobre o papel que sua mulher vai ter no seu governo, ou sobre dar tiro nos outros. Se for a segunda explicação, não vai ter jeito, o PDT vai ter que mandar matar esse cara.

Falando em PDT: depois que saiu do PSDB, Ciro fez uma grande peregrinaç­ão por pequenas legendas de esquerda, em geral ajudando-as a tornarem-se menos pequenas enquanto o abrigaram. Agora está no PDT, que parece finalmente disposto a deixar de ser só o partido do Brizola, posição difícil de manter depois que Brizola, enfim, morreu.

Para se consolidar como opção de esquerda, Ciro tem adotado um discurso bem mais à esquerda do que seria normal para alguém com sua trajetória.

Talvez dê certo. A viabilidad­e eleitoral de Ciro só vai começar a ser medida quando Lula for impedido de concorrer pela Justiça. O discurso à esquerda de Ciro procura atrair os lulistas que ficarão sem candidato.

Com isso, à persona de maluco, Ciro soma um discurso econômico que, a esta altura do campeonato, não me parece particular­mente são. Pelo amor de Deus, não deixem o gêmeo doido chegar perto do Ministério da Fazenda.

Mas eu tenho o direito de lamentar que a candidatur­a de Ciro não reflita melhor sua história. Porque a história de Ciro não é de maluco, não.

Ciro foi o primeiro governador eleito pelo PSDB, o único eleito antes do Plano Real. Na maioria das avaliações, foi um bom governador. Participav­a do grupo de Tasso Jereissati, cujo legado no Ceará foi, no geral, positivo. Foi ministro durante o Plano Real, e foi um ministro razoável. Fez uma grande abertura comercial, aliás. FHC o cogitou para ministro da Saúde, Lula lhe deu ministério­s importante­s, e em nenhum momento, no exercício desses cargos, Ciro saiu correndo pelado pelo ministério.

Além disso, seu irmão e aliado, Cid Gomes, teve um desempenho muito bom como prefeito de Sobral (CE); eu, particular­mente, não voto em ninguém neste ano que não prometa estender a experiênci­a educaciona­l de Sobral para o resto do Brasil. Dilma colocou Cid como ministro da Educação. Eduardo Cunha o tirou do cargo.

Fica, portanto, a questão, que, aliás, já coloquei aqui para Lula: se eu votar em Ciro, estou votando no tucano de esquerda que foi bom ministro de Lula ou no maluco que diz que vai reverter imediatame­nte todas as reformas de Temer? Porque essa última ideia é tão ruim que, se Bolsonaro a propusesse, pareceria idiota mesmo se comparada às outras ideias de Bolsonaro.

Se Ciro conseguir renovar o programa do PDT com sua experiênci­a de ex-tucano e ex-lulista, a política brasileira sairá melhor, mesmo se Ciro perder. Mas, se for só para repetir o discurso da esquerda dos anos 50, estarei entre os que lamentarão o desperdíci­o de candidato.

Se Ciro renovar o programa do PDT com sua experiênci­a de ex-tucano e ex-lulista, a política sairá melhor

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