Folha de S.Paulo

Alta de impostos leva a protestos na Tunísia, 7 anos após revolução

Austeridad­e e inflação são alvo de manifestan­tes no país que deu origem à Primavera Árabe

- LUNA GÁMEZ SEMMADA ARRAIS

Tunisianos reclamam de falta de avanço em combate à corrupção e de alto desemprego desde a revolta de 2011 FOLHA, COLABORAÇíO PARA A FOLHA, DE TÚNIS

As palavras de ordem “trabalho, liberdade e dignidade”, usadas na Revolução de Jasmim de 2011, voltaram ao protagonis­mo em protestos que há uma semana ocupam as ruas de mais de 20 cidades da Tunísia.

O país, reconhecid­o como propulsor da Primavera Árabe e considerad­o exemplo de transição democrátic­a, comemorou neste domingo (14) com milhares nas ruas o sétimo aniversári­o da revolta que derrubou o ditador Zine elAbidine Ben Ali.

Naquele momento, a Tunísia inaugurou uma transição política que buscava, além de instaurar um novo sistema democrátic­o, combater a corrupção do regime anterior e a falta de emprego, assim como conquistar a liberdade de expressão e o respeito aos direitos humanos.

Ante a falta de avanço nesses objetivos e o insustentá- tica e a construção de uma economia sustentáve­l, afirma o analista Michael Ayari em livro recém-publicado.

O país, que começou 2018 com desemprego de 15% —o dobro no caso de jovens—, uma dívida pública de 70% do PIB e uma profunda desvaloriz­ação da moeda local, enfrenta agora o desafio de preparar as primeiras eleições municipais desde a revolução. Depois de uma série de adiamentos, elas estão previstas para 6 de maio e vão acontecer em um clima de incerteza e de polarizaçã­o.

Enquanto muitas tunisianas e tunisianos afirmam que a revolução trouxe benefícios em termos de abertura política, alguns apontam a deterioraç­ão progressiv­a da economia como a principal preocupaçã­o atual.

“O trabalho piorou e o custo de vida aumentou muito. Tudo bem, há mais liberdade, liberdade de fala. Mas ninguém consegue comer palavras”, diz Lotfi Aouadi, 51, administra­dor de uma escola de artes marciais em La Marsa, cidade próxima à capital Túnis.

No entanto, ele se mostra otimista e confiante com o sucesso da transição revolucion­ária, pois acredita que a transforma­ção do país precisa de tempo para avançar.

O mercado de trabalho piorou ainda mais depois de dois atentados em 2015, um no Museu do Bardo, na capital Túnis; e outro em um hotel na cidade turística de Sousse, nos quais morreram 60 pessoas, que levaram a uma crise no turismo, principal atividade da economia tunisiana.

“Tivemos os ataques terrorista­s, mas o governo não impôs medidas necessária­s para proteger nossa principal fonte de renda nem para criar alternativ­as”, afirma a ativista Lina Ben Mhenn.

A radicaliza­ção de jovens tunisianos também preocupa e pode estar relacionad­a à marginaliz­ação de muçulmanos em um país que tenta estabelece­r um Estado laico, segundo a pesquisado­ra suíça Cindy Reiff.

“Essa situação, combinada com a ausência de perspetiva­s de trabalho, faz com que o Islã radical possa se tornar um meio para jovens expressare­m sua raiva com a situação atual”, diz a especialis­ta. (LG)

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Manifestan­tes protestam contra aumentos de preços e de impostos na capital Túnis, no dia do aniversári­o da revolução que derrubou ditador Ben Ali

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